Contos

Príncipe Impossível – Capítulo 14 – Justifica meu Amor

Era quinta feira de manhã. O que era para ser apenas uma visita de Gray se tornou quase uma estadia. Ele tinha chegado na terça feira com um jantar e no fim das contas nunca se foi. Claro que ele foi para o plantão no hospital. Os plantões dele não passavam de seis horas e em seguida ele voltava para o meu apartamento. Tinha prometido tirar o resto da semana de folga e eu realmente estava disposto a cumprir o que eu tinha dito, mas eu não aguentava mais ficar naquele apartamento.

O relógio na cabeceira da cama marcava pouco mais das oito horas da manhã. No quarto eu ouvia Gray no banho. Ele tinha trago consigo algumas coisas dele. Tinha algumas roupas dele no guarda roupas, a escova de dente dele estava no meu banheiro e em cima da mesa da sala tinha alguns livros de medicina. Gray tinha até uma cópia da chave.

Evitei as ligações de Morgan desde terça feira a noite porque eu não queria mentir para ela. Sentia que era errado, mas eu também não queria contar a verdade. Sabia que cedo ou tarde teria que encontrá-la e teria que mentir e não aguentava mais ficar no apartamento com Gray no meu pé. A companhia de Gray era ótima a não ser quando ele encarnava o Dr. Gray Kennedy Forbes e ficava me dando lição de moral dizendo que eu não devia ir trabalhar. Tentei na terça feira, mas ele não deixou e me fez um sermão.

Enquanto Gray tomava banho peguei uma muda de roupa e um calçado. Vesti rapidamente a roupa e calcei meu tênis em seguida peguei o meu celular liguei para Morgan que atendeu logo em seguida.

– a que devo a honra de sua ligação? – perguntou Morgan atendendo o telefone.

– oi Morgan. Senti sua falta.

– me poupe Griff! Você tem evitado minhas ligações. Eu te fiz alguma coisa?

– não Morgan é que eu queria ficar sozinho e agora estou me sentindo melhor.

– você não pode se fechar para as pessoas que querem te ajudar.

– eu não me fechei eu só queria um tempo para mim. Eu estava envergonhado e só queria um tempo para clarear a mente e agora eu estou bem.

– fico feliz que esteja bem.

– venha me buscar Morgan. Eu estou pronto para trabalhar.

– nem pensar. Gray vai me encher o saco.

– você me deve uma.

– eu sabia que uma hora ou outra você ia jogar toda essa situação com Hugo na minha cara.

– desculpa, mas eu tive que recorrer a isso. Se vier me buscar eu juro que nunca mais toco no assunto.

– OK. Eu chego ai em quinze.

– valeu Morgan – falei desligando o celular quando Gray saiu do quarto já vestido colocando a gravata.

– porque você está vestido? – perguntou ele dando o nó na gravata.

– eu vou para o trabalho.

– nós já passamos por isso ontem.

– eu sei, mas hoje eu vou. Já estou até pronto.

– você vai ter que ir a pé porque eu não vou te levar e a pelo o que fiquei sabendo você não tem dinheiro para o taxi.

– é sério? – perguntei questionando o humor negro de Gray.

– você sabe que estou brincando.

– eu sei, mas eu não estou. Eu vou para o trabalho hoje e não tem nada que me impressa.

– eu adoraria ficar aqui e discutir com você, mas eu estou atrasado para meu plantão.

– é bom você ir mesmo porque a Morgan chega em quinze minutos.

– você ligou para ela?

– liguei e ela chega em quinze então… tchau.

– tem certeza de que você está bem?

– eu estou Gray. Você ficou os dois últimos dias aqui e sabe que eu estou bem.

– eu sabia – falou Gray pegando a chave do carro – você não gostou da minha presença aqui.

– não é isso… é que está indo tudo muito rápido. Você está praticamente morando aqui.

– desculpa se é isso que parece pra você, mas é que eu sou médico. Esteja onde eu estiver eu preciso estar preparado caso eu seja chamado no hospital então sim. Eu trouxe algumas roupas, escova de dentes e alguns livros, mas eu não estou morando com você eu só estava garantindo que você estava bem.

– OK – falei abrindo a porta do apartamento para ele – fora porque a Morgan vai chegar em alguns minutos e ela vai ver seu carro no estacionamento.

– tudo bem – falou Gray caminhando até a porta, mas antes de sair ele se inclinou até mim e deu um beijo na minha boca. Um selinho. Em seguida ele abriu a carteira e tirou algumas notas e segurou na minha direção.
– O que é isso?

– Para você almoçar e tomar seu café expresso como todas as manhãs.
– Não precisa.

– Sim precisa – falou Gray ainda com o dinheiro na mão.
– OK – falei pegando o dinheiro – obrigado.

– Se você quiser eu não volto para cá hoje. Depois do meu plantão eu posso ir para minha casa.
– não… – falei pausando e me aproximando dele – pode vir pra cá – falei me aproximando um pouco mais dele e dando um beijo em sua boca.

– até mais tarde – falou Gray saindo do apartamento.
Quando Gray se foi eu me sentei no sofá e esperei que Morgan me ligasse dizendo que tinha chegado, mas isso não aconteceu. Esperei vinte minutos, mas nada. Quando eu peguei o celular para ligar para ela alguém bateu na minha porta.

Quando abriu a porta levei um susto era Morgan.
– desculpa a demora – falou Morgan entrando de uma vez.

– tudo bem – falei respirando fundo – vamos então?

– claro – falou Morgan olhando aleatoriamente para a mesa onde estava os livros de Gray – e esses livros? – perguntou Morgan.

Senti um frio na barriga e uma vontade de vomitar quando Morgan me perguntou aquilo.
– são… alguns livros que eu estou lendo para passar o tempo. Não estava mais aguentando ficar aqui nesse apartamento sozinho.

– OK – falou Morgan pegando um dos livros – Gray tem alguns livros desses. Ele sempre está lendo.
– pois é. Eu peguei esses livros na biblioteca pública.

– sério? – perguntou Morgan abrindo um dos livros – porque esse daqui está escrito pertence ao Dr. Gray Kennedy Forbes?

Eu respirei fundo e olhei para baixo sem saber o que dizer.
– o que está acontecendo Griffin? – perguntou ela colocando o livro na mesa – não minta para mim eu sou investigadora particular. Eu vou descobrir a verdade.

– OK – falei respirando fundo – me perdoa por não ter te contado Morgan.
– o que?

– eu devia ter te contado, mas eu não sabia como dizer.
– dizer o que? – perguntou Morgan.

– Eu tive outra reação alérgica ontem e eu liguei para Gray. Ele veio correndo para cá.
– é sério?
– sim.
– mas eu pensei que Eve e Kiff tinham limpado todo o apartamento.

– pois é, mas eles deixaram algumas cervejas na geladeira e eu tomei uma delas ontem. Elas estava lacradas então eu não pensei que Hugo tinha drogado elas. Engano meu – falei olhando para os livros – eu liguei para Gray porque comecei a me sentir mal e ele trouxe esses livros. Quando ele foi embora ele acabou esquecendo. Eu sei que devia ter te ligado e contado que aconteceu de novo, mas Gray chegou a tempo e me aplicou um antialérgico e a reação nem chegou a ser tão grave.

– não tem problema – falou Morgan me abraçando – que bom que você está bem.
– eu também estou feliz.
– vamos então?
– vamos – falei saindo do apartamento e trancando a porta.

Foi alívio quando saímos do apartamento porque lá estava cheio de coisas do Gray. Quando chegamos a Pegasus nós fizemos como todos os dias. Pegamos o nosso café. Talvez para Morgan fosse algo normal, mas para mim nunca mais será a mesma coisa pegar o café. Era como se toda vez que eu estivesse lá eu fosse sentir alguém esbarrando em mim.
Quando chegamos á Pegasus Holly veio correndo da sala de reuniões até mim.

– Griffin? está de volta? Pensei que fosse ficar de folga o resto da semana.

– Eu não ia aguentar ficar em casa até o resto da semana e voltar só na segunda.
– Gray vai te dar uma bronca quando ele chegar aqui.

– eu me viro com ele – falei indo até minha sala e Holly me acompanhou.

– eu preciso e contar uma coisa – falou Holly entrando comigo na sala e fechando a porta.
– o que foi?

– ontem chegou essa carta aqui no escritório – falou Holly abrindo ao gaveta da minha mesa e me mostrando uma carta com o carimbo da Penitenciária do Estado de Nebraska – quando fui pegar minhas cartas na recepção eu vi essa e pra ninguém ficar falando sobre isso eu coloquei ela aqui para você.

– Obri… obrigado Holly – falei pegando a carta e forçando um sorriso.

– por nada – falou Holly saindo da sala.

Eu me sentei na mesa e olhei a carta. Respirei fundo e decidi ler a droga da carta. Peguei o abridor de cartas e eu abrir eu percebi que a carta não tinha sido escrita por meu pai e sim pela própria prisão. Durante dez minutos eu fiquei sentado lá lendo cada palavra. Palavra por palavra. Depois de ler toda a carta eu a rasguei em duas e joguei dentro da lixeira e me sentei na minha cadeira e liguei o meu computador. Enquanto o computador ligava eu vi Kiff caminhar até a minha sala.

– posso entrar? – perguntou Kiff abrindo a porta.
– é claro Kiff.

Kiff fechou a porta da sala e se sentou na cadeira me frente a minha.
– eu tenho uma atualização sobre o seu pedido.

– que pedido? – perguntou olhando para ele.

– Rupert Rothlo. Você pediu que eu espionasse as ligações dele e eu disse que ele tem um encontro hoje a noite.
– é verdade. Eu tinha esquecido que é hoje – falei prestando atenção no que ele tinha a dizer – o que foi? Descobriu alguma coisa?

– sim. Ele cancelou o encontro hoje de manhã.

– que droga.

– calma – falou Kiff – nem tudo são péssimas noticias.

– tem alguma outra coisa?

– sim – falou Kiff – o motivo dele ter cancelado com o rapaz que ele encontraria na internet é que hoje é o aniversário do irmão. Parece que o irmão de Rupert viaja muito a negócios e ele vai estar na cidade.

– então Rupert desmarcou o encontro com o desconhecido da internet pra ficar com o irmão?

– exato – falou Kiff – eles marcaram um encontro no The Corner Blvd.

– aquele bar que fomos aquele dia?

– exato – falou Kiff – só que fique sabendo que nesse jantar estará presente Rupert, a esposa o irmão dele e a esposa do irmão então seja lá o que for fazer acho que essa não é a noite certa.

– mas tem que ser hoje. Eu preciso voltar ao trabalho e mesmo que esse seja um trabalho por fora eu preciso fazer isso.

– tem certeza? Será que o fato de você ter esquecido não é um aviso de que é uma má ideia?

– não. Pode deixar.

– eu não sei. Minha consciência ficará pesada se algo acontecer com você – falou Kiff se levantando.

– não se preocupe Kiff eu só vou ao restaurante para conversar com ele. Eu não vou lá prendê-lo ou encurralá-lo.
Não vou contar quem eu sou de verdade. Ele vai achar que me encontrou por acaso e eu vou conversar com ele. Só isso.

– me promete que não colocar a si mesmo em perigo?

– claro. Eu só vou lá conversar.

– tudo bem – falou Kiff saindo da sala.

Kiff estava certo. Talvez eu devesse deixar tudo isso de lado afinal se Rupert queria ser casado e trair a esposa com homens o problema é dele só que isso fugiu do controle quando Morgan mentiu para a esposa indo contra a ética.

Se a esposa descobre que Rupert a trai ela pode processar a empresa especialmente se descobrir que nós tínhamos provas e não entregamos a ela. Eu não podia fazer isso com Morgan. Eu já estava mentindo para ela sobre Gray não podia deixar que ela fosse processada por minha causa. Se isso se espalhasse nós perderíamos todos os clientes e não conseguiríamos novos então eu estava disposto a fazer isso. Durante a parte da manhã eu trabalhei em um caso do dia anterior. Eles tinham dado o trabalho para outra pessoa, mas como eu tinha voltado decidi assumir.

Como sempre as horas passaram rápido. Fiquei tão afundado no trabalho que mais uma vez esqueci de comer só que tinha alguém que não estava disposta a me deixar esquecer.

– Griffin vamos almoçar – falou Morgan abrindo a porta da minha sala.

– pode ir eu estou sem fome agora. Mais tarde eu vou.

– não. Vamos agora. Todos nós vamos – falou Morgan mostrando Kiff, Holly e Eve me esperando próximos do elevador.

– porque isso?

– você voltou ao trabalho e vamos comemorar.

– vocês comemoram tudo por aqui?

– é bom ir se acostumando – falou Morgan olhando para o relógio.

– só fiquei fora dois dias. Não é como se eu tivesse ficado em coma.

– mesmo assim.. Se levanta e vamos. – falou Morgan fechando a porta da sala e indo para o elevador.

Desliguei o meu computador e peguei meu celular para ir almoçar. Eu estava com fome de qualquer forma.

– onde vamos almoçar – perguntei entrando no elevador.

– no restaurante do outro lado da rua – falou Morgan sorrindo. Ela parecia realmente feliz por eu estar de volta.
– você está melhor? – perguntou Eve quando saímos do elevador e atravessamos o saguão até lá fora.
– estou ótimo.

– Morgan me disse que você passou mal outra vez.

– sim, mas não foi nada.

– Kiff e eu olhamos de cima em baixo. Jogamos todas as bebidas fora e até algumas comidas eu posso jurar que não vi cerveja na geladeira – falou Eve.

– estava nem no fundo bem escondidinho – falei mentindo – quase que eu não vi.

– entendi – falou Eve meio desconfiada, mas por enquanto ela parou de me encher o saco.

Nós atravessamos a rua e ao entrarmos no restaurante eu caminhei até uma mesa.
– onde você vai? – perguntou Morgan.

– pegar uma mesa.

– Gray já pegou uma – falou Morgan.

– olhei para o outro lado e vi Gray acenando sentado em uma mesa.

– Gray veio?

– claro que veio. Ele queria comemorar sua volta – falou Morgan quando nos aproximamos da mesa. Todos nós nos sentamos e eu evitei me sentar próximo ao Gray. Me sentei entre Holly e Eve. Nós pedimos algo para beber e fizemos nossas refeições e enquanto aguardávamos resolvemos jogar conversa fora.

– Griffin me contou que você o ajudou ontem quando ele passou mal – falou Morgan para Gray que olhou para mim sem saber o que dizer. Eu não pode fazer nem gostos porque tinha tanta gente na mesa. Espero que ele simplesmente confirme.

– pois é… – falou Gray pausando – ele me ligou e eu fui até o apartamento dele – falou Gray quase que parando com medo de dizer a coisa errada.

– pode contar a verdade Gray – falei olhando para ele – quando Morgan foi me buscar hoje ela viu os seus livros em cima da mesa da sala. Ela sabe que você foi lá me ajudar quando eu tive outra reação alérgica por beber a cerveja que estava na geladeira – falei disfarçando.

– entendi – falou Gray rindo – a propósito a ideia de esconder foi dele e não minha – falou Gray olhando para mim. Nós dois sabíamos que aquela conversa tinha duplo sentido. Depois que nós comemos Eve foi a primeira a voltar para a Pegasus.

– vamos indo? – perguntou Morgan se levantando.

– eu posso ficar mais um pouco? não se importa de ir sozinha?

– claro que não – falou Morgan – hoje é seu primeiro dia de volta deve ir devagar. Quando quiser pode voltar.

– obrigado.

– você não vai parar o hospital? – perguntou Morgan.

– não – falou Gray – meu plantão acabou por hoje.

– é bom saber disso porque eu vou precisar que fique com as crianças hoje.

– porque?

– porque eu tenho planos que não são da sua conta – falou Morgan.

– vai sair com o tal de Jake?

– eu já disse que não é da sua conta – falou ela rindo – além do mais não será a noite toda.

– não tem problema – falou Gray compreendido – eu os pego ás oito.

– combinado – falou Morgan se virando para sair do restaurante.

– nós vamos com você – falou Holly.

Morgan e foi e Kiff e Holly foram com ela. Só ficamos Gray e eu. Assim que eles se foram nós olhamos um para o outro e ficamos em silêncio por um tempo.

– então quer dizer que Morgan quase descobriu sobre nós?

– quase – falei enfatizando.

– porque não contou de uma vez? Seria tão mais fácil e descomplicado.

– não Gray. Eu não quero ter que ficar me explicando para as pessoas. Não quero ter que justificar meus motivos. Não agora.

– OK – falou Gray tomando um gole do refrigerante dele – vai ser uma pena ficar longe de você hoje.

– pois é né, mas seus filhos vem em primeiro lugar – eu fiquei feliz com aquela noticia porque eu poderia ir encontrar Rupert no restaurante sem ter que arranjar uma desculpa.

– não se preocupa – falou Gray segurando minha mão em cima da mesa – assim que Morgan chegar eu vou para o seu apartamento.

– você me liga?

– porque?

– porque se você chegar de fininho eu posso pensar que é Hugo que voltou pra pegar o resto das minhas coisas.

– OK – falou Gray rindo.

– é sério Gray. Só me liga quando você estiver indo pra mim saber que é você.

– tudo bem eu te ligo.

– obrigado – falei me levantando – vou voltar para a Pegasus. Você não vai embora?

– não – falou Gray – vou ficar até acabar o refrigerante e depois vou pra casa.

– tudo bem então.

– beijo – falou Gray dando um beijo no ar.

– beijo – falei me virando.

– manda beijo pra mim.

– o que? – perguntei olhando para ele.

– Eu disse ‘Beijo’ e mandei beijo pra você e você só disse ‘beijo’ de volta.

– é sério isso? Me fez voltar pra te mandar beijo?

– Eu menti por você. Eu mereço pelo menos uma despedida digna.

– beijo falei isso e em seguida mandando beijo para Gray.

– agora sim – falou Gray rindo.

– você é muito palhaço sabia?

– te vejo a noite – falou Gray tomando outro gole do refrigerante.

Finalmente consegui sair do restaurante para voltar á Pegasus. Teria uma longa noite pela frente, mas não me importava porque era bom finalmente voltar ao trabalho.

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