Príncipe Impossível – Capítulo 23 – Limões
O mundo inteiro é um palco. E todos os homens e mulheres não passam de meros atores. Eles entram e saem de cena, cada um no seu tempo representa diversos papéis. Foi William Shakespeare quem escreveu essa frase. Você pensa que depois de todo esse tempo você acha que entende o porque de algumas coisas acontecerem, mas no fim você parece que a vida é simplesmente uma peça de teatro que não nos permite ensaio.
Desastres acontecem e quando eles acontecem você gosta de pensar que está preparado. Nós gostamos de pensar que temos tudo oque precisamos quando o desastre iminente está prestes a acontecer, mas a verdade é que não existe uma lista. Não existem cinco ou seis passos a seguir. Nessa grande peça de teatro quando um desastre acontece só nos resta improvisar.
“PROMETO SOLENEMENTE CONSAGRAR A MINHA VIDA AO SERVIÇO DA HUMANIDADE”
Era sexta-feira de manhã. Mais uma vez trabalhei até tarde. Nesses últimos dias tenho feitos mais plantões no hospital. Griffin deve estar preocupado por eu não ter voltado para o apartamento dele… de novo. Já tinha virado rotina só vê-lo durante o dia e não passar ais a noite com ele. Acho que ele não se importa realmente com isso.
Está sendo difícil dormir com Griffin na mesma cama porque ele não parece querer mudar de ideia sobre o sexo. Prometi que não o pressionaria, mas eu tenho vontade de fazer amor com ele e além do mais tenho feito mais plantões e estou fazendo consultas particulares para ganhar um dinheiro extra. Griffin foi roubado e eu vi algumas contas dentro de uma gaveta no apartamento dele. Contas que estão vencendo e ele não terá como pagar e mesmo que ele tenha dito que não quer minha ajuda eu vou ajudá-lo. Acho que é meu dever como namorado ajuda-lo em um momento como esse. A geladeira dele está vazia e ele não parece se importar que as contas estejam juntando.
Ainda era cedo. Prometi me encontrar com Griffin em uma lanchonete e não posso me atrasar. Devo ter dormido umas quatro, mas tenho que estar disposto para outro dia. Levantei da minha cama só de cueca e fui direto para o banheiro. Depois de tomar um banho e vestir uma roupa confortável e mesmo assim elegante coloquei leite em uma xícara e fui até a porta pegar o jornal. Ao abrir a porta vi que o já estava jogado na minha varanda.
– bom dia Dr. Gray – falou minha vizinha de frente chamada Kate.
– bom dia Kate – falei pegando o meu jornal – pode me chamar só de Gray – falei sorrindo e entrando de volta em casa. Eu preciso parar com isso. Acho que Kate tem uma queda por mim.
Estou um pouco chateado com Griffin nessas últimas semanas. Ele andou investigando um cliente na empresa e quase se deu mal por causa disso. As vezes acho que ele não pensa antes de tomar uma decisão e as vezes acho que ele pensa demais e toma a decisão errado. Ele devia ser mais espontâneo.
Joguei o jornal em cima da mesa e me celular tocou. Era Morgan.
– bom dia Morgan? – falei atendendo o celular enquanto caminhava para a garagem.
– bom dia Gray – falou ela animada do outro lado da linha – eu queria conversar com você hoje.
– sobre?
– sobre nós – falou Morgan rapidamente.
– como assim? – falei entrando em meu carro e abrindo observando a porta da garagem de abrir lentamente.
– vamos ser sinceros – falou Morgan respirando fundo – nós nunca assinamos os papéis do divórcio e eu acho que está na hora de falar sobre isso.
– sobre assinar os papéis?
– sobre dar uma chance a nós dois – falou Morgan me surpreendendo.
Aquelas palavras me pegaram de surpresa. Foi ela quem terminou o relacionamento e eu sinceramente não me importei muito já que não sinto mais nada por ela. Ela me deu as coisas que mais amo no mundo que são os meus filhos, mas não a amo mais como esposa e nem como parceira.
– porque você ia querer isso? Foi você quem me botou para fora de casa e pediu o divórcio.
– fiquei com raiva. Peguei você com minha melhor amiga na nossa cama. A cama que dormimos por onze anos, mas eu acho que vale a pena dar outra chance a nós dois.
– olha Morgan…
– não diga nada – falou ela me interrompendo – vamos nos falar hoje a noite em um jantar. Pode ser?
– OK – falei respirando fundo.
– depois nós combinamos o lugar.
– tudo bem – falei desligando o telefone e ligando o carro.
Não podia mais esconder isso de Morgan. Griffin que me perdoe, mas eu vou contar para ela hoje que estamos juntos. Ela tem esperança de voltar comigo, mas essa é a última coisa que eu quero. Pela primeira vez na minha vida as coisas parecem se encaixar.
“EXERCEREI A MINHA ARTE COM CONSCIÊNCIA E DIGNIDADE”
Estávamos dentro do elevador da Pegasus. Morgan, Griffin e eu. Estava chateado com algumas coisas que Griffin me disse durante o café da manhã, mas admito que ele tinha um pouco de razão. Prometi que seria um namorado compreensivo e paciente e agora nem queria dormir na mesma cama que ele porque queria transar. É claro que ele vai se sentir mal com isso. Eu queria contar para ele sobre a proposta de Morgan, mas ele não em deu chance. De qualquer forma eu vou contar para ela hoje que nós estamos juntos.
Estávamos nós três em silêncio dreno do elevador e quando a porta se abriu no sétimo andar eu levei um susto. A primeira coisa que vi foi Kevin. O filho de um colega de trabalho.
– Gray! – falou Kevin parecendo assustado.
– Kevin? – falei saindo do elevador tentando acalmá-lo – o que está acontecendo?
– É a Alicia – falou Kevin apontando para a sala de reuniões. Alicia era a irmã dele e estava sentada em uma das cadeiras – ela foi atacada.
Quando Kevin disse isso eu sai correndo na direção dela para saber o que estava errado. Foi um choque ver Alicia tão machucada. Seu rosto, seus braços… havia marcar por todo o seu corpo e seu lábio sangrava um pouco.
– o que aconteceu Alicia? – pergunte me aproximando dela.
– fui atacada no dormitório – Alicia tinha dificuldade para falar devido ao um machucado na boca. Seu rosto também parecia um pouco inchado – alguém invadiu o meu quarto e me segurou, me atacou e… – falou alicia pausando.
– você precisa ir para o hospital.
– não, nada de hospital – falou ela assustada.
– se você tiver sido estuprada precisamos fazer exames e recolher amostras…
– não – falou Alicia relutante.
– OK, OK – falei me levantando pensativo. Alicia precisava de cuidados, mas ela não queria ir para o hospital porque meu amigo Scott trabalha lá.
Depois de conversar com Morgan e Griffin sobre o que tinha acontecido levei Alicia para uma sala reservada para cuidar dos machucados dela. Por sorte eu tinha uma maleta com tudo o que eu precisava para fazer curativos e tratar os machucados de Alicia. Ainda bem que estava atendendo alguns pacientes em casa.
– está tudo bem? – perguntei entrando na sala e trancando a porta. Alicia estava sentada em uma cadeira.
– melhor impossível – falou Alicia estranhamente calma.
Puxei uma cadeira e me sentei perto de alicia. Abri minha maleta e peguei algumas coisas que precisaria para limpar algumas feridas.
– você precisa reconsiderar ir para o hospital – falei começando al impar o braço dela com álcool.
– eu não posso – falou Alicia começando a chorar – meu pai não pode saber sobre isso.
– você precisa contar para o Scott.
– ele me expulsou de casa quando fiquei gravida Gray. Ele não quer me ver e além do mais eu estou com vergonha.
– não precisa ficar envergonhada – falei indo até o rosto dela e limpando o sangue em seu rosto – a culpa não foi sua…
– claro que foi – falou Alicia tentando limpar as lágrimas.
– você precisa de alguém.
– eu tenho Kevin – falou Alicia respirando fundo – pelo menos meu irmão não me abandonou.
– o que seu pai vai sentir quando ele descobrir?
– você não pode contar. Sou sua paciente.
– é por isso que você deve contar. Ele é seu pai apesar de tudo.
– eu não confio nele mais. Ele não foi pai para mais quando mais precisei.
Aquelas palavras me lembraram Griffin. Ele dizia exatamente a mesma coisa quando falava sobre o pai.
– você pode escolher não contar alicia, mas a verdade sempre aparece. Você pode tentar escondê-la por anos, mas um dia ele aparece e você precisa ter certeza da decisão que via tomar porque do contrário vai se arrepender.
– eu não preciso dele – falou Alicia com remorso do pai -não precisei dele quando fiquei grávida e não é agora que vou precisar e eu peço que respeite essa decisão Gray.
– tudo bem – falei forçando um sorriso.
– obrigada.
– com uma condição – falei parando por alguns instantes – você vai ficar aqui hoje em observação. Você pode ter se ferido internamente e eu preciso ter certeza de que vai ficar bem.
– combinado – falou Alicia finalmente concordando com algo.
– tudo bem – falei pegando outra gaze – vamos continuar cuidado dos seus machucados.
“MESMO APÓS A MORTE DO DOENTE RESPEITAREI OS SEGREDOS QUE ME TIVER CONFIADO”
Finalmente tinha terminado com Alicia. Estava colocando proteção no último machucado.
– terminamos – falei me levantando.
– obrigada – falou Alicia se levantando comigo.
Nós saímos da sala e eu a levei até seu irmão Kevin que esperava na sala de reuniões.
– como foi? – perguntou Kevin.
– ótimo – falou Alicia quando entrou na sala.
– eu vou precisar que sua irmã fique aqui na Pegasus, Ela precisa ficar em observação e como ela não quer ir para o hospital eu preciso ter certeza de que ela está bem e se ela apresentar qualquer sinal de que está piorando eu vou ligar para a emergência. Eu vou dar uma passada no hospital só para ver se meus pacientes estão bem, mas eu volto em breve. Trinta minutos no máximo eu estou de volta.
– OK – falou Kevin concordando e ajudando Alicia a se sentar.
– vou deixar vocês sozinhos – falei saindo da sala e fechando a porta. Fui até a copa para beber uma água ou qualquer coisa que encontrasse pela minha frente. Estava sendo particularmente difícil lídar com essa situação. Alicia me lembrava de Valerie e eu me odiada quando se lembrava de Valerie porque eu me tornava uma pessoa raivosa sempre que Valerie estava em minha cabeça.
Abri a geladeira e vi uma caixa de suco aberta. Peguei um copo e enquanto colocava o suco ouvi a porta se fechando atrás de mim. ao olhar para trás vi que era Griffin. Que bom que ele tinha aparecido. Precisava de um abraço.
– o que está fazendo? – perguntei me referindo a porta.
– só vim ver como você está?
– Estou bem – falei respirando fundo tentando em acalmar e esquecer Valerie – Alicia é que não está nada bem. Insisti para que ela fosse ao hospital, mas não consegui convencê-la. Sei que eu devia obriga-la a ir, mas não posso fazer algo que ela não quer. Se o pai dela soubesse… – falei tomando um gole do meu suco.
Griffin parecia pensativo e por alguns instantes ele ficou apenas olhando para mim
– Morgan e os outros foram para o a UCLA – falou Griffin quebrando o gelo.
– porque? o que eles foram fazer lá?
– foram ver se encontram algo que possa pegar o estuprador de Alicia. Se ela não quer fazer o exame do corpo de delito para pegar provas nós vamos pegá-lo de outro jeito.
– você não quis ir?
– eu vou, mas eu queria saber como você estava.
Aquelas palavras diziam exatamente o que Griffin não disse. Tomei outro gole do meu suco e novamente Griffin ficou só me observando em silêncio. Ele sabia. Aquilo me fez sentir raiva. Morgan com certeza tinha contado para ele.
– você sabe – falei colocando o copo no balcão – eu sei que você sabe sobre Valerie porque você tem aquele olhar.
– qual olhar?
– Aquele olhar – falei me lembrando do dia em que encontrei Valerie na piscina sem vida – você está me julgando. Está pensando que sou o médico que não conseguiu salvar a própria irmã. Se eu não salvo minha própria irmã como salvar a irmã dos outros?
– eu não estou te julgando – falei Griffin se aproximando e tocando meu braço, mas eu me afastei puxando o braço. Ser tocado era a última coisa que eu queria. Não precisava que ninguém me consolasse – não precisa me consolar. Estou bem. Isso não tem nada a ver com o que aconteceu comigo – falei passando por Griffin e saindo da copa.
Precisava ficar um pouco sozinho. Por muitos anos eu fiz terapia com Alegra – a irmã de Eve – por causa de Valeria. Eu sentia muita raiva de mim por não ter conseguido salvá-la. Sentia raiva de Valerie por não ter conversado comigo ao invés de tirar a própria vida. Sentia raiva de todos a minha volta quando eu me lembrava dela.
Apertei o botão do elevador e a porta se abriu e antes que ela pudesse se fechar Griffin colou a mão impedindo.
– Griffin eu só quero ficar sozinho – falei vendo a porta se fechar.
– Eu sei. Estou indo ajudar Morgan e Eve acho que posso pegar uma carona com você.
– Não vou para lá – falei tentando me livrar dele – sei como eu sou quando esses sentimentos estão dentro de mim – Estou indo para o hospital. Estou atrasado para o meu plantão.
– você vai contar para o pai dela o que aconteceu? Vai ser difícil não contar já que trabalha com ele.
– eu quero, mas não tenho escolha – falei tentando não ser rude. Não consegui dar um sorriso quando disse isso, mas também não fiz cara feia. Acho que minha expressão nesse momento era indiferente – Alicia é minha paciente e eu não vou quebrar a confidencialidade.
– tudo bem – falei Griffin finalmente encerrando o assunto. Quando o elevador parou no térreo foi um alívio. Griffin finalmente sairia antes que eu pudesse magoá-lo. Não queria ser esse homem para ele. Ele já teve um pai que o maltratou ele não precisa que eu faça o mesmo.
Griffin saiu do elevador e quando a porta estava se fechando ele colocou a mão novamente. Aquilo foi como um soco no estômago. Quanto mais eu quero que ele se afaste mais grudado ele fica.
– o que é? – perguntei em um tom rude.
– eu posso te dar um abraço?
– não! Você nunca quis demonstração publica de afeto, porque agora? – disse isso e apertei o botão do elevador novamente. Quando a porta se fechou eu senti um aperto no coração. Não devia ter dito isso – que droga Griffin – falei com raiva dele por insistir naquele assunto.
Caminhando em direção ao meu carro no estacionamento eu senti meus olhos ficarem húmidos. Ficaram húmidos por Valerie, pelo modo que falei com Griffin, mas eu os limpei antes que a humidade se transformasse em choro. Era muita coisa para minha cabeça. Pensei que essa seria uma manhã como qualquer outra. Se o dia começou assim não posso nem esperar pelo o que a noite me reserva.
“OS MEUS COLEGAS SERÃO MEUS IRMÃOS”
Precisava checar os pós operatórios de alguns pacientes antes de voltar para a Pegasus para ficar de olho em Alicia. Seria bem rápido. Caminhei através do estacionamento do hospital e assim que entrei na emergência vesti o meu jaleco.
– bom dia Dr. Forbes – falou uma enfermeira passando por mim.
– bom dia – falei forçando um sorriso. Não tinha motivos para sorrir. Tudo o que conseguia pensar era em Griffin. Em como era irritante gostar dele. Até as coisas que eu odiava nele me faziam amá-lo. Eu o amava a muito tempo, mas não podia dizer. Griffin quase surtou quando o pedi em namoro imagina se eu disser que o amo?
Ao chegar na recepção pedi a enfermeira os arquivos dos meus pacientes e enquanto ela pegava eu peguei meu celular e comecei a digitar uma mensagem para Griffin pedindo desculpas pelo oque tinha dito.
– bom dia Gray – falou Scott chegando á recepção.
– bom dia Scott – falei guardando o celular no bolso sem terminar de digitar a mensagem. Era difícil estar ali com ele e não poder contar do que aconteceu com sua filha.
– o que foi? – perguntou Scott percebendo que tinha algo de errado comigo.
– não é nada -falei pegando minhas fichas e indo pelo corredor. Scott me acompanhou.
– é o tal de Griffin? – perguntou Scott.
– basicamente – falei rindo.
– o que ele fez agora? Andou perseguindo outro cliente pelas suas costas ou ele finalmente decidiu ir pra cama com você?
– nenhum dos dois – falei frustrado.
– cara você deve ser péssimo de cama – falou Scott brincando.
– eu perguntaria para Griffin que ele acha da minha performance na cama, mas como nós ainda não chegamos lá é meio difícil – falei brincando.
– me diz – falou Scott rindo – o que ele fez dessa vez?
– não foi ele. Dessa vez acho que o problema sou eu. Eu o magoei.
– o que você fez?
– eu contei para ele sobre o trabalho extra e sobre não conseguir dormir ao lado dele e nem estar perto dele sem pensar em sexo.
– você é louco? – falou Scott rindo – você não pode dizer isso. Mesmo que seja a verdade ela não deve ser dita todas as vezes.
– eu precisava ser sincero – falei parando em frente ao quarto do meu primeiro paciente.
– sinceridade nem sempre é a melhor opção – falou Scott colocando a mão no meu ombro – o relacionamento entre dois homens é diferente do relacionamento entre um homem e uma mulher. Não em tudo, mas em alguns aspectos sim. Nós homens precisamos mentir de vez em quando para nos poupar de sentimentos desnecessários.
– nem me diga – falei pensando em Griffin e em como ele tinha escondido tantas coisas de nós desde que entrou na Pegasus – mesmo assim eu não me arrependo de der contado. Nosso relacionamento deve ser baseado na sinceridade. Ele é meu melhor amigo. Quero poder falar de tudo com ele.
– então boa sorte – falou Scott vendo seu celular vibrar no bolso. Scott tirou o celular no bolso e olhou para a tela. Ao fazer isso sua expressão de Scott mudou.
– o que foi? – perguntei preocupado.
– é a Alicia – falou Scott olhando para mim – ela acabou de dar entrada na emergência – falou Scott caminhando rapidamente de volta pelo corredor.
– Scott eu preciso te contar uma coisa – falei correndo atrás dele. Scott precisava saber da verdade antes de ver por si só – enquanto corria com Scott até a emergência peguei meu celular para avisar Morgan.
“MANTEREI POR TODOS OS MEIOS AO MEU ALCANCE, A HONRA E AS NOBRES TRADIÇÕES DA PROFISSÃO MÉDICA”
Era horrível ser a pessoa do outro lado. Eu devia estar naquela sala de operações ajudando Scott com Alicia, mas eu não podia. Não tinha cabeça para isso então eu estava melhor na sala de espera. Além do mais Scott parecia estar com raiva de mim. Algumas vezes a melhor decisão de um médico é saber quando recuar. E é o que eu estava fazendo nesse momento.
Fazia mais de duas horas que Alicia estava me cirurgia e ninguém ainda tinha aparecido para nos atualizar sobre o estado dela. Estava distraído pensando em algo que não fosse aquele momento quando vi pelo canto de olho alguém vindo em nossa direção. Era Kevin.
– e então Kevin? Ela está bem? – perguntei ansioso.
– está – falou Kevin parecendo esperançoso – ela teve um aneurisma que rompeu e meu pai conseguiu disseca-lo. Ela ficará bem.
Ao ouvir aquelas palavras eu respirei aliviado. Estava feliz por tudo estar bem e andei na direção de Scott que também vinha na minha direção.
– fico feliz que ela está bem – falei para Scott que nesse momento veio para cima de mim com o punho levantando. O filho dele o segurou antes que leem e desse um soco.
– se algo tivesse acontecido com ela seria sua culpa – falou Scott gritando alto.
– você sabe que não podia obriga-la a vir. Me perdoa, mas eu não podia.
– Eu sei – falou Scott tentando se acalmar – ela é minha garotinha – Scott colocou a mão na cabeça respirando fundo e em seguida ele se sentou – quem faria isso a ela?
Morgan se aproximou de Scott para consolá-lo e eu estava prestes a fazer o mesmo quando Eve me chamou para conversar em particular.
– o que foi? – perguntei com pressa. Meu amigo precisava de mim.
– nós fomos até o campus tentar descobrir quem fez isso a Alicia – falou Eve chamando minha atenção.
– eu sei. Griffin me contou. Vocês descobriram alguma coisa?
– na verdade sim – falou Eve olhando para Griffin e depois para mim – nós descobrimos que Alicia não passou a noite no campus e tem costume de dormir fora. Depois de uma visita ao local vimos que seria quase impossível alguém entrar lá e não ser visto.
– vocês estão dizendo que ela mentiu?
– sim.
– Ela não mentiu. Ninguém mente sobre estupro – falei irritado. Minha irmã foi estuprada e se matou por causa disso então eu não gosto nem de pensar na possibilidade de que alguém mentiria sobre estupro.
Eve então tirou algo do bolso e trouxe até a mim.
– o que é isso? – perguntei olhando para o cartão que estava escrito Trixie e logo abaixo tinha um número de telefone.
– um cartão de visitas que encontramos no quarto de Alicia. Acreditamos que esse seja o cartão de visitas de uma acompanhante de luxo.
– o que isso tem a ver com Alicia?
– acreditamos que esse cartão pertence a ela – falou Holly – acreditamos que Alicia é Trixie.
– vocês estão de brincadeira? – perguntei com muita raiva, como eles podia supor uma coisa dessas? Conheço Alicia desse pequena e é difícil de imaginar que ela fosse algo do tipo – quem foi que elaborou essa teoria magnífica? – perguntei com raiva.
Nesse momento Holly, Kiff e Eve olharam para Griffin. Eu tinha entendido. Tinha sido Griffin.
– você é inacreditável – falei rindo – você realmente não sabe o limite de algo? Como tem coragem de sugerir que aquela garota é acompanhante e mentiu sobre estupro?
– Não gosto disso tanto quanto você Gray. Acha que fiquei feliz em descobrir isso? – falou Griffin apontando para o cartão – se estiver com alguma dúvida é só ligar no número.
– nós não vamos fazer isso – falou rasgando o cartão e jogando na lixeira. Não conseguia nem olhar para a cara de Griffin depois dessa eu caminhei até Kevin e Morgan que tentavam consolar Scott.
– e se eu estiver certo? Precisa conversar com ela. Essa vida é perigosa – falou Griffin vindo atrás de mim. Essa era a terceira vez que ele fazia isso quando devia se afastar.
– porque você não vai embora? – falei gritando e me virando de uma vez. Eu exala ódio pelos proso. Aquilo me dava tanta raiva – por favor Griffin… Vá Embora! Eu te imploro – falei tentando controlar o tom de voz.
– Não precisa pedir duas vezes – falou Griffin finalmente fazendo algo que devia. Ir embora. Me virei de costas e fui até Scott, mas Morgan se levantou da cadeira e veio até mim.
– o que está acontecendo? Será que dá pra dar uma folga para o Griffin? – falou ela me repreendendo.
– me deixa em paz você também Morgan – falei ignorando o pedido dela.
– porque está com tanta raiva? Ele te contou o que descobriu?
– vai me dizer que você acredita naquela baboseira sobre Alicia ser uma garota de programa?
– quer saber? Eu não sei no que acredito. Quer dizer, Griffin já errou alguma vez? E não foi só Griffin, Holly também acredita nisso.
– como você pode cogitar uma coisa dessas?
– quer saber? – falou Morgan indo até a lixeira e pegando o cartão – ligue Gray – falou ela me entregando os dois pedaços.
– eu não vou fazer isso – falei com os pedaços na mão.
– não precisa fazer agora, mas fique com esse cartão. Você quer mesmo ficar com essa dúvida pra sempre? Você pode não querer ligar agora, mas guarde-o para quando você achar que deve confirmar.
Não queria pensar que aquilo fosse real, mas Morgan tinha razão. Talvez Griffin tivesse razão. Peguei os dois pedaços e coloquei nos bolsos só por garantia.
“GUARDAREI RESPEITO ABSOLUTO PELA VIDA HUMANA DESDE O SEU INÍCIO, MESMO SOB AMEAÇA”
O relógio marcava quase oito horas da noite. Meu corpo doía de ficar sentado naquela emergência. Alicia ainda não tinha acordado da cirurgia e Morgan, Eve, Holly e eu esperávamos pacientemente até que tivéssemos certeza de que ela estaria bem. Eu estava com os dois pedaços do cartão na mão olhando aquele número. Não queria ligar porque tinha medo de que fosse real. Tinha medo de estar errado.
– ela acordou! – falou Scott com um sorriso no rosto aparecendo de repente.
Todos nós nos levantamos se seguimos Scott pelo corredor até que chegamos ao quarto de Alicia. Kevin estava sentado em uma cadeira próximo da irmã. Ao nos ver Alicia pareceu confusa.
– o que aconteceu? Onde estou? – perguntou ela olhando para o pai.
– você teve uma convulsão, mas está bem.
– pai? – falou Alicia surpresa.
– você vai ficar bem minha filha. Me perdoe por ter te abandonado – falou Scott dando um beijo no rosto da filha.
– o senhor sabe sobre… – falou Alicia pausando.
– eu sei – falou Scott se referindo ao estupro – vai ficar tudo bem filha.
Percebi que esse era o momento. Se fosse verdade ou mentira eu precisava saber e Alicia precisava lídar com a verdade.
Peguei meu celular e digitei o número e coloquei em chamada. Quase que no mesmo instante um celular começou a tocar dentro do quarto.;
– de quem é esse celular? – perguntou Holly olhando no bolso dele – é o seu Morgan?
– não – falou Morgan percebendo que eu estava ligando para o número de ‘Trixie’.
Alicia percebeu que era o celular dela, mas não era o celular normal.
– é o seu Alicia – falou Kevin pegando na bolsa de Alicia um celular menor e mais discreto.
Alicia olhou para mim e eu me aproximei de Scott e entreguei o cartão.1
– o que é isso? – perguntou Scott quando entreguei o cartão.
– eu disse – falei olhando para a Alicia – a verdade sempre aparece.
Ao fazer isso sai do quarto sem olhar para trás. Estava com raiva de alicia por ter mentido. Sei que ela passou por algo péssimo, mas mesmo assim eu não conseguia parar de pensar que ela tinha mentido sobre estupro. O que mais me dava raiva é o modo que eu tratei Griffin. Ele não merecia ser tratado daquele jeito.
Tinha prometido levar ele para jantar hoje a noite e eu já estava atrasado. O relógio marcava pouco mais das oito da noite. Eram os primeiros minutos. Nem sei se Griffin vai querer sair comigo depois do que eu fiz. Nem sei se Griffin vai me querer como namorado afinal fui o pior namorado possível.
Ao chegar no meu carro destravei o alarme e rumei até a minha casa. Precisava tomar um banho e passar um perfume para ficar cheiroso para ele. Não seria fácil pedir desculpas por ter sido um imbecil por isso decidi comprar alguma coisa para facilitar as coisas.
Decidi passar em um shopping que tem perto da minha casa porque lá tinha a loja perfeita para comprar algo que ele iria adorar. Griffin adorava chocolate. Especialmente os meio amargos. Apesar de gostar tanto ele não comia muito por achar enjoativo. Entrei na loja e depois de dar uma olhada vi a caixa perfeita.
– vou querer aquele – falei apontando para uma caixa com bom bons de chocolate preto decorados com chocolate branco. Cada Bombom tinha algo escrito com o chocolate: ‘Eu Te amo’, ‘Você é meu Bombom’ entre outras coisas. Cada um deles tinha um sabor diferente e estava tudo em uma linda embalagem alguns amendoins que foram mergulhados em chocolate apimentado.
– quem é a sortuda? – falou a atendente
– sortudo – falei tirando o cartão de crédito e entregando a ela.
– ele vai adorar – falou a atendendo sorrindo e passando a compra. Depois de ter colocado em um embrulho bonito ela me entregou a sacola.
– muito obrigado – falei saindo da loja.
Ao entrar no carro coloquei o presente de Griffin no banco do carona e eu coloquei o cinto de segurança ligando o carro. Do shopping até a minha casa era bem perto.
Assim que estava na estrada novamente eu peguei o celular para ligar para Griffin para dizer que estava indo, mas antes que eu pudesse Apertar o botão eu me distrai da estrada e percebi que alguém pulou na frente do meu carro. Para a minha sorte eu consegui parar em tempo só que meu celular caiu no chão do carro assim como o presente de Griffin.
– que droga – falsei me abaixando e colocando o presente no banco de novo.
– me ajude! – falou alguém gritando de fora do carro. Quando olhei para fora vi que era uma mulher ensanguentava. Não parecia que tinha disso eu que a machuquei e ela confirmou em seguida – por favor me ajude! Eles estão vindo para me matar.
– o que aconteceu? – perguntei saindo do carro. A mulher parecia ser uma moradora de rua pelas roupas.
– uns caras me atacaram e tentaram arrancar a minha roupa. Eles me bateram, mas eu consegui fugir.
– vai ficar tudo bem – segurando indo na direção dela, mas quanto mais eu me aproximava mais ela se afastava. Percebi ao olhar em volta que estava em uma rua praticamente deserta. A avenida tinha um algum movimento, mas estava quase um quilômetro de distância. Conseguia ver os carros passando mais a frente.
– eu vou te levar para o hospital – falei tentando me aproximar dela, mas ela se afastava de mim – eu sou médico, vai ficar tudo bem.
A mulher que parecia estar chorando agora tinha outra expressão. Não consegui decifrar, mas se não estivesse tão escuro eu diria que ela estava rindo. Quase como entrou na minha frente ela desapareceu correndo por um beco escuro. Por alguns segundos me peguei sozinho no meio da rua.
Meu carro estava á alguns metros e eu caminhei rapidamente até ele. Assim quem entrei no carro vi que dois homens vieram de onde a mulher veio. Eles tinham pedaços de pau e ferro na mão.
– passa a chave – falou um deles quando se aproximaram de mim me impedindo de fechar a porta.
Não fiz nada e na hora tudo oque pensei foi no meu celular que tinha caído no chão do carro, mas eu não fazia ideia de exatamente onde ele tinha caído. Ao invés de sair do carro eu fechei a porta e a travei. Me abaixei procurando pelo celular e foi quando ouvi o vidro do meu lado se quebrando. Para a minha sorte eu consegui pegar o celular.
Como o vidro tinha se quebrado um deles abriu a porta e me puxou de lá de dentro me fazendo cair no chão. O celular caiu no chão ao meu lado. Os dois homens que mais pareciam garotos não apreciam ter mais do que vinte anos. Ainda no chão vi que a mulher que tinha sido aparentemente atacada correu na direção odo carro, mas antes de entrar ela pegou o pedaço de ferro que tinha consigo e bateu três vezes em mim. Uma no meu pai e as outras duas no meu braço que usei para defender minha cabeça.
A dor era excruciante.
– vamos embora – falou a mulher entrando no carro.
No calor do momento me levantei rapidamente mesmo com toda a dor e corri na direção odo carro como se eu fosse alguma espécie de herói com super poderes e o homem no volante apontou algo para mim. Foi quando ouvi um barulho alto como se fosse uma explosão e então senti meu corpo sendo jogado para trás. No próximo segundo me vi jogando no chão. O meu carro arrancou em disparada e eu já não estava mais lá. Não sei porque fui tão idiota. O carro tem seguro e eu realmente não perderia nada com isso. Não sei porque reagi. Não sei o porque de estar deitado no meu próprio sangue nesse chão gelado.
Eu estava tonto. A noite estava fria mais agora estava mais frio do que de costume. Eu não conseguia me levantar direito e sentia uma dor forte. Não conseguia respirar direito. Olhei para o meu lado e vi o celular bem perto da minha mão. Precisava de ajuda. O que acabou de acontecer? Foi isso que perguntei para mim mesmo. Uma mulher pulou na frente do meu carro. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Eu tentei ajuda-la. Sai de dentro do meu carro e tudo o que tentei ser foi um médico.
– qual a sua emergência? – perguntou a voz do outro lado da linha.
– eu levei um tiro – falei perdendo as últimas forças que tinha.
Deitado no chão a minha vida passou diante dos meus olhos. É verdade o que dizem. Você percebe que os bens materiais não importam quando você está morrendo. Apenas as pessoas que você gostaria que estivessem com você.
– Eu – Gray Kennedy Forbes – prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade. Darei aos meus Mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação. Mesmo após a morte do doente respeitarei os segredos que me tiver confiado. Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica. Os meus Colegas serão meus irmãos. Não permitirei que considerações de religião, nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interponham entre o meu dever e o meu Doente. Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos Médicos contra as leis da Humanidade.
Faço estas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra.