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A Grande Maça – Capítulo 31 – Você Colhe o Que Você Planta

Eu abri os olhos bem devagar e senti minha cabeça doendo e minha boca seca. O sol entrava pela janele a por alguns segundos eu me esqueci completamente de quem era e de onde estava. Eu olhei para o lado devagar e Warren estava deitado ao meu lado.

Com dificuldade eu me senti na cama e tentei me lembrar na noite anterior.

– sexo, sexo, sexo, bebida… porra não lembro de mais nada.

Minha cabeça deu uma pontada. Era sábado e olhei no relógio que marcava 13h30min. Tínhamos dormido muito.

Eu me sentei e na cama e comecei a lembrar de pouco em pouco a noite passada e com isso veio o remorso. Warren se mexeu na cama e eu aproveitei para acordá-lo

– Warren, acorda – falei balançando o braço dele.

Ele abriu os olhos e me olhou e por um instante eu tive a impressão de que ele não se lembrava.

– o que foi? – perguntou se sentando e escorando na cabeceira da cama assim como eu. – estou suado – falou limpando os olhos que estavam com dificuldade para abrir. Eu peguei o controle e liguei o ar-condicionado.

– você se lembra de ontem? – perguntei.

Ele pensou e logo me olhou com um rosto de espanto.

– eu não acredito que eu fiz aquilo.

Ele não disse nada e continuou pensando.

– eu disse que não me importo em te dividir. – falou Warren.

– como você pode ser tão compreensivo? – falei brigando com raiva.

– o que? Você está com raiva de mim? – perguntou Warren levantando um pouco a voz.

– claro que sim.

– porque? Porque você tem cartão verde para dormir com todos os homens da cidade?

– não, porque parece que você não se importa comigo.

– como não me importo? – falou Warren.

– puxa vida, ontem eu transei com seu irmão e com seu melhor amigo e você diz que tudo bem? Você não gosta mais de mim? Eu sou desprezível e nojento, transei sem camisinha, e você diz “tudo bem”?

– e você quer que eu diga o que? – falou ele.

– quero que você me bote pra fora dessa casa e nunca mais fale comigo outra vez.

– não te entendo – falou Warren – eu faço isso por você.

Eu me sentei na cama e respirei fundo.

– eu não entendo. – falei.

Nessa hora eu tentei me lembrar do que tinha acontecido noite passada. Sexo, sexo, sexo, bebida… contar para todos sobre Stan e sobre meu passado.

– será que eu contei? – falei alto.

– contou o que? – perguntou Warren.

– eu não sei o que aconteceu depois da transa.

– nós bebemos – falou Warren – e bebemos e lembro que Homer e Phil se pegaram e eu e você nos sentamos…

– o que mais? – perguntei.

– não me lembro mais.

– tenta se lembrar – falei.

– e você? Do que se lembra?

– lembro de Phil e Homer se pegando, credo olha só o que eu fiz – eu dei uma pausa e tentei lembrar. – nós nos sentamos e conversamos e logo Homer e Phil se juntaram a nós e todos conversamos.

– lembra de mais alguma coisa? – perguntou Warren.

– não – respondi. – e você? Lembra do que nós conversamos?

– não – falou Warren.

Nós ficamos calados por alguns minutos e logo o quarto estava com um clima mais gostoso.

– você provavelmente quer uma explicação – falei para Warren me escorando na cabeceira ao lado dele.

– sobre o que?

– está de sacanagem comigo? – falei sem alterar a voz.

– meu irmão? – falou Warren. – eu devia saber afinal você não é o primeiro namorado que ele me rouba.

– ele não me roubou, eu ainda sou seu – falei tentando parecer meloso. Era difícil depois do que tinha feito na noite passada.

Ficamos calados outra vez e Warren nada disse depois de uns minutos.

– eu preciso te contar algo – falei – sobre o homem que você me viu saindo na faculdade.

– não precisa – falou Warren.

– se você me atrapalhar mais uma vez eu vou te matar – falei tentando parecer ameaçador.

– tudo bem – falou Warren.

– aquele homem é meu professor. E eu fui para a casa dele porque ele me ameaçou.

– quando disse aquilo ví que Warren passou a levar a conversa um pouco mais a sério.

– te ameaçou? Como assim?

– ele disse que se eu não ficasse com ele naquela noite, ele iria te contar algo.

– me contar algo? – falou Warren.

Eu dei uma pausa e respirei fundo.

– eu já o conhecia Warren, da minha cidade natal.

– como o conheceu? – perguntou Warren.

– ele já foi meu cliente. – falei.

– do restaurante? – perguntou Warren confuso.

– não. Quando eu era garoto de programa. – falei engasgando na última palavra.

Eu nem tive coragem de olhar para ele e olhei para minhas mãos e minhas pernas esticadas na cama que agora estavam inquietas esperando pela bomba.

– eu já sabia – falou Warren em um tom baixo.

– o que você disse? – perguntei no mesmo tom.

– eu disse que desde o dia que eu te conheci eu sempre soube que você era garoto de programa. – ele disse isso com um sorriso maroto no rosto.

– como é que é? – falei surpreso.

– eu disse que sempre soube que…

– não precisa repetir – falei interrompendo ele.

Eu então comecei a pensar e milhões de coisas passaram pela minha cabeça. Tudo o que tinha acontecido entre nós veio como um flash em minha mente.

– você sempre soube que eu era garoto de programa? Mas… porque… então… – eu gaguejava, pois tinha milhões de dúvidas.

– foi por isso que eu disse que tínhamos um relacionamento aberto. – falou Warren me interrompendo.

– como assim? – perguntei confuso.

– naquele dia que fui te buscar de surpresa na faculdade eu vi você saindo com aquele homem, seu professor e logo imaginei que você tinha voltado a fazer programas. Eu fiquei preocupado afinal se você precisasse de dinheiro era só me pedir, mas quem sou eu para jugar então eu segui vocês e esperei em frente ao prédio em que você estava, esperando você sair em segurança então quando pegou o taxi eu o segui e esperei você entrar em casa.

– mas… – falei tentando encontrar palavras.

– foi por isso que eu não te liguei, você provavelmente deve ter percebido que não te liguei nenhuma vez.

– mas porque você me falou isso sobre relacionamento aberto se você sabia que eu era garoto de programa?

– eu imaginei que se dissesse isso você não precisaria se preocupar tanto em esconder o fato de estar transando com outros homens, você poderia continuar fazendo programas e não sentiria tanta culpa.

– como você pode fazer isso? – falei com um pouco de raiva por ele não ter me contado e ter deixado eu fazer o que fiz na noite passada. – então quando te conheci naquela noite no bar você já sabia que eu era garoto de programa?

– sim. – eu tinha pesquisado na internet e visto algumas fotos suas, de corpo é claro e vi que você trabalhava lá e fui te ver. Então eu cheguei ao bar e vi você trabalhando de longe. Eu fiquei te olhando e não sei porque acabei criando algum tipo de sentimento e não te vi apenas como um garoto de programa qualquer.

– deixe eu ver se entendi. – falei me arrumando na cama. – você sabia que eu era garoto de programa e mesmo assim você quis ficar comigo quando nos encontramos novamente no bar aqui em NY?

– sim – respondeu Warren.

– então você me viu saindo com o professor e achou que eu ainda era garoto de programa e ao invés de ficar com raiva de mim você nos seguiu e ficou esperando eu transar com outro homem apenas para saber se eu sairia em segurança?

– foi – falou Warren em tom baixo.

– estou tão envergonhado pelo que eu fiz ontem. – falei agora sentindo meus olhos começando a se molhar. – em toda minha vida nunca pensei que iria encontrar alguém com o coração tão bom. Eu forcei para não chorar.

– não precisa chorar – falou Warren se aproximando mais de mim pegando meu braço esquerdo e o colocando no colo dele.

– como não pensar? Eu estou com nojo de mim. De tudo o que eu fiz ontem.

– não precisa – falou Warren. – foi eu que mandei o Phil vir passar a noite com você. – falou Warren.

– mas isso não é motivo para que eu fizesse o que eu fiz. Eu não te mereço – falei limpando os olhos com minha mão direita.

– você não entende Fry, eu sempre soube que Phil gostava de homens, ele pode esconder dos amigos, família e da namorada, mas não consegue esconder de nós gays. Pelo amor de deus não tem nem como ele negar.

– mas porque você o mandaria pra cá se sabia que iria acontecer algo.

– eu não sabia que ia acontecer algo, e quando entrei na casa eu tive que inventar uma desculpa enorme.

Nós ficamos um pouco em silêncio e mais uma vez eu comecei a falar.

– sem contar o que eu fiz com seu irmão. Seu irmão que é casado.

– sobre o Homer e você eu também já sabia – falou Warren mais uma vez me surpreendendo.

– como? Ele te contou?

– sim – ele me contou que tinha traído o marido com um cara chamado Fry e logo eu deduzi que fosse você.

– eu ainda não me conformo do que eu fiz ontem.

– Fry, não precisa de corroer por causa disso eu ainda de te amo.

– eu também te amo – falei colocando a mão no rosto dele e dando um selinho demorado. – mas eu não te mereço.

– Fry, você tem um irmão homofóbico, um pai homofóbico que te espancou eu sei como deve ser difícil confiar em pessoas, eu entendo que você deve ser difícil confiar nas pessoas e que você apenas me valoriza tanto que fez o que fez porque me ama.

– como te trair com dois homens pode ser te amar? Que prova de amor é essa?

Warren me fez deitar a cabeça em seu ombro

– você sabia que eu iria embora Fry. Você queria que eu pegasse você e Phil transando porque você queria poder ter a chance de me contar tudo, mas tinha medo de que eu não aceitasse se me contasse apenas por contar então quando Phil estava despercebido você pegou o celular dele e me mandou vir para casa, pois tinha uma urgência.

Eu tive que concordar com o que ele disse. Era verdade. Nesse momento foi que nós nos tocamos que Phil e Homer poderiam estar em casa.

Nós dois vestimos toda a roupa e fomos no primeiro quarto e eles não estavam e depois fomos ao outro e mais uma vez eles não estavam e assim que chegamos na sala vimos os dois na cozinha conversando.

– bom dia – falou Warren. E quando ele disse isso ele me abraçou. – precisamos conversar.

Phil e Homer se entreolharam e logo todos nos sentamos á mesa e aos poucos eu e Warren fomos explicando tudo. Eu contei para Phil que já o conhecia, contei para Homer que amava o irmão dele e logo tudo ficou entendido. Phil um pouco envergonhado pediu perdão para Warren por ter transado comigo e Homer também pediu desculpas pelo mesmo motivo. Eu também pedi perdão por ter feito os dois transarem comigo, praticamente ter seduzido os dois. Depois de uma longa conversa eles foram embora e tudo o Warren e eu ficamos sentados a mesa comando um gole de café e pensando no que tinha acontecido.

Ficamos olhando um para o outro com todo aquele silêncio que tomou a casa e Warren olhou pra mim.

– vamos nos casar? – perguntou Warren.

Eu apenas sorri e segurei a mão dele em cima da mesa.

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