Contos

Confusões no Colegial – Capítulo 11 – WhatsApp

Msg Kaio: Oi. Tudo bem?

O ícone vermelho na tela alertava que o rapaz recebera uma nova mensagem. Kaio acabara de adicionar seu telefone aos contatos e iniciava uma conversa. Como ele conseguiu o número não era a pergunta importante, e sim, o que poderia querer?

O estômago de Derick dera um nó, seu nervosismo causava tremor e por isso errou a grafia das palavras três vezes. Apagou tudo, digitou novamente e por fim enviou a resposta:

Msg Derick: Ótimo e você?

Passaram-se alguns instantes, até que Kaio voltou a digitar:

Msg Kaio: Melhor agora. – ilustrou a fala com um emoji sorridente.

 “Melhor agora?” A mente de Derick criava mil interpretações para aquilo, o tremelique se intensificou e após errar novamente a grafia das palavras prosseguiu:

Msg Derick: Sério? Por quê? – questionou observando o status logo acima informar que o rapaz digitava uma resposta. Então, precisou apenas aguardar:

Msg Kaio: Porque finalmente vamos conseguir conversar.

Derick hesitou por alguns instantes, aquilo estava estranho. Por fim respondeu:

Msg Derick: E sobre o que você quer falar? − Tornou a aguardá-lo.

Msg Kaio: Sei lá. Sobre você – Kaio respondeu.

Neste instante Derick já não conseguia controlar a respiração nervosa. Ajeitando-se na cama, olhou em direção à porta para certificar-se de que estava bem fechada, então prosseguiu:

Msg Derick: Sobre mim? – enviou junto ao texto uma carinha confusa, e logo aquela mesma expressão tomou conta de seu rosto:

Msg Kaio: Eu sei de tudo! – Kaio respondeu.

Msg Derick: Sabe de tudo? – Derick tentou disfarçar – De tudo o quê? – Ele certamente estaria jogando verde por algum motivo.

Msg Kaio: Não precisa desconversar Derick. Você sabe que eu sei.

O garoto tornou a olhar para a porta certificando-se de que os pais não estavam próximos. Podia ouvir o som da televisão exibindo a novela lá na sala, e respirando fundo prosseguiu:

Msg Derick: Não estou entendendo. Sobre o que está falando? – Aguardou um instante.

Msg Kaio: Da escola – Kaio respondeu.

Da escola? − O suspense corroia seu estômago. Sobre exatamente o que Kaio falava? Relacionado à escola ele guardava desde segredos absurdos até os mais relevantes. Não podia cair naquele joguinho, sabia que Kaio estava blefando.

Msg Derick: Seja mais claro, por favor – questionou.

Msg Kaio: Já reparei o jeito como você me olha.

Derick congelou.

Msg Derick: O jeito como te olho?

Msg Kaio: Não precisa fingir mais. Já reparei que fica nervoso quando estou perto.

Derick estava atônito, não sabia como reagir. Tinha vontade de desligar o celular e ocultá-lo debaixo do travesseiro. Então resolveu levar aquilo tudo na zuação.

Msg Derick: Kaio, você está bêbado?

Msg Kaio: Talvez – O rapaz não demorou a responder.

Msg Derick: Só não vai dirigir assim. Pode sofrer um acidente. – Derick aproveitou para desviar o assunto, postando uma carinha sorridente.

Msg Kaio: Não se preocupe, não corro o risco. Estou estacionado.

Derick sorriu.

Msg Derick: E tem alguém ai para te levar em casa? – agiu naturalmente, fingindo se importar.

Msg Kaio: Estou sozinho – ele respondeu.

Msg Derick: Então liga para um táxi ir te buscar – aconselhou.

Msg Kaio: Não preciso de táxi e sim de conversar com você.

Um momento de pausa para colocar as ideias no lugar.

Msg Derick: Olha Kaio. Acho melhor você ir para casa e segunda-feira quando estiver sóbrio conversamos. Vou chamar um táxi para você. Onde está? – Enviou a mensagem e ficou aguardando a resposta. Foi então que o coração quis sair pela boca: Biiip… O barulho de buzina soou lá fora.

Um calafrio percorreu-lhe o corpo. Ele levantou-se de supetão, afastou a cortina da frente da janela e olhou para a rua. Um carro preto estava estacionado bem ali, um Range Rover.

Msg Kaio: Estou aqui fora. Frente à sua casa – a resposta chegou em seguida.

“Oh-My-God”. O que ele estava fazendo ali? Agora sim estava ferrado.

Biiip… O carro volta a buzinar.

Msg Derick: Pare de buzinar, vai chamar a atenção dos meus pais.

Msg Kaio: Então sai aqui para conversarmos.

Derick analisa a situação. Se ele realmente estivesse bêbado poderia fazer um escândalo. Respirou fundo e enviou nova mensagem:

Msg Derick: Okay. Mas aguarde sem buzinar.

Tremendo, ele correu ao guarda-roupas e vestiu um agasalho, em seguida caminhou até o banheiro onde passou água no rosto e ajeitou os cabelos. Temia o que pudesse acontecer.

* * *

– Onde está indo Derick? – A mãe e o pai acompanhados de um cachorrinho assistiam à novela na televisão quando observaram o garoto deixar o quarto trajando a blusa de frio.

– Só vou pegar um trabalho com um colega e já volto – respondeu tentando disfarçar o nervosismo e seguiu para a porta. Ao fechá-la sentiu o vento frio beijar-lhe o rosto e virou-se para a rua.

Ele caminhou pela grama, sentindo o orvalho que molhara as folhinhas, então, ao pisar na calçada, observou a janela automática do veículo ser abaixada. Lá dentro, o garoto loiro aguardava no banco do motorista.

– Eu não posso conversar agora Kaio – Derick diz apoiando-se na janela do veículo.

– Entra ai, não vou demorar – O rapaz não estava nada bêbado.

Ei. Eu pensei que você tivesse bebido. Por que mentiu? – Derick tremia de frio e de nervosismo.

– Eu não menti. Você perguntou se eu estava bêbado e eu respondi: “TALVEZ”. Pode conferir no histórico – Kaio esboça um sorriso cínico enquanto abre a porta para ele.

Sem alternativas, Derick entra no veículo e senta-se ao lado.

– O que você quer que não possa esperar até segunda-feira? – questionou irritado.

– Conversar. Já disse – Kaio está meio confuso, não sabe o que falar.

– Mas conversar sobre exatamente o quê homem? – Derick impaciente prevê os pais chamando-o a qualquer instante.

– Sobre seus olhares – Kaio prossegue.

– Sobre meus olhares? Que olhares? – Ele finge que Kaio está equivocado, mas acaba seduzido pelo brilho dos olhos do rapaz.

– Estes olhares – Kaio o encara e Derick desvia o olhar balançando a cabeça.

– Alguém está fazendo confusão aqui. Não sou eu quem fica olhando para você e sim você que sempre surpreendo olhando para mim – joga a real.

– Não senhor. É VOCÊ que fica lançando olhares para mim – Kaio rebate e eles se encaram mais uma vez. Esse diálogo estava estranho, mas no fundo ambos estavam se divertindo.

Sorrisos sem graça, os dois viram-se e observam a rua.

– Na boa Kaio, eu vou entrar. Você está criando coisas que não existe – Derick abre a porta e sai. Kaio também abre a sua e corre interceptando o garoto antes que ele alcance a entrada da casa.

– Como assim “criando coisas que não existe”? – Ele sussurra para que os pais do garoto não os ouçam, então sai puxando-o pelo braço de volta ao veículo. Ambos escoram-se na lateral, de costas para a residência. – Eu vi você e o Lucas – Kaio revela de supetão.

– Como é? – Derick gela fazendo-se de desentendido. Agora a vaca foi pro brejo.

– Não finja. Eu sei de tudo. Sei que você é gay – completa encarando o rapaz.

– Isso só pode ser pegadinha – Derick irritado empurra o rapaz e tenta voltar para dentro, mas é novamente puxado pelo braço até a lateral do veículo.

– Não é uma pegadinha. Aquela noite, depois da apresentação, eu vi quando entrou no carro dele – Derick abaixa a cabeça, seu coração pulsando a mil – Segui vocês e enfim, vi tudo – Kaio completa.

Derick respira fundo, estava atônito, tremendo. Sente as lágrimas de nervosismo querer escapar de seus olhos, então levanta o rosto e olhando para o céu pede:

– Por favor, não conta pra ninguém.

– Não se preocupe, eu não vou. Até por que… – Com alguns dedos, Kaio toca suas mãos que tremiam – Porque sei que o que sinto pode ser correspondido por você – completa.

Foi como se uma música romântica começasse a tocar. Derick vira-se lentamente para o rapaz e os olhares se encontram.

– Correspondido? – Ele sente as mãos de Kaio deslizando sobre as suas, e então deixa uma lágrima de desespero escapar.

– Acho que – Kaio hesita por um instante e depois completa – Acho que estou interessado em você. − E mansamente aproxima-se dele: de seu rosto corado, de seus lábios umedecidos.

O contraste perfeito entre a boca e o cabelo alourado do rapaz enfeitiça Derick mais uma vez. A mão firme dele apalpando a sua, o barulho do vento e as folhas secas que rolando pela rua deserta criam um momento único. Derick fecha os olhos e sente o calor da proximidade. Os lábios cedem mansamente e finalmente se unem aos dele, liberando um calor sem igual. Em meio aquele vulcão de emoções uma voz estridente ecoa pelas costas…

Derick?

Com os olhos ainda fechados ele tenta reconhecer, então um gelo sobe pela espinha ao materializá-la em sua mente, o coração parece interromper as batidas. Aquela voz? Aquela era a voz de sua mãe. Afasta-se de Kaio e sem coragem para se virar deixa outra lágrima escapar. O que faria agora?

– Derick? – A voz torna a chamá-lo seguida por chacoalhadas. Seus olhos estão úmidos, ele permite a visão e leva um grande susto. Estava de volta ao quarto, deitado na cama.

– Mãe? – Exclama desorientado sentando-se no colchão.

– Hora do seu remédio mocinho – Ela coloca as mãos sobre a testa suada e surpreende-se – Meu Deus, você está queimando de febre!

Segue até a mesinha de cabeceira, e após dar-lhe um comprimido, ajeita as cobertas e deixa o ambiente. Ela apaga a luz antes de sair e escora a porta. Agora, sozinho e confuso, Derick liga o celular e observa na tela a mensagem que Kaio enviara a algumas horas:

Oi. Tudo bem? – Permanecia do mesmo jeito − Bom, você deve estar dormindo. Espero que se recupere logo – Kaio completava segundos após o primeiro envio, e assim, sentindo o quarto rodopiar, ele afunda a cabeça no travesseiro, aliviado. Aquilo tudo não passara de um delírio.

Notas Finais

CONFUSÕES NO COLEGIAL é uma publicação independente disponível em versão digital no site da amazon.com.br e em versão impressa pelo clube de autores. Se puder, ajude ao escritor, adquira seu exemplar. Leia a história completa pelo celular, tablet, computador ou Kindle (versão e-book). Incentive este trabalho, apoie a literatura nacional.

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