Contos

Confusões no Colegial – Capítulo 6 – Segredos

−Yupiii… – Lizi começa a gritar e dar pulinhos como uma louca abaixo das árvores. – Eu sempre quis ter um amigo gay – Ela continua eufórica observando Derick com os olhinhos brilhando.

– Pois é meninas, sou todo gay – Derick sorri da reação da colega.

Após a confusão e prova de amizade dada por Tatiane, Derick resolveu que não deveria esconder seu segredo das amigas. Afinal, do que adiantaria se Tatiane havia visto o beijo dele com Lucas? Por isso, ao fim daquela manhã, combinaram almoçar juntos e passar a tarde inteira em uma pracinha nas proximidades.

O local era bastante verde. Havia muitas árvores, flores e um lago onde patinhos nadavam tranquilamente, vez em quando alimentados por algum transeunte. De frente a este lago Derick ia contando tudo sobre sua homossexualidade e jogando pedrinhas na água, o que formava várias ondinhas que refletiam o sol.

– Se você não falasse, nem daria para perceber. – Tatiane exclamou observando a correnteza das águas.

– Não dá pra perceber porque não ando por ai arrotando purpurina – Derick sorri − Sempre fui bem discreto.

– Uh, discreto – Lizi não resiste e precisa zombar − Então como explica o que aconteceu no parque? Para mim, ficar com o ex-namorado de uma garota popular não é ser nada “discreto” – ele ainda não havia explicado o que realmente acontecera.

– Mas eu não fiquei com o Lucas. Ele me beijou de surpresa e não deu tempo de nada. – Derick para de jogar pedras no lago e vira-se para as amigas tentando explicar sua inocência. Ele mesmo não entendia o que dera no rapaz, que não tinha perfil que curtia garotos.

– Então tá, mas me responde uma última coisa, prometo que é a última – Lizi fala com tom de seriedade na voz. Após uma breve pausa, prossegue – Ele beija bem? – os três se entreolham e em conjunto caem numa intensa gargalhada que preenche o local.

Derick pega as meninas pela cintura e ambos se jogam na grama, fazendo cócegas como criançinhas sem juízo, até que cansados, rolam ficando de barriga para cima, admirando a copa da árvore que balançava com a brisa.

– Se ele beija bem? – Derick faz uma pausa fechando os olhos – Ele beija ÓTIMO. Continua com sorrisinhos enquanto recorda-se daquele momento.

– E como foi? Tipo, conta detalhes – Tatiane vira-se curiosa.

– Ah, tipo. Foi normal – Derick responde.

– Normal? Mas como assim normal? – Tati quer os detalhes.

– Normal de… normal oras. Você nunca beijou antes? – Ele pergunta observando os raios do sol penetrando os espaços entre as folhas da árvore e repara a melancolia na voz da colega.

– Prefiro não falar sobre isso. – Tati muda a feição e torna a deitar-se olhando para cima. Algumas folhas caiam lentamente da copa das árvores, dançando com a sintonia do vento.

– Conta pra ele Tati, agora somos um trio – Lizi prossegue fazendo menção a alguma coisa que a garota queria esquecer.

– Acho melhor não. Deixa pra lá – Tatiane se prepara para levantar, mas Derick a puxa de volta e sentam-se sobre a grama.

– Contar o quê? – Ele questiona.

– A Tatiane ainda é BV (Boca Virgem). Tipo, ela nunca ficou com ninguém. – Lizi prossegue olhando para a colega que fecha a cara.

– Mas você é uma intrometida, não é mesmo garota? – Tatiane fala rude, então completa – Quem vê falando, até pensa ser a rainha dos beijos – e observa Lizi ficar sem graça.

– Ah gente. Não brigue – Derick interrompe a discussão − Ser BV é normal. Na hora certa aparece alguém especial e ai rola. Eu mesmo só perdi no ano passado e não é lá essas coisas – Derick tenta animar as amigas, mas no fundo pensava: “sim, sim… é lá essas coisas sim”.

– O problema não é ser BV Derick – Lizi volta a retrucar – O problema é que a Tati dá um “tic” nervoso na hora de beijar os caras e acaba machucando eles – entra em assuntos, digamos, sensíveis.

– Cala a boca Lizi. Intrometida e linguaruda. – Tatiane olha atônita para a colega indiscreta.

– “Tic nervoso”? – Derick fica surpreso – Você morde os caras? – ele olha para Lizi e juntos caem numa gargalhada descontrolada.

– Na realidade ela dá um chute no saco deles e sai correndo – Lizi completa sem conseguir parar de rir.

Liziiiiiii… – Tatiane pula em cima da amiga tapando-lhe a boca – Para de falar das minhas coisas, sua fofoqueira – observa lágrimas saindo dos olhinhos da colega que não consegue se controlar.

– Calma, calma meninas. – Derick aparta as duas e tentando não rir pede que expliquem essa história direitinho.

– Ah, dane-se – Tatiane resmunga – Se você pode assumir que é gay, eu posso assumir que sou medrosa. – e sentando-se ereta, começa a relatar o que realmente aconteceu.

No sexto ano, Tatiane quase perdera a BV com um carinha da escola. Ele era um dos mais bonitos da sala e também um dos que se dispunha a “ajudar” as meninas nessa missão “complicada”.

Certa manhã, na hora do intervalo, um grupinho formou-se no beco escuro do colégio. Um garoto iria beijar alguém e todos queriam ver, entre eles Tatiane. E assim aconteceu, foi algo nojento, o garoto parecia que ia engolir a menina, mas enfim, o primeiro beijo dificilmente é perfeito.

Após o beijo, outro garoto entrou no beco, ele queria ser o próximo a beijar e escolheu quem? Tatiane, a garota mais inteligente da sala. O coração dela parecia querer sair pela boca, piorou quando uma das meninas a empurrou para o beco, e agora era: ou vai ou racha.

O garoto se aproximou com a boca aberta e Tatiane percebeu que ele tinha alguns dentes pretos, com cárie. A situação já não estava legal, imagina com mais esse agravante.

PA-RA TU-DO! – Derick voltou a gargalhar – como assim? Cárie? Que nojo. – Ele e Lizi rolavam na grama de tantas risadas.

– Parem seus idiotas. Não tem a menor graça. – Tatiane fechou a cara, mas não aguentou lembrar-se da situação, também caiu no riso. (Mas, voltando à narração)

Pois bem, o garoto era cheio de cáries. Ela começou a tremer. Aquela bocarra aberta vindo em sua direção, vários olhos curiosos esperando o feito, o carinha que ela gostava entre eles (Ops, essa é outra história)… Então fechou os olhos e só viu quando já estava trancada dentro do banheiro chorando. Tatiane no nervosismo deu uma joelhada no saco do rapaz e saiu correndo feito uma louca dentro do colégio.

– E foi daí em diante que ela ficou traumatizada com os garotos, e trata-os rispidamente. – Lizi completa a história.

Hum. Então foi por isso que vocês se estranharam aquele dia em que chamou o Kaio de bombado? – Derick pergunta relembrando-se do episódio.

Foi. Mas agora já passou e não posso viver no passado, certo? – Tatiane diz pegando a mochila e levantando-se.

– É, mas todo mundo ainda se lembra do passado, já que foi a própria Caroline que se encarregou de espalhar a fofoca no colégio inteiro. – Lizi interpõe e Tatiane olha para a cara dela que abre um sorriso de “foi mal”.

– Pois é. Por isso não vou com a cara daquela vadia. Eu pelo menos não saio por ai botando chifres no meu namorado (que não tenho) com qualquer um. – Tatiane completa enquanto os três sobem por uma estrada de pedras rumo à avenida. Aquele dia enfim chegava ao fim.

* * *

– Oi amoooor. Você já superou né? – Caroline aproxima-se do ex-namorado que estava no banco reserva do treino de futebol.

– Já superei o quê Caroline? – Ele diz enquanto abre a garrafinha de água e toma um gole.

– Sabe. Pensei melhor e percebi que não consigo ficar longe de você. Então resolvi te perdoar e agora podemos voltar. O que acha? Me da um beijo? – Ela o agarra pelo pescoço buscando seus lábios, porém Lucas esquiva-se e segurando-a pelos braços, trocam de posição. Ela senta-se (forçada) e ele fica de pé.

– Na boa Caroline, para mim não rola mais. Detesto escândalos e o que você fez hoje não tem como superar – Ele diz enquanto guarda alguns objetos na mochila.

– Poxa Lucas. Mas foi só uma briguinha boba. O que tem demais? – Caroline levanta-se, abraçando-o pela cintura, e ele mais uma vez retira as mãos dela de si.

– O que tem demais? – ela faz cara de vítima – O que tem é que levei uma advertência, estou sendo chamado de tarado e também não aguento mais seus chiliques.

– Supera isso amor. Olha, se você esquecer tudo podemos brincar de alguma coisa mais tarde – Ela fala enquanto faz um laçinho nos cordões da blusa – o que acha?

– Caroline – Lucas a segura pelos braços sentando-a novamente na cadeira, depois completa – “Aproveite o banco reserva” – Coloca a mochila nas costas e sai do campo virando a garrafinha de água sobre a cabeça.

A garota ficou enfurecida, não admitia perder. Pegou o celular na bolsa e passou um Whatsapp para as amigas: Reunião, hoje, na minha casa. Assunto: Nerd BV.

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