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Conto Gay – Confusões no Colegial – Capítulo 1 – Prefácio

Capítulo 1 – Prefácio

O primeiro dia de aulas. Para um gay o início do fim do ano, concorda? Temos que entrar em sala com nosso jeitinho especial, encarar um monte de rostos novos, ou melhor, encarar não, um gay no colegial nunca encara os colegas no primeiro dia de aulas. Ele entra com o estômago revirado e seu único foco é encontrar o mais rápido possível uma carteira vaga onde possa se sentar, fingindo não haver ninguém ao redor. Então, o garoto não entra encarando um monte de rostos novos, ele entra encarando um monte de carteiras ocupadas, não sobrou nenhum lugar para ele. Tragédia.

Agora vai precisar entrar de sala em sala procurando mesa disponível. Sente o coração querer sai pela boca, teme ser alvo de alguma chacota constrangedora, até que, ufa… ali… uma carteira detonada. Ela está caindo os pedaços, todavia, não deixa de ser uma grande conquista. Segundos depois nosso adolescente respira fundo, aliviado, coloca novamente os pés no pátio do colégio, local quase neutro nesta selva de hormônios em ebulição. Uma fase do jogo fora vencida, agora é voltar ao chefão, entrar na própria classe, carregando a carteira pesada nos braços. Cena constrangedora e que pode piorar. Sim, sim. Nosso garoto é tão azarado que ao chegar à porta, adivinha? Ela já foi fechada. Aff… terá que bater e aguardar ser atendido, é o fim.

A professora permite sua entrada e todo mundo olha para a cara do novato arrumadinho. Cabelo bem penteado, roupa impecável. Mil e um pensamentos já passam em sua cabeça, o corpo não para de tremer e ele começa a suar frio esperando algum “hétero” engraçadinho puxar o constrangedor Uiiii, levando os companheiros à gargalhada. Porém, nada acontece e ele se acomoda em silêncio.

Sentado, paralisado, fingindo que não existe, que não está ali. A garota ao lado puxa assunto, está na cara que será sua melhor amiga durante aquele período. Um diálogo começa e já é possível sentir-se um pouquinho mais seguro em meio aos lobos. Então vem a professora com aquela famosa piadinha de início de ano: “Bom dia turma. Hora de se apresentar”.

Puts, isso só pode ser brincadeira não é? Será que essa mulher nunca foi adolescente? Nunca passou pelo constrangimento do primeiro dia? – Ele sente as pernas travarem, o estômago ronrona nervoso.

Aluno após aluno levanta-se e timidamente segue até o quadro a fim de se apresentar. Um deles é a maloqueira da sala. A guria que curte jogar futebol com os garotos e também faz chacota com o jeitinho do rapaz afeminado, ignorando o fato de serem iguais, exceto no que se trata ao interesse por garotas.

Enfim, após vários rostinhos humilhados, chega sua vez. A voz sumiu, tenta se acalmar, não consegue olhar para frente. Quando o som resolve sair vem totalmente desafinado. Fala o nome, idade, novo na cidade, só isso, torna a sentar-se apressado, o corpo desajeitado. Sorri para a colega, ela também está apreensiva. Após um instante sente o choque percorrendo-lhe o corpo – Uiiii – São os idiotas do fundão, começaram com as gracinhas.

Nosso adolescente ignora, finge não ouvir, encara o caderno sem graça. A amiga segue até a lousa, sua vez de se apresentar. Na volta puxa conversa procurando acalmar o nervosismo. Eles trocam sorrisos. O garoto fingindo estar bem, sufocado por dentro. Quer chorar, sair dali, correr. Sabe que este é apenas o primeiro de longos dias. O início de sua tortura anual.

 

Coitadinho”, você deve estar pensando, ou então no mínimo se comparando ao nosso personagem. Passou por situação semelhante e não pôde fazer nada alem de enfiar a cara dentro do caderno e fingir ser um avestruz. Eu sei, eu sei. É triste, é trágico, é revoltante. Todavia este texto é diferente de tudo isto, não foi escrito para deprimir. Com ele você vai sorrir, sonhar, se apaixonar. Vai torcer, se surpreender e até se comover. Ele trata do clichê juvenil de forma engraçada, despojada. Tão despojado que resolvi pensar além, colocá-lo num futuro onde garotos brasileiros já possuem carteira de motorista e escolas públicas alcançaram o nível internacional. Legal não é?

Então agora me resta desejar-lhe uma boa leitura. Espero que se divirta lendo, tanto quanto eu me diverti escrevendo.

Com carinho,

Angeli Pietro.

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