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10 filmes LGBTs dessa década para amarmos com todas as cores

De "Uma Mulher Fantástica" a "Princesa Cyd", 10 nomes modernos para entender as discussões do cinema LGBT

Nós podemos dizer que estamos vivendo tempos difíceis. Em meio ao tsunami de conservadorismo que vem assolando esse planetinha azul, com Donalds Trump excluindo direitos LGBTs de um lado e juízes federais heterossexuais brasileiros dando sinal verde à chamada “cura gay”, ainda há motivos para mantermos a fé em meio a tanto caos. A preocupação progressistas sobre os direitos da população lésbica, gay, bissexual e transsexual está cada vez mais presente entre os debates sociais e, consequentemente, no cinema, arte primordial no reflexo da vida.

Um exemplo claro é o número de filmes com temática LGBT a serem lançados ano após ano, num montante cada vez maior. Mas o que isso muda na nossa vida?, você pode está se perguntando. É uma clara amostra da preocupação de cineastas com a representação da vida dessa parcela no cinema. Não se engane: um filme não é mero entretenimento de uma hora e meia, que, ao acabar, desaparece na tela. Cinema é fomentador de ideologias, ideias, conceitos e gostos, com o cinema LGBT ajudando a naturalizar socialmente essa camada ainda tão marginalizada.

Venho por meio deste dar 10 exemplos contemporâneos que, além de ilustrarem belamente a vida e a existência dessa população, são ótimos nomes para entendermos como o cinema LGBT vem sendo construído nessa década. Essa não é uma lista dos melhores filmes LGBTs lançados até agora – ela é ordenada de forma alfabética -, e sim longas importantes para a compreensão das construções na Sétima Arte acerca do tema, de nomes óbvios, conhecidos e premiados até os mais anônimos – e que merecem todo o reconhecimento.

Todos os 10 filmes que indicamos aqui vocês podem assistir no site: http://filmesgays.net

120 Batimentos Por Minuto (2017)

Qual letra aborda? LGBT.

Do que se trata? Na França dos anos 1990, em pleno boom da AIDS, o grupo ativista Act Up intensifica seus esforços para que a sociedade reconheça a importância da prevenção e do tratamento da doença.

Por que é bom? O filme é o que há de mais militante no exercício cinematográfico. Seguindo a rotina de vários membros do grupo, vemos forças pioneiras da destabulização, conscientização e fortalecimento contra o HIV. Cheio de vida e esperança, a obra pode – e vai – muitas vezes derrubar a plateia, mas é um ótimo exemplo de orgulho e de como até hoje ainda precisamos de filmes como esse.

Amores Imaginários (2010)

Qual letra aborda? GB.
 
Do que se trata? Francis e Marie são amigos inseparáveis que veem suas vidas mudarem ao conhecerem Nicolas, um charmoso rapaz que acaba conquistando o coração de ambos, e o que era uma amizade passa a ser uma grande disputa.
Por que é bom? Jogando de maneira até hilária com o rumo de seus personagens, perdidos numa teia para conquistar o coração do crush, o longa trata a sexualidade de todos da forma mais natural possível, com pontadas de ironia ao ter um homem e uma mulher jogando fora a amizade graças ao mesmo amor. A sagacidade de “Amores Imaginários” é amplificado pelo apuro estético da fita, bem camp e exagerado – assim como seu diretor/protagonista, Xavier Dolan.

Azul é a Cor Mais Quente (2013)

Qual letra aborda? LB.
 
Do que se trata? Adèle é uma adolescente que enfrenta os desafios da chegada da maturidade. Sua vida toma um rumo inesperado ao conhecer uma encantadora garota de cabelo azul, com quem começará uma intensa relação e uma viagem de descobertas e prazer.
Por que é bom? Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, “Azul” causou frisson logo no seu lançamento pelas (longas) cenas de sexo quase explícitas entre as protagonistas. Porém o filme é muito mais sua polêmica, é uma viagem aos cantos mais íntimos de uma relação, colocando o público como parceiros daquele bonde amoroso e da descoberta da própria sexualidade.

Carol (2014)

Qual letra aborda? LB.
 
Do que se trata? Therese tem um emprego entediante em uma loja de departamentos. Um dia, ela conhece Carol, uma elegante e misteriosa cliente. Rapidamente, as duas mulheres desenvolvem um vínculo amoroso que terá consequências sérias.
Por que é bom? Voltando para a América dos anos 50, “Carol” é uma elegante e apaixonante composição de duas mulheres que devem enfrentar os percalços sociais e judiciais para poderem ficar juntas. Com atuações poderosas de Cate Blanchett e Rooney Mara, somos postos de um modo diferente aqui: vislumbramos o florescer desse amor à distância, por trás de vidros, espiando por frestas, e vemos como uma pessoa pode mudar nossas vidas para sempre.

Me Chame Pelo Seu Nome (2017)

Qual letra aborda? GB.
 
Do que se trata? O jovem Elio está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda com a chegada de Oliver, um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai.
Por que é bom? Mais uma ida ao passado, dessa vez à Itália da década de 80, “Me Chame” é um dos mais amados filmes LGBTs da década e, mesmo não sendo tão absurdamente incrível assim, é uma corretíssima representação do amor gay. A paixão de verão de Elio, fadada ao fracasso de forma tão certa quanto o fim do próprio verão, é carregada nas costas de Timothée Chalamet, em estrelar atuação, que exala uma química assustadora com Armie Hammer, entregando cenas onde ambos se devoram como poucas vezes feitas.

Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)

Qual letra aborda? GB.
 
Do que se trata? Chiron trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso.
Por que é bom? Se há um filme gay definitivo nessa década, esse filme é “Moonlight”. O primeiro vencedor LGBT do Oscar de “Melhor Filme” em toda a história retrata três fases da vida de seu protagonista e como o machismo e a homofobia ainda aprisionam. Tocante, melancólico e socialmente urgente, “Moonlight” merece ficar onde está: entre os melhores filmes já feitos pela Sétima Arte. E você nem precisa ser gay, negro ou periférico para se devastar com o filme. Mas, caso seja, essa será uma jornada para toda a vida. A sua e a de Chiron.

Os Iniciados (2017)

Qual letra aborda? G.
 
Do que se trata? Xolani, um operário solitário, viaja para as montanhas rurais com os homens de sua comunidade com intuito de atuar nos rituais de Ulwaluko, que consiste na circuncisão de adolescentes de origem Xhosa para que eles ingressem finalmente na vida adulta, tornando-se homens. Xolani assume a responsabilidade sobre um garoto da cidade que o pai teme ser homossexual e, quando o iniciante questionador descobre seu segredo mais bem guardado, o operário não tem mais paz.
Por que é bom? Pré-selecionado ao Oscar 2018 de Filme Estrangeiro (e deveria ter ficado entre os cinco finalistas), o filme nos leva até o interior da África para vermos como a homofobia faz parte dos rituais locais para a inicialização do ser homem. Culturalmente relevante, “Os Iniciados” vai a alguns extremos ao rasgar na tela a relação de dois homens presos pelo machismo e suas máscaras sociais.

Princesa Cyd (2017)

Qual letra aborda? LBT.
 
Do que se trata? Cyd, que perdeu a mãe precocemente, decide passar o verão na casa de sua tia Miranda, uma famosa escritora, para fugir do pai, que está depressivo. Lá, a jovem se envolve com uma vizinha de Miranda, Katie, barista no café local. Enquanto descobre sua relação com a garota, ela se aprofunda mundo mais consigo mesma ao fortalecer laços com a tia.
Por que é bom? A sinopse é absolutamente simples e talvez não gere grandes interesses, mas o sucesso de “Princessa Cyd” está exatamente aqui: sua simplicidade. O que à primeira vista soava como um filme lésbico de verão se revela uma obra sobre libertação de gênero e pansexualidade – Cyd, numa animada cena, se define com “eu gosto de tudo” depois de perguntada sobre sua orientação sexual, e Katie é muito mais complexa que uma garota tomboy – a personagem é interpretada por um ator trans. E nas idas e vindas das personagens, somos engolidos por uma delicadeza genial, num filme feel good para aquecer corações.

Tangerina (2015)

Qual letra aborda? T.
 
Do que se trata? Após descobrir que foi traída por seu namorado e cafetão enquanto estava na prisão, uma prostituta e sua melhor amiga saem em busca do traidor e sua nova amante para se vingar.
Por que é bom? A produção do filme por si só já vale a sessão: filmado inteiramente em celulares e com atrizes trans reais. A crueza de uma filmagem bem próxima do real é fundamental para a imersão em “Tangerina”, fita sobre as lutas e os sonhos de duas mulheres trans sufocadas à margem. A lição final é de que, independente de qualquer diferença, nós temos que ajudar uns aos outros para nos tornar mais forte.

Uma Mulher Fantástica (2017)

Qual letra aborda? T.

Do que se trata? Marina e Orlando, vinte anos mais velho do que ela, amam-se longe dos olhares e fazem projetos futuros. Quando ele morre repentinamente, Marina, mulher trans, é alvo da hostilidade dos familiares de Orlando: uma santa família que rejeita tudo o que Marina representa. Marina lutará com a mesma energia que dedica desde sempre para se tornar naquilo que é.

Por que é bom? Imagine você lutar diariamente para ter o direito de quem você é. A produção chilena faz o favor de dissecar essa tarefa no ecrã para termos uma leve ideia do quão difícil é a realidade transexual, quando todas as autoridades negam (e até pioram) sua situação. O primeiro filme na história do Oscar a vencer um prêmio encabeçado por uma atriz trans, o título de “Uma Mulher Fantástica” é um daqueles spoilers que não nos incomodamos em receber.

***

Quantos da lista você já conferiu – e quais os seus filmes LGBTs modernos do coração? Dicas, sugestões e maratonas como todos os citados são bem vindas – e tem muito mais vindo aí para amarmos com todas as cores.

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