Contos

Neto, o moto-boy que virou a minha cabeça – Capítulo Final

Caramba, a notícia da ida do Henrique com a tia acabou comigo. Na boa, pior que a mãe dele ainda ligou para a tia mas ela disse que já estava embarcando, o voo estava na hora.

– O que você queria falar com ele querido? Era muito importante?

– Era sim tia. Era… Mas tudo bem… Quando ele voltar falo com ele.

– Mas… ele deve demorar a aparecer aqui de novo – Aquilo foi me rasgando por dentro.

– Tudo bem, só quero que ele ouça o que eu tenho para falar. Quando isso acontecer, ao menos ficarei tranquilo.

– Mas se é tão sério assim, liga para ele…

– Quem sabe não é? Até mais tia, até outra hora.

– Ate querido… Apareça!

Fui andando sem sentido nenhum, não tinha orientação alguma. Fiquei apenas andando e decidi que não ia trabalhar, continuei vagando sem orientação. Cheguei ao parque, aquele parque. Fui ao coreto e fiquei ali sentado, esperando como se ele fosse aparecer a qualquer momento e sorrir daquele jeito. Deitei e fechei os olhos, sentia o vento no rosto ouvindo o barulho das árvores, um som diferente, notas diferentes. Uma leve dor de cabeça aparecendo, me levantei e continuei andando. Ao longo do caminho eu ia reparando nos casais sentados, rindo e felizes. Pela primeira vez eu pensei que com o Henrique eu jamais poderia ficar assim, como esses casais, mas não me importava pois o que me importava seria estar com ele. Ri um pouco sozinho e tropecei numa pedra, acabei caindo. Acho que doeu e devo ter machucado meu joelho, mas sentia dor na minha cabeça. Não me dei o trabalho de parar para verificar, alguém me ofereceu ajuda.

– Não precisa, obrigado! – E segui me caminho.

Não sei quanto eu andei, mas andei muito. Certo momento, eu já estava cansado demais e a dor de cabeça leve começava a pesar. O mundo ao meu redor dava voltas e eu sentia um peso muito grande. Voltei para minha casa e no caminho eu lembrei do Pedro. Daquele dia lá na Faculdade, daquele momento que poderia ter sido tão bacana. Lembrei da decepção que tive, mais uma. Lembrei da tristeza que vivi naquele dia e não deveria estar me lembrando mais daquilo. O médico disse para eu esquecer aquilo tudo, mas estava tudo de volta à minha mente numa porrada só. A dor só aumentava e eu sentia frio.

Cheguei ao portão de casa, me apoiei na grade, e me perguntei o que estava acontecendo comigo? Me sentei por alguns instantes, depois me levantei e entrei. Minha mãe falou alguma coisa, olhando para meu joelho e para minha cabeça, mas eu apenas disse:

– To com um pouco de dor de cabeça e vou me deitar… – Apenas disse isso, entrei no quarto e consegui chegar até minha cama fechado os olhos.

Ouvia vozes de vez em quando, reparava em luzes, mas nada que fizesse sentido. Quando eu abri meus olhos e consegui focalizar tudo ao meu redor percebi que estava num quarto que não era meu com uma pessoa de branco injetando alguma coisa em mim. Vi minha mãe sentada, olhando fixamente por uma janela.

A pessoa de branco reparou em mim e foi até minha mãe, que me olhou, deu um sorriso e vindo até mim me abraçou.

– Você está bem querido? Tudo bem com você ?

– Tudo, o que houve? Que lugar é esse?

Foi ai que, aos poucos, eu fui descobrindo as coisas. Eu estava num Hospital porque tinha caído e machuquei muito meu joelho, que estava enfaixado. Bati minha cabeça numa pedra e estava com uma faixa também na cabeça também. Tinha marcas de escoriações pelos braços, devo ter caído numa parte da rua que estava em reforma. Mas, o que deixou todos preocupados comigo foi a depressão, sim, há anos que tenho esse pequeno problema que me acompanha mas que há muito não dava sinais de sua presença. Desde o dia em que eu me apaixonei por um carinha mas que queria apenas tirar sarro de mim na frente dos outros, foi uma espécie de humilhação e me deixou muito mal com isso tudo. Não aceitei que as pessoas pudessem fazer isso, não comigo que nunca fiz mal a ninguém. Passei semanas em casa em estado quase vegetativo e a única pessoa para quem eu contei minha situação foi o psicólogo, um amigo, um grande amigo que me ajudou muito. Graças a ele passei anos sem crises assim e gostaria que ele estivesse aqui.

– Quanto tempo eu estou aqui?

– Quatros dias querido! Quatro longos dias!

– Fiquei olhando para ela e tudo foi acontecendo.

– O que houve com você , Mateus? O que fez você ficar nesse estado?

Olhei para ela, que tinha lágrimas nos olhos e olhei para a janela. As coisas foram voltando à minha mente com uma velocidade incrível, Henrique. Fiquei em silêncio.

– Tudo bem querido, não quero te forçar a nada. Só estou muito preocupada com você, aliás todos nós estamos.

– Isso vai passar, sempre passa.

No meu coração eu só queria poder me explicar para o primo, pode dizer o que aconteceu e isso me deixava tão mal. Fiquei ali mais uns dias e até veio um psicólogo que me falou algumas coisas as quais ouvi com atenção apesar que não quais me abrir com ele. Confesso que essas crises acabavam comigo e a cada crise que eu tinha, parecia que alguma coisa ia embora. Tomando anti depressivos, fiquei um tempo dormindo e na manhã seguinte eu acordeie o quarto estava vazio. Dei um jeito de ir ao banheiro, mesmo com aqueles trecos de soro no caminho e depois, fui até a janela e fiquei ali. Acho que ficava no terceiro ou quarto andar e eu tinha uma visão bonita de uma área verde. Fiquei ali um tempo e a porta se abre. Deve ser alguém do Hospital para me aplicar mais remédio, não dei muita importância e continuei ali. Mas, como não aconteceu nada, eu decidi olhar para ver quem era e ao me virar me deparo com meu primo, me olhando sério e um tanto triste, mas com um sorriso tímidos nos lábios.

Por um instante eu pensei que fosse uma visão apenas. Fiquei sem ação, sem saber o que fazer. Tentei me sentar, mas os trecos do soro me atrapalharam, ele veio e me ajudou, ficou ali, bem próximo de mim me olhando com cara de preocupado. Fiquei olhando pra ele, sem saber o que dizer, mas…

– Você? Aqui?

– Sim! Eu mesmo! Aqui e com você .

– Você foi embora.

– Isso não vem ao caso…

– Eu tentei ir atrás de você , mas… Não deu.

– Eu sei.

– Eu só queria… Eu preciso… Muito… – Comecei a ficar agitado.

– Se acalma e relaxa. Não precisa você ficar assim, to aqui.

– Eu só queria poder me explicar cara, te dizer o porque daquilo tudo. Eu não tive culpa, eu estava apenas tentando colocar um fim na situação com o Neto para que nós dois pudéssemos ficar… Mas você foi embora… Entendeu tudo…

– Sim… eu também sei dessa parte também, eu entendi tudo errado. Já me contaram essa parte também – ele se levanta e vai para a outra janela, do lado oposto de onde eu estava – Fiquei espantando, quem poderia ter contado? Quem? Só quem sabia dessas coisas todas eram eu, ele e o… o Neto! Só pode ter sido ele! Mas, como? Como isso? Tentei me levantar para questionar, mas não consegui. Ele viu e vem até mim.

– Calma, cara! Você pode se machucar?

– Quem te contou todas essas coisas? – Segurei o braço dele – Me conta, quem?

– Você já deve saber a resposta, não é? – Fiquei estático naquele instante. Como ele fez isso? E porque?

Não precisei perguntar em alto e bom som, pois ele respondeu.

– Eu sai da sua casa furioso com vocês dois, como puderam fazer aquilo? E mais ainda com você. Decidi desaparecer e fui até minha tia, pedi para ela me levar. Fomos no dia seguinte mas ela ficou preocupada comigo e com minha decisão repentina de aceitar a proposta, no aeroporto, nós conversamos muito. Expliquei para ela a situação…

– Você falou de nós dois?

– Não… e sim… Indiretamente pois não usei nomes. Falei sim que estava apaixonado e que tinha acabado de ser chutado e traído. Ela me ouviu e depois fez alguns questionamentos aos quais fui respondendo a cada um desses. Ela ficou furiosa comigo por eu não ter ouvido você , quer dizer, a pessoa que eu estava apaixonado e me disse para ter te ouvido e não ter saído vomitando e chutando os outros daquele jeito. Tentei me justificar mas não teve acordo, ela não permitiu que eu seguisse viagem enquanto eu não resolvesse a minha situação. Aceitei, mas pedi para ela não falar que eu não tinha ido com ela e foi o que ela fez.

– E ela disse para sua mãe que você s já estavam indo.

– Pois é. Depois eu fiquei zanzando, fui para um hotel e coloque as ideias em ordem. No dia seguinte fui para casae até minha mãe ficou surpresa ao me ver, foi ela quem me disse da sua situação. Que você tinha se machucado e me falou desse seu problema, fiquei ainda mais surpreso.

– Por que você nunca me disse desse problema? – Fiquei sem jeito mas fui em frente.

– Porque eu achava que tinha acabado, nunca mais tive crises nem nada.

– Você devia ter me contado essas coisas cara, fiquei aflito quando soube, perturbado. Me disseram que você estava sangrando e que não falava coisa com coisa, que só queria se explicar e tudo. Vim aqui e tentei falar com você mas você estava sedado. Ao sair, encontrei o Neto parado na esquina.

– Me assustei, será que rolou outra cena daquela?

– Ele me chamou e pensei que estivesse armando alguma para cima de mim, mas estava errado. Fomos a um parque aqui perto e ele me explicou tudo o que aconteceu. Disse que te amava muito e que sabia que não poderia te oferecer o que você merece, que iria viver no medo de ser descoberto e não terminaria com a namorada por conta disso. Ele disse que não queria ver você daquele jeito e ficou sabendo o quanto você se machucou por conta da situação. Depois de ouvir ele, me deu vontade de quebrar a cara do inseto apesar de ter sentido pena, mas em consideração a ele e a você, não o fiz e ele saiu. Foi embora e disse que tentaria te esquecer para o bem dos dois, reforçando que não gostava de mim.

– Fiquei me achando um completo imbecil, agora mais ainda. Vim algumas vezes aqui mas você ainda continuava sedado. Minha ideia foi sempre essa, me justificar com você, pedir desculpas e…

– Te amo cara! – eu disse, silencio total.

– Também te amo. Amo mais que ontem e para sempre te amarei.

Foi assim, de forma simples que nos reconciliamos e fizemos as pazes, nos amando mais e mais. Ele ficou essa noite, tomando de conta de mim. (sic) Só não dormiu comigo porque os enfermeiros de vez em quando entravam para verificar minha medicação. Aquilo tudo só me fez bem e sai três dias depois.

Hoje o Neto mora com a Patrícia e tem uma filha, a qual ele chama de Ângela. Nos falamos as vezes e não passa disso, acredito que por ambas as partes.

Nunca souberam de mim e do Henrique até hoje. Mas se desconfiam, bem, não temos nada a ver com isso. Ele trabalha fora, com a tia dele. E vem de vez em quando. Não sei se vamos terminar de fato juntos, mas amo ele demais para não desculpar e para não aproveitar cada minuto que ele está comigo.

Quanto a mim? Bem, sou depressivo ainda e passo por fases bem cruéis. Minha vida não é tão fácil, mas eu uso o trabalho para não pensar muito sobre o assunto e quem sabe um dia eu não fique curado disso tudo. O primo torce muito por mim, mesmo distante. É muito bom ter ele ao meu lado, ele me faz tão bem…

Agora já pode tocar a música Just say yes, do Snow Patrol. Era a música que tocava em alguma lugar quando ele me pediu perdão, lá no Hospital e na nossa primeira noite juntos depois que eu sai de lá também tocava essa música no computador do meu quarto.

Já na festa da Formatura dele, ele queria que eu fosse o paraninfo, mas claro que não aceitei e acabou sendo o seu pai. Eu estava lá e ele estava lindo de beca e tudo. Depois, fomos ao banheiro e ele realizou a fantasia dele: ser chupado vestido de beca e quem o ajudou? (Risos) Eu!

No Baile, que foi no dia seguinte, nós não pudemos dançar juntos, mas nossos olhares nos acusavam e o desejo era bem grande. Porém depois, no meu quarto, tivemos o nosso próprio baile e ali realizamos tudo o que queríamos fazer juntos, palhaçadas, comilança e muito amor, claro…

Não sei dizer se vamos terminar juntos, como já disse, mas nos curtimos muito junto… O Amanhã? Vem amanhã…

Se me perguntarem se ainda sinto alguma coisa pelo Neto, responderei a vocês que ele sempre vai estar comigo, no meu peito e numa caixa que eu tenho, com a cueca dele, vocês lembram?

The End!

Na dica de hoje deixamos o filme brasileiro: Sobre Nós

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9 Comentários

  1. Lindo lindo lindo amei este conto
    Espero que um dia saia o final desta história.
    Torço para que um dia eles se assumam e vivam um amor livre
    Que venha os próximos contos ???????

  2. Mas enfim a história teve um fim bom,mas ao mesmo tempo como se fosse ter uma continuação bem pra frente,pois só de ter guardado a cueca ainda do NETO dentro de uma caixinha guardada pode significar muita coisa ainda e não só pelo fato dele ter essas taras por cuecas de outros caras e sim por amor e carinho e nisso pode acabar trazendo várias outras lembranças do passado novamente,mas fazer o que ne,Mas espero que os dois possam um dia de assumir e se amar de verdade mesmo e sem medo…pois só quando eles se assumirem que eles poderiam se sentir tão livres assim.
    Mas que bom que por bem ou por mal o NETO e o MATHEUS ainda se falam por poucos mas ainda se falam e isso pode pegar e trazer aquelas recaídas também de pensamentos,mas tudo bem dependendo do que for gostei da história,pois foi um conto muito mais do que real e me apaixono a cada conto que passa e que venha os próximos capítulos de outros contos românticos e que me faça ficar sempre emocionado como fiquei nessa história.

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