Contos de Garotos – Capítulo 16 – Chantagem
Por Leona-EBM
Contos de Garotos
Capítulo
XVI
Chantagem
Hanz adentrou na sala de aula lentamente com Corei ao em seu encalço enchendo-lhe de perguntas. Na noite passada, Hanz havia saído do banheiro e ido dormir, sem dirigir a palavra ao seu companheiro de dormitório.
– Fale comigo, Hanz – implorou.
O novato caminhou até uma fileira e sentou-se. Corei suspirou e sentou-se ao seu lado, tentando extrair alguma palavra da boca do moreno, nem que fosse um xingo, qualquer coisa para revogar com aquele silêncio.
A porta da sala abriu-se, era Maccario que adentrou. Corei observou o semblante de Hanz, vendo que o moreno nem sequer ergueu os seus olhos para olhar o karateca. E reação de Kim não era dessemelhante, ele nem sequer olhou para Hanz.
– Hum… vocês brigaram? – Corei indagou.
Hanz suspirou e ficou olhando para o quadro negro que estava vazio, ele estava lembrando-se do dia anterior. Tudo havia sido um grande choque. Sua vida estava de ponta cabeça.
– Hanz! Por favor, eu estou preocupado!
– Poderia parar de ficar especulando sobre minha vida? – Hanz pediu com frieza – eu não estou bem e o que eu menos preciso é ficar falando sobre isso.
Corei sorriu, finalmente conseguiu alguma coisa. Ele acalmou-se e ficou sentado em sossego ao lado de Hanz, esperando que ele falasse quando tivesse bel-prazer. Os minutos foram se passando e a aula de química deu início.
O dia de Hanz havia começado mal. Além de ter brigado ou terminado com Kim, ele ainda não sabia em qual pé estava a relação, a primeira aula daquela segunda-feira seria de química.
Iago estava passando um exercício no quadro negro, quando terminou, virou-se para a sala e disse:
– Resolvam esses exercícios numa folha a parte para a entrega. Vocês têm quinze minutos para copiar e mais trinta minutos para resolver. Comecem.
Hanz olhava para a folha em branco, ele não conseguia se concentrar em mais nada. Seu lápis rabiscou o papel, tentando copiar o exercício que estava no quadro negro na sua terceira tentativa, pois errava os números a todo instante.
Iago passava pelas fileiras, olhando os alunos resolverem os exercícios. Ele parou ao lado de Hanz, vendo que ele não havia nem copiado o exercício.
– Não irá fazer a tarefa? – Iago indagou com seriedade.
– Não – respondeu, erguendo-se e começando a arrumar suas coisas.
Os demais alunos pararam com o que faziam para observar Hanz. Iago tentava falar com ele, mas o moreno simplesmente o ignorava, arrumando seu material. Quando Hanz terminou, ele ausentou-se da sala, sem olhar uma única vez para trás.
Com um caminhar pesado Hanz atravessou o corredor, saindo da escola, olhando para a grande estrutura de pedras. Ele suspirou e olhou para o céu acinzentado, a chuva ainda não havia parado desde a noite anterior.
– “Eu não consigo ficar mais aqui” – pensou.
As cadeiras do refeitório estavam vazias, Hanz sentou-se em uma delas, ficando a olhar para o faxineiro varrer o chão. Hanz deu um pulo na cadeira, assustando-se com o seu celular que começou a vibrar no seu bolso.
– Alo?
– Olá, Hanz. Como está?
– Ah… tia. Eu estou bem e você?
– Eu recebi a visita do seu advogado ontem. O que está pensando em fazer?
– Eu só estou querendo tomar conta do que é meu.
– Por acaso não confia em nós? Como você é ingrato, Hanz! Nós nunca pegaríamos seu dinheiro.
– Eu não disse que pegariam. Eu só quero mexer no que minha mãe me deu.
– Para quê quer tanto dinheiro agora? Você deveria se concentrar nos seus estudos. Por favor, venha casa para conversarmos.
– Tia, não fique ofendida. Eu não queria que sentisse isso, mas é natural que eu queria mexer nos bens que minha mãe me deixou.
– Tudo bem, Hanz, meu querido. Vamos conversar em casa, tudo bem?
– Sim. Quando quer que volte?
– Pode ser hoje, não pode? Eu vou ligar para a direção e pedir que você volte.
– A di… direção?
– Sim. Eu preciso dar minha autorização, meu querido.
– Ah, tudo bem tia. Eu vou hoje a noite.
– Não é perigoso?
– Não. Não é, eu pego um ônibus.
– Eu vou buscá-lo na rodoviária, depois me passe o horário certinho.
– Sim, tia.
– Um beijo, Hanz.
– Beijo.
A ligação foi encerrada, Hanz ficou olhando para seu aparelho celular. Ele discou o número de seu advogado e esperou até que ele o atendesse, começando a especular sobre como deveria abordar o assunto e se era necessária a sua presença para conversar com seus tios. E depois de tudo resolvido, Hanz colocou seu celular em cima da mesa.
– “Pelo menos vou resolver algumas coisas” – ponderou – “não vejo a hora de ter meu dinheiro. Depois vou poder fazer o que quiser”.
O problema de Hanz na atual conjuntura era ter que ir visitar o diretor a fim de avisá-lo que se ausentaria do colégio por alguns dias. O coração de Hanz estava acelerado só de pensar em ir até a secretaria, mas tinha que fazê-lo, tinha que dar um basta a seus medos.
O seu medo havia sido o ponto chave da briga com Kim. Se ele não tivesse medo de ficar sem a proteção de Kim no colégio, talvez não tivessem tido essa briga estúpida. No entanto, talvez eles nunca estariam juntos também.
E quando Hanz percebeu, ele já estava parado na frente do prédio da secretaria. Ele adentrou no local, encontrando um dos secretários do diretor, que ficava na recepção.
– Pois não?
– Eu preciso falar com o diretor – Hanz disse.
– Um momento – pediu, pegando o telefone para noticiar a presença de um aluno – pode entrar – disse em seguida, voltando aos seus afazeres.
Hanz respirou fundo e encheu-se de coragem, começando a subir um pequeno lance de escadas, chegando até a sala do diretor, dando duas batidas na porta.
– Pode entrar – a voz de Maximiliano fez os pêlos de seu corpo se arrepiarem, ele hesitou por um instante, mas abriu a porta, adentrando.
– Eu queria falar com você – Hanz falou com asco, fechando a porta atrás dele.
Maximiliano ficou deslumbrado com a presença de Hanz. Ele abriu seu aporrinhador sorriso para o aluno.
– Bom dia. Por favor, sente-se – disse, apontando para a cadeira.
Hanz sentou-se e ficou a olhar para a face daquele homem que tanto detestava.
– Eu vim avisar que vou me ausentar por três dias do colégio – disse rapidamente.
– Por qual pretexto? – indagou – não seria por causa de ontem, seria?
– Não, não é por esse motivo – respondeu – são assuntos pessoais.
– Eu já tinha conhecimento. Sua tia ligou-me a alguns minutos – revelou – uma senhora muito simpática, Golden.
– Era só isso – disse, erguendo-se da cadeira, fazendo Maximiliano levantar-se também.
– Ah, Golden. Eu gostaria de conversar com o senhor.
– Sobre?
– Sobre o ocorrido de ontem. Eu sinto que o senhor esteja sobressaltado com minhas ações – disse secamente.
Hanz olhou com desprezo para o homem a sua frente. Obviamente que Hanz estava pasmo com as ações do diretor, mas não queria falar sobre isso. Na verdade, queria sair correndo daquela sala.
– Acompanhe-me num chá. Assim poderemos conversar – sugeriu.
– Eu vou ser claro. Eu acho que você não está acostumado com pessoas assim, mas eu vou dizer o que eu penso – suspirou – eu não gosto de você, e ter vindo falar com você foi detestável. Se eu pudesse, eu gostaria de não olhar para sua cara e nem ouvir sua voz até o final do ano. E não, eu não vou fazer o quarto ano nesse colégio.
– Ah, eu fico doído com essas palavras tão frias, senhor Golden – disse, fingindo mágoa através de suas feições.
– E mais, eu odeio seu cinismo – irritou-se.
– Infelizmente, Maccario sofrerá com sua ausência – murmurou.
Hanz paralisou. Era incrível o poder que Maximiliano colocava em suas palavras.
– Não encoste um dedo sequer nele – vociferou baixinho.
– Oh, não! Por favor, longe disso, senhor Golden. Eu jamais faria algo dispensável para o nosso estimado Maccario – discursou – eu apenas queria pedir um pequeno favor – sorriu.
– “Favor?” – pensou com o coração acelerado – o que você quer?
– Um pequeno serviço. Se o senhor o fizer, eu prometo que o senhor Maccario permanecerá com uma estada saudável no Saint Rosre – riu baixinho, adorando o efeito que o nome Kim Maccario fazia no aluno.
– O que você quer? – indagou com desconfiança.
– Apenas deixe-me tocá-lo – pediu.
– Ah, seu filho da puta. O que você quer? – indagou, sentindo seu sangue ferver.
– Por favor, não grite e não use esse palavreado tão abjeto, senhor Golden. Eu acho que não precisa mais fazer esse favor para mim. Eu pedirei para o senhor Maccario, e, quando eu estiver a sós com ele, eu vou lembrar de suas palavras – disse sussurrante.
– Tudo bem – Hanz disse baixinho, abaixando sua cabeça, dando-se por sobrepujado.
Maximiliano caminhou até o menor, tocando nos seus cabelos cor de ébano, acariciando-o em seguida, deixando sua mão deslizar por sua nuca. Hanz fechou os olhos, tentando controlar-se para não sair correndo daquele lugar.
– Olhe para mim – Maximiliano exigiu.
Hanz abriu suas pálpebras, revelando um olhar carregado de nojo e ódio, para o divertimento de Maximiliano que adorava alunos mais rebeldes.
– Você é mais rebelde que Maccario – murmurou – eu aprecio isso.
Hanz começou a ser puxado para um canto daquele incomensurável escritório. Era uma área mais aconchegante. Havia um grande tapete de pele de animal jogado no chão e ao seu redor havia poltronas de veludo vermelhas.
– Sente-se – Maximiliano pediu.
O moreno sentou-se na confortável poltrona, observando Maximiliano com curiosidade ao mesmo tempo em que estava temeroso pelo o que ia acontecer com ele.
O diretor ajoelhou-se no chão e tocou na cintura de Hanz, começando a passar a mão pelo seu corpo, tocando no cós da sua calça, começando a puxá-la para baixo lentamente. Hanz fechou os olhos e jogou sua cabeça para trás, ele não queria ver o que ia acontecer.
– Não precisa olhar para mim se não te ambicionar – murmurou – apenas sinta o que vou lhe oferecer.
A roupa de baixo de Hanz desceu até os seus tornozelos, ele não via o que Maximiliano fazia, mas não sentiu mais nenhum toque no seu corpo. Hanz abriu seus olhos, olhando-o com indagação. Os dois ficaram se encarando, como dois leões prestes a se atacarem, e o primeiro a atacar foi Maximiliano, que tocou no membro adormecido de Hanz.
– Relaxe, Golden – pediu num sussurro.
Hanz tentou relaxar, mas estava tenso demais. O moreno jogou a cabeça no encosto da poltrona e cerrou os olhos, sentindo o afago que recebia daquela mão pesada. E a luta de Hanz foi interna, ao mesmo tempo em que sentia nojo e repulsa daquele homem, seu corpo se ascendia aos seus toques.
– Parece que está gostando – Maximiliano comentou.
– Cala a boca – gritou – faça depressa.
– Sim, eu o farei – riu alto – Maccario tem bom gosto realmente. Quando eu o vi pela primeira vez fiquei muito contente.
– Se eu soubesse como era esse colégio eu jamais teria vindo para cá.
– Que bom que você não tinha conhecimento desse colégio, então! – riu.
Os lábios de Maximiliano tocaram no membro rosado de Hanz, deixando sua língua envolvê-lo, chupando-o vagarosamente. As mãos de Maximiliano deslizavam pelas coxas de Hanz, sentindo que ele começou a tremer levemente com o prazer e o ódio que o consumiam.
O calor invadiu o corpo do menor ou era a sala que se tornou extremamente quente. Hanz tocou na gravata de seu uniforme, soltando-a um pouco, pois não conseguia respirar direito. Seu olhar era triste, ele mirava o teto branco, seus orbes estavam luminosos pelas lágrimas que surgiram no canto de suas pálpebras.
– “Ah… Kim, você teve que passar por isso todo esse tempo. Que nojo… que pena que eu sinto de você. Mesmo que você me odeie… eu vou ajudá-lo” – pensava.
Um tímido suspiro deixou a garganta de Hanz, ele inclinou sua cabeça para o lado, exibindo suas maçãs avermelhadas. Aquela visão para Maximiliano foi perfeita, ele aumentou a sucção, adorando ver à amargura do menor que tentava segurar suas sensações.
A tortura acabou quando Hanz gozou na boca de Maximiliano que continuou a chupá-lo. Quando terminou, levantou-se, olhando para Hanz que estava arfava na poltrona.
– Pode ir por hora, senhor Golden – avisou – e espero que volte nesses três dias ou o senhor Maccario ficará muito deprimido.
Com movimentos ligeiros Hanz se vestiu, caminhando até a porta do escritório o mais rápido que conseguiu, ele não queria ouvir mais nenhuma palavra. Ele estava com seu orgulho ferido e não podia fazer nada, felizmente Maximiliano não pediu algo mais intenso.
Quando saiu da secretaria, Hanz respirou o ar a sua volta com força como se tivesse sido privado dele nos momentos que estava com o diretor. E logo saiu dali, ele teria que arrumar suas coisas para a viagem, pelo menos ficaria longe daquele colégio por alguns dias.
Hanz foi diretamente até seu dormitório, arrumando uma pequena mochila com poucas roupas, pois grande parte de suas roupas ainda estava na casa de seus tios. Quando terminou, retirou o uniforme que usava e colocou uma calça jeans, uma blusa preta de manga comprida e para completar uma jaqueta jeans.
E antes que pudesse descansar, Hanz ligou para a rodoviária para confirmar o horário dos ônibus. E quando terminou de checar todos os pontos importantes, pegou sua mochila e saiu do aposento.
A chuva havia parado finalmente, mas o céu continuava acinzentado com a atmosfera gelada. Hanz caminhou até o refeitório, encontrando os garotos que estavam no intervalo.
– Hanz? – Leon o chamou, aproximando-se dele – o que deu em você na aula de química?
– Eu não estava me sentindo bem – disse – eu vou ter que sair por três dias do colégio.
– Por quê? – indagou.
– Eu tenho que resolver alguns assuntos com meus tios – disse – eu quero comer alguma coisa e logo vou partir.
Os dois continuaram conversando. Hanz comprou um lanche e sentou-se na mesa de seus colegas, conversando com eles, enquanto se alimentava.
– E quando você volta? – Hudi indagou.
– Daqui três dias – avisou – não ficarão longe de mim por muito tempo – brincou, rindo um pouco.
O sinal do término do intervalo tocou, os garotos despediram-se de Hanz e começaram a caminhar de volta ao prédio da escola. Hanz continuou sentado, mas não ficou sozinho por muito tempo. Corei sentou-se ao seu lado com um olhar curioso.
– Como você está?
– Eu estou bem – mentiu – eu vou viajar para a casa dos meus tios hoje. Vou voltar daqui três dias.
– Ah, já sei. Aconteceu algo na sua família! Eu sinto muito, Hanz – disse com um olhar preocupado.
– “Esse Corei é bobo mesmo” – pensou, permitindo-se sorrir – isso mesmo! E eu preciso resolver algumas coisas lá – disse.
– Eu vou ficar te esperando, então – sorriu.
– Veja se não vai se meter em muitas encrencas – Hanz pediu – fique longe dos garotos do quarto ano.
– Ah, eu não tenho culpa. Eles correm atrás de mim – disse num tom revoltado – ontem mesmo, um idiota disse que ia me mostrar como era bom mudar de lado.
Hanz permitiu-se rir alto com aquele testemunho. Corei ficou irritado com a reação de Hanz, mas permitiu que ele risse, pois o moreno parecia estar precisando se animar.
– Quem sabe um dia você venha para o lado do arco-íris – comentou bem humorado.
– Não mesmo! – disse ofendido.
– Ah, vamos lá, Corei. Com quem você ficaria nesse colégio? – indagou.
– Eu não gosto de homens – disse com convicção – mas se eu fosse escolher algum garoto nesse colégio. Seria… você – revelou.
A risada de Hanz morreu, ele se enrubesceu e ficou encarando a face envergonhada de Corei, que começou a se desculpar, gesticulando seus braços a cada instante.
– Eu sabia que você tinha outras intenções – a voz cortante de Kirios se fez presente na conversa. Os dois olharam para o lado, vendo o veterano que se aproximava juntamente com karateca.
Corei quis morrer, ele não queria ser apontado como homossexual naquele colégio, isso era um grande erro. Ele não quis dizer que gostava de Hanz, ele apenas quis dizer que se fosse para escolher alguém ali para se relacionar, seguramente seria Golden.
– Kim… – Hanz murmurou, olhando-o com cautela.
– Está indo embora do colégio? – Kim indagou num tom severo.
– Não – respondeu – “ele ainda está bravo” – constatou pelo o olhar do veterano.
– Por que está com essa mochila, então? – Kirios indagou.
– Eu vou resolver alguns assuntos com relação a minha mãe – respondeu.
Kim pareceu se abrandar um pouco ao ouvir aquilo, desde o momento que havia visto Hanz de mochila, o seu coração se apertou, pensando que ele poderia partir de Saint Rosre.
– E quando você volta? – Kirios indagou.
– Daqui três dias – falou – vou sair daqui a pouco – avisou, olhando para o seu relógio de pulso.
– Eu vou voltar para a aula, Hanz – Corei avisou, afastando-se em passo acelerado dali antes que Kirios começasse a ameaçá-lo por algum ensejo, pois o veterano já havia lhe lançado alguns olhares mortíferos.
– Boa viagem, Hanz e até mais – Kirios desejou, caminhando para fora do refeitório.
Agora o casal estava sozinho, alguns garotos mais atrasados estavam terminando de comer para voltar à sala de aula. Hanz levantou-se sem pressa, pegando sua mochila e a colocando nas costas.
– Eu vou indo – Hanz disse, almejando que Kim lhe dissesse algo, todavia o karateca ficou mudo.
Com passos arrastados Hanz começou a caminhar para fora do refeitório, olhando a todo instante para trás, vendo que Kim o observava em silêncio. Hanz parou de andar e ficou olhando-o de longe.
– Não vai me falar nada? – Hanz indagou – O que você vai querer fazer a partir de agora, Kim?
O karateca avançou na sua direção, ficando a alguns centímetros do calouro, olhando-o com certo agastamento.
– Eu quero saber se você se divertiu muito comigo – Kim disse – foi divertido para você ter a mim como seu cão de guarda?
– Não – respondeu, abaixando a cabeça.
– Não? Então não foi divertido? – sorriu amargamente.
– Pare com isso, Kim – pediu.
– Eu quero saber se você quer terminar comigo – falou – diga-me Hanz. Eu não vou lhe bater, lhe xingar, não vou fazer nada. Apenas me diga a verdade.
– Depende – respondeu, erguendo seu olhar.
– Depende do quê?
– Você quer que eu fale o que você quer ouvir ou o que eu realmente quero? Pois não estou conseguindo me comunicar com você – disse com irritação.
– A verdade – disse.
– Eu quero ficar com você – confessou – eu gosto de você, eu quero você como meu namorado, eu gosto do seu toque, do seu beijo, eu sinto a sua falta, eu me preocupo e desejo que você seja feliz.
– Nossa! Que discurso inflamado – riu baixinho.
– E eu odeio seu cinismo – resmungou – era isso o que eu tinha a dizer. Eu vou embora agora ou vou perder meu ônibus.
– Eu te levo – Kim ofereceu.
– Não – recusou.
– Por quê? – indagou, tocando no rosto do menor.
– Porque provavelmente vamos brigar e eu vou ser largado no meio da estrada – respondeu, permitindo-se sorrir.
– Eu prometo que te levo até a rodoviária mesmo que queira te matar – disse com um meio sorriso – eu quero conversar com você, enquanto isso.
– Kim… eu acho melhor conversarmos quando eu voltar e…
– Eu já decidi – disse com convicção, interrompendo-o – vamos logo.
Kim pôr-se a andar na frente, Hanz suspirou com certa impaciência e foi andando atrás. Eles chegaram no estacionamento, adentraram no carro e saíram.
O porsche preto saiu pela estrada, enlameando as rodas e a lataria. Hanz encostou-se ao banco de couro e ficou a olhar para frente, observando o dia acinzentado. Kim dirigia em silêncio, enquanto fumava seu cigarro. Maccario usava um par de óculos escuros para evitar a claridade contra seus olhos.
– Por que está indo para casa? – Kim indagou, soltando a fumaça daquele cigarro por entre seus lábios.
– Meus tios querem falar sobre a herança – respondeu – eles estão se sentindo ofendidos por eu ter pedido o controle dela.
– Mas você está no seu direito – comentou.
– Sim, mas eles estão desconfortáveis comigo – disse, tossindo um pouco por causa daquela fumaça.
– Você disse que eles não gostavam de você – murmurou – por que querem conversar com você então?
– Eles querem manter as aparências. Minha tia até gosta de mim, meu tio não me suporta, mas faz um esforço para me tratar bem – suspirou – vão ser três dias tensos.
Kim permitiu-se sorrir, ele virou o volante embrenhando-se na estrada de pedras. O carro passava por alguns pedregulhos e galhos de árvores que haviam sido arrancados nas árvores pelo temporal da noite anterior.
– Kim…
– Hum?
– Você pode me perdoar? – pediu, olhando de canto para o karateca.
– Eu não sei.
Hanz se afundou no banco do carro e ficou olhando para a direção oposta do karateca. Os minutos que se passaram foi uma tortura para Hanz, ele estava desejando ter ido de ônibus.
– Que horas sai seu ônibus? – Kim indagou, quebrando o silêncio.
– Às cinco horas – respondeu.
– Vai chegar cedo – comentou.
– Eu trouxe alguns livros para me distrair – avisou – e meu Ipod está cheio de músicas, não vou ficar entediado.
Ao longe Hanz avistou a cidade, eles estavam no final da grande montanha, e já não estavam mais sozinhos na estrada. Eles pararam num posto para abastecer o carro e Kim saiu, a fim de passar o seu cartão no caixa.
Com um suspiro, Hanz saiu do carro também, olhando para a frentista que colocava gasolina no automóvel. Quando ela terminou, entregou a chave do carro para Hanz e se afastou com um largo sorriso.
– Vai querer comprar alguma coisa? – Kim indagou.
– Não preciso – respondeu, entrando no carro.
O porsche preto deixou o local, adentrando pela cidade até chegar na rodoviária. Porém Kim desviou-se da entrada principal, estacionando o carro na rua.
– Obrigado – Hanz agradeceu, puxando sua mochila que estava no banco de trás.
– Aonde pensa que está indo? – Kim indagou, apagando seu cigarro no cinzeiro que ficava abaixo do painel.
– Embora, oras! – respondeu.
– Ainda são três e meia – murmurou.
– Eu preciso comprar minha passagem – avisou.
– Eu pensei que tivesse comprado pela Internet.
– Não pensei nisso – disse com certa surpresa.
– Eu vou com você – disse.
Os dois saíram do carro e começaram caminhar até a rodoviária. Quando adentraram na grande estrutura, eles acabaram ficando mais próximos ao outro, pois havia muitas pessoas passeando pelos corredores.
Eles ficaram na fila do guichê e quando chegou na vez de Hanz, ele acabou comprando a passagem das 17:20 daquele mesmo dia. Ele se afastou agradecendo a atendente, que ficou encantada com a simpatia e beleza do calouro.
– Você ainda quer conversar comigo? – Hanz indagou.
– Sim – respondeu – vamos comer algo ali – disse, apontando para uma lanchonete.
– Tudo bem – disse, arrumando sua mochila que pesava.
Os dois ingressaram numa lanchonete bastante aconchegante. Eles sentaram-se na última mesa que ficava num canto isolado. A garçonete veio com um cardápio de papel, sorrindo assanhadamente para os dois garotos.
– O que vai pedir? – Hanz indagou, olhando para o cardápio.
– Um capuccino – respondeu.
– Só isso? – indagou.
– Eu não estou com fome – disse, colocando o cardápio na mesa, voltando sua atenção para Hanz que estava preso a sua leitura.
– Já escolhi – disse, erguendo sua mão para a garçonete que veio atendê-los rapidamente, Kim e Hanz não suspeitavam que as garçonetes da lanchonete estavam disputando no tapa para ver quem ia atender a mesa.
Eles fizeram seus pedidos e ela se afastou após enchê-los de perguntas sobre os ingredientes que cada um queria em cada pedido.
– Mulher estranha – Hanz comentou quando ela se afastou – eu queria um suco com laranja. E ela ainda perguntou quais ingredientes eu queria no suco – riu baixo em seguida.
– Você teve que falar com o Maximiliano para sair do colégio? – Kim indagou, chamando a atenção de Hanz.
– Ah… si… sim – disse com apreensão.
– E ele te disse alguma coisa? – indagou curioso.
– Ah… nada… fora do normal – respondeu afobado.
– Como assim? – indagou, notando que o calouro suava um pouco.
– Bom… ele falou algumas coisas… sabe?
– Que coisas ele lhe falou, Hanz?
– Ah… bom… comentários cretinos, coisas do tipo – sorriu amarelo.
– Você não me engana – suspirou – ele te ameaçou não foi? Eu o conheço, Hanz. O que ele falou para você?
– “Se eu falar o que ele disse, Kim vai explodir” – pensou – ele falou para eu voltar em três dias ou ele ia lhe fazer mal.
– Cretino – vociferou – o que mais ele disse?
– Mais nada.
Kim sabia que tinha mais alguma coisa que Hanz não queria lhe contar, mas não pensou que poderia ser algo tão grave. O karateca relaxou na cadeira e ficou olhando para o moreno, que movia seu pescoço de um lado para o outro, tentando alongá-lo.
– “Eu fiquei tenso agora” – Hanz pensou.
– Hanz, eu quero saber o que você pensa a respeito de mim – pediu.
– Como assim?
– Como na primeira vez que eu perguntei isso para você. Eu me lembro de cada palavra sua, mas eram falsas. Eu quero saber a verdade agora – disse.
Hanz refletiu um pouco e respondeu.
– Eu gosto de você Kim, de verdade. Isso começou a me incomodar com o tempo, eu quis dizer para mim mesmo que era amizade, mas foi mais forte – confessou – eu peço perdão por ter te traído dessa forma, mas eu não queria ficar sozinho no Saint Rosre, eu não sou forte como você.
– Por que você quis dizer para você mesmo que era amizade? – indagou com seriedade.
– Pois eu não queria me envolver tanto – revelou – você é difícil de se lidar, Kim. Eu tinha medo de você também, mas aconteceu. Eu não sei explicar, eu estou apaixonado por você. Pois se eu não estivesse, quando você me contou sobre o que fez no passado, eu teria ido embora sem hesitar.
– Eu não sou difícil de se lidar – disse revoltado – você que nunca ouve o que eu digo.
– Eu ouço, mas eu tenho vontade de fazer as coisas Kim – disse – você não pode me dizer que o fogo queima, eu só vou saber quando colocar a mão nele.
– Eu estava ajudando você – disse.
– Eu sei, eu sei. Eu agradeço por isso, eu acho muito legal da sua parte. Mas não adiantou você me dizer para não ficar sozinho com o professor Iago, eu não suspeitava que ele ia me agarrar daquele jeito – disse – eu fui ingênuo, mas eu aprendi. Eu aprendo desse jeito, Kim.
– E quanto ao diretor foi à mesma coisa. Eu pedi para não ficar a sós com ele – murmurou.
– Se você tivesse confiado em mim e dito o motivo, eu não teria ficado. Mas você simplesmente falou para eu ficar longe. Eu pensei que você tinha antipatia por ele, apenas isso – revelou – como eu ia saber que Maximiliano é um depravado? – indagou com revolta.
– Tudo bem, Hanz – disse – eu não vou ser estúpido. Ontem eu estava muito irritado, mas eu pensei bem. Apesar de me sentir traído, eu amo você e quero ficar contigo.
Hanz abriu um formoso sorriso ao ouvir aquilo, ele tateou a mesa, caminhando seus dedinhos até a mão do karateca, entrelaçando seus dedos nos dedos dele.
– Perdão, eu sou inseguro quanto aos meus sentimentos – murmurou – você é minha paixão, saiba disso. E eu vou ajudá-lo a sair dessa prisão invisível que você vive.
– Sua paixão? – riu baixinho – Realmente, é muito bom ouvir você dizendo isso.
Kim ergueu-se e inclinou seu tronco para frente, puxando a cabeça de Hanz na sua direção, dando-lhe um beijo brando e tépido nos seus lábios. Eles se separaram e Kim voltou ao seu lugar, no instante seguinte a garçonete se aproximou com os pedidos. Ela saiu rapidamente, com as bochechas rubras por ter presenciado o beijo.
– Eu espero que aquele idiota não venha me encher o saco – Kim murmurou.
– Ele não vai – Hanz disse com convicção – e eu acho melhor te contar o que ele realmente me disse.
– Ah, eu sabia que ele tinha dito mais alguma coisa – disse – ele não ia ser tão gentil com você.
– Ele disse que não ia te encher nesses três dias e não ia lhe fazer nada de mal se eu voltasse – falou, sorvendo alguns goles de seu suco.
Kim suspirou, pegando sua xícara e começando a tomar um pouco do seu cappucino que estava muito quente.
– Eu vou contar, pois ele vai comentar com você – Hanz falou baixinho, sentindo sua face esquentar, ficando com as maçãs do rosto vermelhas – ele… tocou em mim.
Nesse instante Kim engoliu o líquido quente de qualquer jeito, colocando a xícara em cima da mesa, tossindo em seguida, pois havia se engasgado. Hanz olhou o ataque que seu namorado estava sofrendo e quando a tempestade passou, Kim voltou sua atenção a Hanz.
– Te… te tocou? – indagou perplexo.
Hanz balançou a cabeça positivamente.
– O que ele fez? Por que você deixou?
– Ele disse que te deixaria em paz se eu… bom… você sabe – disse, desviando seu olhar do karateca.
– Você transou com ele? – indagou num rugido, chamando a atenção de algumas pessoas que olharam para o casal. Hanz sentiu vontade de se enfiar embaixo da mesa, ele abaixou um pouco a cabeça e pediu mais descrição para Kim.
– Não, não – respondeu – ele… bom… Tocou-me.
– Tocou aonde? – indagou.
– Ah… ele me… chupou – revelou, soltando sua respiração.
Maccario ficou com os olhos e boca arregalados, esperando que seu cérebro digerisse aquela informação. O toque dos dedos do Hanz em seu braço lhe trouxe a realidade.
– Perdão… – Hanz pediu – mas eu fiquei com medo que ele fosse lhe fazer algo. Ele me ameaçou… e eu…
– Não precisa se explicar – o interrompeu, contendo-se – eu sei como ele é, e ele sabe ameaçar muito bem. Agora me escute, Hanz. Ele vai fazer isso sempre, ele sempre vai te ameaçar, por isso, não o atenda, não caia nesse truque. Ele sempre me usou como bem entendeu, ele vai continuar a fazer isso com ou sem você.
– Eu não posso suportar isso – disse – eu não podia aceitar, perdão.
– Prometa-me não fazer mais nada que ele pedir – pediu.
– Não – recusou-se.
– Hanz! Não seja idiota. Prometa isso! – pediu dando um tabefe na mesa.
– Não posso – disse – eu vou quebrar essa promessa.
– Hanz… por favor, eu não vou me perdoar se ele te tocar novamente – disse.
Hanz ficou em silêncio, ele abaixou sua cabeça e fechou suas pálpebras para não encarar a face enfurecida de seu namorado. Mas Hanz achou melhor contar, pois se Maximiliano comentasse isso, com certeza Kim ia sentir-se traído outra vez.
– Não faça mais isso, Hanz – pediu, acalmando-se um pouco, acariciando a mão de seu namorado – por favor.
– Desculpe-me… eu só te chateio mesmo – murmurou.
– Você está enganado – disse, chamando a atenção de Hanz, que ergueu seu olhar – você me faz feliz, eu já havia desistido dessa vida, mas quando eu te conheci, eu voltei a me sentir vivo.
Um sorriso cintilante desenhou-se na face do calouro, eles aproximaram-se novamente e se beijaram afetuosamente, voltando aos seus lugares, quando terminaram.
O tempo foi passando e o casal caminhou até a plataforma de embarque. As pessoas estavam subindo no ônibus, Hanz estava ao lado de Kim, os dois estavam com vontade de se beijarem, mas não podiam fazer isso em público.
– Boa viagem – Kim desejou – volte logo.
– Eu volto em três dias – disse, abraçando-o carinhosamente, afundando sua cabeça na curva de seu pescoço, beijando discretamente a região.
– Boa sorte e tomara que resolva tudo – disse – ah, que vontade que eu estou de te beijar.
– Eu também – confessou – eu queria ter me acertado antes com você.
– Concordo. Pois eu poderia te jogar no quarto e me despedir apropriadamente – riu baixinho.
– Eu vou indo, Kim – disse, afastando-se com muito custo das mãos fortes do karateca.
Ambos se olharam pela última vez e Hanz adentrou no ônibus, sendo seguido pelo motorista que foi até seu assento, começando a sair com o veículo. Hanz acenou para Kim da janela, o karateca apenas ficou observando-o se afastar com a saudade começando a bater no seu peito.
– “Tem razão Kirios. Se eu me separasse dele por algo tão estúpido, eu jamais me perdoaria. E mais uma vez você me deu um sábio conselho. Eu ainda não entendo como as pessoas podem lhe chamar de louco” – pensou, permitindo-se sorrir.
Maccario retirou seu pacote de cigarro do bolso, puxando uma unidade e a ascendendo com seu inseparável isqueiro.
– “Eu vou precisar comprar mais uma caixa de cigarros para conter minha ansiedade na sua ausência, Hanz” – pensou, dando uma tragada no tabaco, sentindo a nicotina** operar no seu interior.
OoO
Continua…
Um capítulo feliz! Pronto, ninguém precisa ficar tão triste. Contos de Garotos pode estar acabando, mas eu posso fazer uma série, com outros volumes e os especiais. Obrigada pelas sugestões.
Quem diria que Kirios aconselharia novamente nosso karateca?
Cada ves mais amando esse amável conto!
sz
Que pena que já está acabando…
;/
Eu to amado esse conto ja indiquei a vários amigos parabéns ao escritor(a)
~~Tomara que tenha mais volumes.
Uma continuação… Rs’