Contos de Garotos – Capítulo 19 – Olho Por Olho, Dente Por Dente
Contos de Garotos
Capítulo
XIX
Olho Por Olho, Dente Por Dente
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“A paixão jamais combina com lógica ou com racionalidade. A paixão é uma prisão paradisíaca”. (autor desconhecido)
oOo
O silêncio da noite era estilhaçado pelas respirações ofegantes dos dois alunos que adentraram furtivamente no prédio da secretaria. Eles tentavam não fazer barulho, mas o assoalho de madeira era velho e rangia a cada passo que davam.
Hanz estava apreensivo, olhando para os lados a cada instante e Kirios estava mais sério, prestando atenção aos detalhes, olhando para os lados e para o teto, procurando qualquer coisa que pudesse acusá-los.
O louro ergueu o braço e chamou o moreno, mostrando que o caminho estava livre, eles começaram a subir em silêncio, chegando ao escritório de Maximiliano. Kirios rodou o lugar com passos ligeiros e depois fechou a porta, pegando uma lanterna e a colocando na sua boca, para usar suas mãos a bel-prazer.
Numa mochila eles pegavam o equipamento de vídeo que era muito compacto. Hanz pegou duas mini câmeras e Kirios pegou a cadeira que estava numa esquina e levou até um canto.
– Droga, eu não alcanço – Hanz reclamou num sussurro.
– Sobe nos meus ombros – Kirios pediu.
O moreno nem hesitou, ele subiu nos ombros do veterano ficando numa altura suficiente para implantar uma pequena câmera na parede, escondendo-a com uma fita adesiva, permitindo apenas a lente aparecesse para exercer sua função.
Hanz e Kirios fizeram o mesmo procedimento em outras partes do escritório, até mesmo no banheiro. Quando terminaram, ambos ofegavam pela excitação de estarem fazendo algo perigoso e proibido, e, além disso, eles não tinham terminado.
– Vamos ao quarto – Hanz sussurrou.
Eles saíram do escritório em silêncio, olhando com atenção para os cantos escuros, usando apenas a intuição para chegar ao outro cômodo, pois não utilizavam as lanternas. Quando chegaram, Kirios pediu para que Hanz parasse de andar, o louro colocou seu ouvido encostado à porta de madeira, tentando captar algum som.
A porta abriu lentamente, fazendo um rangido amolador e importuno, eles adentram no quarto, pisando devagar no carpete de madeira. Desta vez Hanz não se preocupou muito em olhar o cômodo, ele queria terminar logo. Com um puxão arrastou Kirios até um canto do quarto e empurrou os ombros do louro para baixo, subindo em cima dele.
– Você está folgado – Kirios reclamou num sussurro.
– Vamos acabar logo com isso – disse num tom rouco.
E as câmeras foram colocadas pelo quarto. Quando terminaram, Hanz deu um tapa na sua testa, ele havia se esquecido de colocar os equipamentos de áudio também. Kirios mostrou-se pasmo pelo esquecimento do mais novo, mas mesmo assim resolveu ajudá-lo.
O equipamento de áudio foi colocado debaixo da cama e de alguns móveis. Quando terminaram, voltaram ao escritório, colocando-o embaixo da mesa e em outras partes. Quando finalmente terminaram, eles sorriram.
– Vamos embo…
Hanz não terminou de falar, pois a mão forte de Kirios calou sua boca, eles ficaram em silêncio, ouvindo o som de passos no andar debaixo. O louro correu até a porta e ouviu o som de vozes.
O coração de Hanz estava batendo num rápido compasso, enquanto sua mente estava projetando rotas de fuga. E antes que Hanz pudesse sugerir algo, Kirios o puxou pelo escritório, escondendo-se dentro de um armário.
Os dois ficaram sentados, olhando pelas frestas da porta de madeira. Quando a porta do escritório abriu, eles prenderam suas respirações. Era Maximiliano que adentrou juntamente com o professor de química.
– Esse educandário está me estressando – Maximiliano falou, caminhando até uma poltrona, sentando-se nela – não vai sentar-se?
Iago suspirou, o professor acabou por se sentar na poltrona à frente, olhando para o diretor com fadiga.
– Você vai deixar a diretoria para o seu irmão mais velho? – Iago indagou.
– Eu estava almejando coisas novas – revelou – eu estou fadigado desse educandário.
– Como você espera que seu irmão lide com esse colégio? – indagou – o que você fez aqui é muito grande.
Maximiliano sorriu, ele passou a língua por seus lábios, exibindo um olhar febril para Iago. O diretor ergueu-se da cadeira e foi até o mais novo tocando no seu cabelo rebelde, deixando seus dedos deslizarem pela face macia de Iago.
– Você gostaria de viajar comigo, Iago? – Maximiliano indagou.
– Para… para onde? – indagou, aturdido por aquele olhar penetrante.
– Eu estou pensando em partir para a Rússia – revelou.
– Rússia? O que quer fazer nesse fim de mundo? – indagou com surpresa, elevando seu tom de voz.
– Eu tenho alguns negócios a resolver nessa nação – disse – e eu gosto da atmosfera daquele recinto.
Iago torceu o nariz, olhando para o lado, desviando seu olhar daquela face risonha. Uma mecha cor de ébano foi puxada, Maximiliano aproximou-se o suficiente para encostar seu lábio na bochecha do professor.
– Acho melhor não – Iago disse, empurrando Maximiliano para trás, erguendo-se rapidamente.
– Está pensando naquele estudante? – indagou com um pouco de ciúme que jamais seria perceptivo na sua voz, apenas seu coração que se fechou ao indagar algo tão perturbador.
– Qual aluno? – indagou com surpresa.
– Não sou ingênuo, Iago. Eu tenho informantes nesse ginásio – revelou – você tem interesse num educando, que por coincidência eu igualmente tenho.
A risada de Iago cortou o ambiente, ele caminhou com passos rápidos até a porta, abrindo-a rapidamente.
– Ingenuidade. Você não nasceu com isso, Maximiliano – disse.
– Não vai me responder? – Maximiliano indagou com um largo sorriso.
– Não – respondeu – você quer me chantagear com alguma coisa de novo. Eu estou cansado e vou para meu dormitório.
– Eu mando em você – disse num tom afável – você não pode retirar-se daqui. Como irá se habituar com o salário avarento dos outros colégios?
Iago não respondeu, ele saiu do escritório batendo a porta de madeira. Maximiliano riu baixinho, tocando nos seus cabelos com cuidado, penteando-os, ele sentou-se na mesa de trabalho, começando a olhar alguns documentos.
No armário, Kirios e Hanz estavam pasmos com o que acontecia naquele escritório. As câmeras e vídeo iam revelar muitas coisas sobre aquele homem.
Alguns minutos depois, Maximiliano deixou o escritório, apagando a luz e fechando a porta. Kirios foi o primeiro a sair do armário, sentindo seu corpo doer por ficar tanto tempo encolhido, Hanz saiu logo atrás, gemendo baixinho.
– E agora? – Hanz indagou num sussurro.
Kirios foi até a janela, abrindo-a e vendo a altura. Se eles pulassem provavelmente ficaram machucados, ele fechou a janela e foi até a porta, abrindo-a lentamente. Os dois começaram a andar pelo corredor, ouvindo os passos do diretor no seu quarto, eles desceram as escadas em silêncio e finalmente alcançaram a saída.
Hanz parou para respirar, sentindo um alívio momentâneo por estar sentindo a brisa externa lhe acariciar a face, porém, Kirios o puxou e começou a se afastar daquela pequena construção.
– Isso foi perigoso! – Hanz falou, permitindo-se sorrir – mas deu certo.
– Não, Hanz. Isso foi o mais fácil – Kirios disse, encostando-se numa dar árvores – agora que vem a parte difícil.
O moreno sentou-se no gramado úmido pelo sereno daquela madrugada, ele olhou para o chão em silêncio, pensando nos próximos passos com angústia. Ele iria se submeter a algo horrível para ajudar seu namorado, e era mais fácil falar do que realmente fazer.
Kirios aproximou-se de Hanz, ele estendeu a mão para o moreno que a segurou, deixando que o veterano o erguesse num único puxão. Os seus olhares se encontraram, Hanz fez a menção de abaixar sua cabeça novamente, mas a mão de Kirios fechou-se no seu pescoço.
– Meu pagamento – Kirios disse.
– Que? – indagou com surpresa, sentindo aquela mão lhe apertar.
O louro sorriu, fechando sua mão com mais força no pescoço do moreno, que abriu a boca suavemente em busca do seu valioso oxigênio. O veterano aproximou-se e beijou os lábios do menor, envolvendo-o com sua língua hábil, pressionando suas cabeças. A diferença entre Kim e Kirios era gritante naquele momento, diferentemente do karateca, Kirios era agressivo, empurrava sua língua com autoridade, suas mãos apertavam o pescoço e a cintura de Hanz como se desejasse arrancar sua carne.
Quando se separaram, Hanz tentou dar um passo para trás, mas as mãos do louro ainda lhe prendiam, e antes que protestar os lábios do maior voltaram a lhe pressionar. A mão que estava na cintura desceu por seu corpo até suas nádegas, apertando-as, deixando deslizar até o meio de suas pernas, empurrando seus dedos grossos pelo jeans preto do moreno.
– Chega! – Hanz pediu, quando conseguiu separar as bocas.
– Eu não te dei a opção de pedir nada – disse secamente.
O louro deu alguns passos para trás, encostando Hanz contra a madeira úmida daquele pinheiro. A mão que apertava o pescoço do menor foi retirada para o alívio de Hanz. Kirios colocou suas duas mãos espalmadas no tronco de árvore, lado-a-lado com a cabeça do moreno.
– Kirios… por favor – pediu.
– O que você quer? – Kirios indagou.
– Que você pare – disse o óbvio.
– Pare de quê?
– De me beijar, sufocar, sei lá – respondeu.
– Só isso? – indagou.
– Sim – respondeu.
Kirios riu baixinho.
– Então eu posso te comer – falou com convicção.
– Isso não! – disse mais alto.
– Você não especificou – murmurou – o que eu não posso fazer com você?
– Não pode me tocar – disse rapidamente – entendeu?
– Só isso? – indagou com um sorriso sádico.
Hanz engoliu em seco, ele não sabia como aquele jogo de palavras iria lhe prejudicar. Com um pouco de calma tentou pensar em como afastar aquele garoto que lhe comia com os olhos.
– Sim – respondeu.
– Bom, então Hanz. Eu não posso te tocar, mas você pode se tocar – disse.
– Ah… eu sabia que ia ter isso – resmungou – Kirios, por favor. Você não é amigo de Kim?
Kirios pareceu meditativo, ele afastou-se de Hanz dando alguns passos para trás.
– Você ficou tão nervoso comigo. Eu penso se irá conseguir lidar com Maximiliano – disse.
– Ah… você estava me testando? – indagou com irritação – “Não acredito! Que cretino” – pensou.
– Óbvio – respondeu – eu só te tocarei quando Kim der permissão. Resumindo: nunca.
A respiração de Hanz voltou ao normal, ele deslizou pelo tronco do pinheiro e ficou sentado no gramado. Kirios o observava em silêncio, vendo a feição angustiada do menor.
– Vai mesmo fazer isso? – Kirios indagou.
– Sim – disse com convicção, erguendo um olhar determinado para o louro que se permitiu sorrir, adorando a coragem do calouro.
– Então vamos logo preparar o equipamento – Kirios disse – pois eu quero que você faça isso o quanto antes.
– Eu também!
Os dois voltaram a caminhar pelo colégio. Eles adentraram no quarto de Kirios, onde o colega de quarto do louro ainda estava acordado, ouvindo música e lendo uma revista.
– O que você anda fazendo com esse garoto, Kirios? – ele indagou, olhando para Hanz que estava encostado a porta do quarto.
– Não é da sua conta, Marius – Kirios respondeu – agora saia do quarto, pois vou usá-lo.
– O que? Está falando sério, Kirios? – indagou com indignação, erguendo-se com os braços cruzados, exibindo um olhar desafiador para o louro.
Hanz encolheu-se num canto, ouvindo os dois começarem a discutir. Marius estava vermelho e gesticulava seus braços reclamando, enquanto Kirios estava com o semblante impassível, respondendo a tudo que o seu companheiro de quarto dizia com escárnio.
– “Isso vai dar briga” – Hanz pensou – “Não quero nem ver…”.
– Sai agora – Kirios falou.
– Não vou sair, eu…
O garoto não terminou de falar, a mão de Kirios fechou-se na região dos rins pressionando três dedos num ponto crítico de muita dor. Marius gemeu baixinho e começou a caminhar em direção a porta, olhando com zanga para Hanz antes de sair.
– Eu odeio repetir – Kirios disse friamente, trancando a porta do quarto.
Os dois começaram a preparar o equipamento. As imagens eram enviadas para um laptop que Joana havia emprestado para Hanz, e as gravações de áudio também. Foi aconselhado que a cada hora, eles ajeitassem o programa para que pegasse o áudio e vídeo e enviasse para um e-mail criado justamente para essa função. Assim a informação não ficaria apenas no computador, impedindo que eles perdessem os dados.
– Para qual e-mail vamos mandar? – Kirios indagou.
– No meu, no seu, vamos criar mais dois também – disse – não podemos perder as informações. E o áudio e vídeo vão ser compactados num arquivo, melhor enviar cada ciclo para um e-mail diferente. Vamos fazer vários.
– Sim, sim, vamos programar isso – disse – eu vou mandar para o do meu irmão também.
– Hei! Eu não quero todo mundo vendo esse vídeo – reclamou.
– Não tem que reclamar. Se Maximiliano não aceitar suas chantagens, você vai publicar isso em rede nacional. Vai ser bem pior – disse.
Hanz silenciou-se, Kirios tinha razão, todavia duvidava muito que Maximiliano ia negar-se a obedecer as suas chantagens caso seu plano realmente surtisse efeito.
Momentos mais tarde, Kirios ainda configurava algumas opções, aprendendo a mexer com o programa. Hanz que até agora não havia parado para descansar, acabou dormindo na cama do louro.
As horas foram se passando e os primeiros raios de luz passaram pelas frestas da janela, iluminando parcialmente o quarto. Kirios estava no computador ainda, enquanto Hanz dormia. Eles estavam exaustos, principalmente o louro, que passou horas e horas lendo com afinco as informações vitais para o bom funcionamento de tudo.
As pálpebras de Hanz abriram-se, ele olhou para o louro que estava encostado a parede do quarto, olhando para a tela do laptop. Hanz passou a mão por seus olhos e ergueu-se, indo até a cama que Kirios estava sentado, ficando ao seu lado.
– Você não dormiu? – Hanz indagou.
– Não.
– Por quê?
– Eu estava programando algumas coisas, além de entender o sistema de coleta de dados – disse compenetrado na sua leitura.
– Durma um pouco – Hanz pediu.
– Durma você – replicou.
– Não pode ir para a aula assim.
– Certamente. E quando irá ver Maximiliano?
– Hoje à noite – respondeu.
– E o que vai fazer com Kim?
– Eu não sei – disse – será que ele vai ficar me procurando pelo colégio?
De repente o telefone celular do louro tocou.
– Deve ser o seu namorado. Você ainda tem dúvidas que ele vai te procurar? – comentou com um sorriso humorado no rosto.
Kirios colocou o laptop no colchão e correu até a mesa, pegando o aparelho que vibrava e tocava. O louro sorriu ao constatar que era o karateca e atendeu.
– Fala Kim.
– Você viu o Hanz?
– Sim – respondeu um pouco hesitante.
– Onde?
– Ele estava… andando… pelo campus – disse pausadamente, pensando nas suas palavras.
– O que? Andando? Mas você falou com ele? – Maccario indagou com surpresa e preocupação.
– Eu estava passeando com meu irmão e o encontrei. Ele disse que… teve um… pesadelo, eu não entendi direito.
– Passeando com seu irmão? Sabe onde ele está agora?
– Não – respondeu seco.
– Eu vou procurá-lo. Obrigado, Kirios.
– Boa sorte.
O louro olhou para Hanz que já estava de pé.
– O que ele disse?
– Ele está te procurando – respondeu – isso respondeu a sua pergunta?
– Ah?
– Kim não vai deixá-lo sozinho – disse – você precisa distraí-lo enquanto vai falar com Maximiliano.
– Você não poderia fazer isso?
– Eu vou estar tomando conta disso – disse, apontando para o laptop – eu vou pedir para Julian ajudar.
– Ele é confiável?
– Sim – respondeu.
Hanz ficou hesitante, não se contentando com aquela resposta.
– Tem certeza? – indagou.
– Sim.
– Mas… ele não vai ficar perguntando o motivo?
– Provavelmente vai indagar o motivo – respondeu – qual o problema? Qualquer um indagaria. Faz parte da nossa natureza.
– Eu vou confiar em seu julgamento, Kirios – falou com agastamento – eu vou procurar o Kim. Já são quatro horas… ah! Eu estou cansado.
– Lembre-se, você teve um pesadelo, ficou com medo e resolveu caminhar pelo campus na madrugada – disse.
– Que desculpa ridícula – reclamou.
– Eu não pensei em nada melhor – disse, voltando a sentar-se na cama, puxando o laptop para o seu colo – melhor ir logo, pois se ele aparecer por aqui, eu não vou conseguir segurar a fera.
Hanz riu baixinho e se despediu do louro, correndo para fora do dormitório do quarto ano. Ele ficou vagando pelo campus e quando finalmente avistou seu namorado, seu coração acelerou. Estava na hora de dizer mais mentiras ao karateca.
– “Eu não queria mentir mais” – pensou com tristeza.
– Hanz! – gritou – você está bem? – indagou ao se aproximar do moreno, tocando na sua face gelada.
– Ah… sim, eu estava andando – respondeu.
– O que houve?
– Eu… tive uns sonhos ruins – respondeu, abaixando seu olhar, não conseguindo encarar a face preocupada de seu namorado e mentir ao mesmo tempo.
Kim abraçou o menor, acomodando-o nos seus braços, ele beijou a testa do seu namorado afetuosamente.
– Eu estou aqui – sussurrou – não precisava sair do quarto. Qualquer coisa pode me chamar, eu não sei aconselhar muito bem, mas prometo que sempre lhe protegerei.
– Eu sei Kim – disse, apertando os braços do maior, sentindo seu coração se despedaçar ao ouvir palavras tão doces – eu sei, desculpe-me.
– Não precisa se desculpar – disse – está muito frio aqui fora. Vamos entrar, você precisa descansar.
– E tem aula daqui a pouco – resmungou.
Kim sorriu e começou a puxar seu namorado para o dormitório. Quando entraram no quarto do karateca, Hanz foi colocado na cama, onde ele acabou dormindo sem dizer uma única palavra, sentindo os malefícios do choro contido que estava preso ao seu peito. Maccario deitou-se ao seu lado, zelando seu sono até que dormiu abraçado ao seu anjo.
Horas mais tarde o despertador de Maccario começou a tocar, o karateca remexeu-se na cama e deu um tapa no aparelho que parou de fazer barulho, mas o leite já havia sido derramado, os olhos de Hanz estavam abertos, olhando para Kim.
– Eu esqueci de desligar essa merda – praguejou – durma Hanz.
– Eu vou para a aula – disse.
– Não, fique aqui. Você dormiu muito pouco – sorriu docilmente – afinal eu não deixei você descansar quando chegou.
Hanz acabou sorrindo com aquele comentário. Realmente estava cansado e Kim não havia deixado que ele descansasse. Todavia, quem disse que o calouro não desejou aquela recepção maravilhosa? Secretamente, Hanz havia imaginado como seu namorado iria abordá-lo quando chegasse, e para variar, Kim havia saído melhor que a encomenda.
– Eu vou para a aula – Hanz disse, levantando-se lentamente. E apesar do cansaço, sua mente estava agitada, seu sangue circulava com mais fervor, ele tinha um objetivo nesse dia e ninguém iria pará-lo – “é hoje que você provará de seu veneno, Maximiliano” – pensou com um ligeiro sorriso no rosto.
Kim beijou os lábios curvados de seu namorado. O casal começou a se arrumar para a aula, Hanz voltou para o seu dormitório, afinal seu uniforme estava lá.
– Bom dia, Hanz – Corei sorriu para o calouro.
– Bom dia – sorriu, fechando a porta atrás dele.
O moreno vestiu seu uniforme, arrumando sua gravata devidamente. Depois saiu do quarto com o loirinho que começou a especular sobre a viagem, mas desta vez o humor do calouro estava melhor e ele respondia as perguntas com ânimo, chegando a comentar algumas coisas.
No refeitório, os garotos estavam tomando o café da manhã. E diferentemente do horário do almoço e do jantar, na manhã o refeitório ficava mais silencioso, os garotos estavam sonolentos, ninguém brigava ou mexia com ninguém.
Hanz sentou-se com seu grupo de colegas. O moreno tomava seu café em silêncio, ouvindo os outros conversarem até que percebeu que alguém estava ausente na mesa do café.
– Onde está o Hudi? – Hanz indagou.
– Ali – disse Leon, apontando para uma mesa.
Do outro lado do refeitório estavam Hudi e Miles. O ruivo estava tomando seu café enquanto conversava com seu atual namorado, e quanto a Miles, este ouvia todo o falatório do menor em silêncio, como sempre.
– Ele parece feliz – Hanz comentou com um sorriso picante.
– Sim – Leon disse – ele fala que está só com ele por causa do contrato, mas os dois não se desgrudam.
– “Só por causa do contrato? Que nem eu estava…” – Hanz pensou com melancolia – eles ficam juntos o tempo todo?
– Sim, o Hudi nem anda mais com a gente – Amín resmungou, embarcando na conversa – e só fica com aquele garoto chato. Ele não abre a boca! Não sei o que ele viu nele.
Os garotos ficaram olhando para Amín que parecia revoltado com aquela situação, Haziel começou a rir alto chamando a atenção de algumas pessoas. A risada do irmão gêmeo cortava o silêncio daquele refeitório.
– Ele está com ciúmes – Haziel disse.
– Não estou não! – Amín retrucou.
– Claro que está. Afinal você sempre deu em cima do Hudi – Leon provocou.
– Não dei não! – replicou.
– Ah… dava sim! – Hanz disse, rindo junto com os demais.
Amín bateu a mão na mesa e se afastou com passos rápidos. Sua face estava corada e seus músculos tensos pela irritação que tomou seu corpo. Quando ele se afastou, Haziel se levantou com um sorriso divertido no rosto.
– Eu vou acalmar a fera – disse para Hanz e Leon, afastando-se em seguida.
– Parece que ele ficou bravo – Leon comentou – que besta! Estávamos apenas brincando.
– Ah, Amín é esquentado, também – Hanz comentou – eu não entendo como o Corei pode ser irmão desses dois.
– Nem eu, aquele moleque é um chato – resmungou – o legal é que ele senta na mesa do heterozinhos da escola, assim desgruda da gente.
Hanz olhou para um canto onde havia três mesas redondas cheias de garotos heterossexuais. Se fossem somar todos os garotos que não viviam ao lado do arco-íris, como Hanz classificava, ao todo resultaria em vinte rapazes.
– Dava para encher uma sala – Hanz comentou.
– Hum, uma sala só de heteros? Interessante – sorriu – só nesse colégio mesmo para os heterossexuais serem estranhos. No mundo afora, nós somos os esquisitos.
– Eu fiquei surpreso com esse colégio. Será que na seleção eles fazem um questionário que responde a opção sexual do aluno? – Hanz indagou.
– Pelo jeito sim, pois esse colégio é anormal – murmurou – não dá para reunir tantos gays assim, Hanz. Impossível. Esse colégio está lotado, são muitos garotos.
– Concordo, eu até acho engraçado – riu baixinho – mas eu me sinto bem aqui, afinal ninguém fica fazendo piadinhas machistas ou me apontando com o dedo.
– Acho que essa é a opinião de todos, Hanz – Leon falou – E o mais interessante é quando algum se converte.
– Sério? Quem se converteu? – indagou com surpresa.
Leon aproximou-se mais do moreno, Hanz ficou preparado para ouvir a fofoca. Leon apontou para um canto prudentemente, onde alguns alunos do quarto ano estavam sentados.
– Está vendo aquele garoto com um cabelo trançado?
– Sim, sim!
– Esse!
– Mesmo? Quem conseguiu convertê-lo? – indagou com surpresa.
– Um garoto do quarto ano chamado Marius – respondeu.
– Ma… Marius? Por acaso é o colega de quarto do Kirios? – indagou com surpresa.
– Ah! Então você o conhece? Esse mesmo – disse.
– Mas eu não entendo o porquê de pegarem tanto no pé do Corei. Ele é legal – Hanz resmungou.
Leon olhou para o menor com agastamento. Ele já havia dito que o garoto era um grude, além de infantil. O que mais Hanz precisaria ouvir para concordar com ele?
– Ele é cheio dos “não me toque” – Leon disse com um pouco de revolta por se lembrar dos dias que foi obrigado a andar com o irmão menor dos gêmeos – ele andou um pouco com a gente por conta dos gêmeos. Mas foi uma chateação, tudo que a gente comentava, ele dizia: isso é nojento! Ai, que horror! Nossa, vocês não prestam! Parem de falar isso! Eca, que nojo! – disse, imitando a voz do loirinho, fazendo Hanz quase cair da cadeira de tanto rir.
Hanz e Leon ficaram conversando, fazendo piadas sobre os rapazes das outras mesas, fofocando um pouco sobre outras pessoas, até que o sinal do término do café da manhã tocasse. Os garotos começaram a levantar preguiçosamente, caminhando até as salas de aula.
Já na sala, Hanz sentou-se no seu lugar habitual. Era aula de matemática e todos estavam fazendo alguns exercícios. No fundo da sala estava Maccario, absorto nos seus pensamentos, olhando para seu namorado.
– Senhor Maccario – o professor chamou o karateca.
– Hum?
O professor puxou a folha em branco de Kim vendo que ele não havia nem copiado o exercício que estava no quadro negro.
– Será que o senhor poderia prestar mais atenção nas aulas? – indagou com severidade.
– Sim – respondeu seco.
– Por favor, comece a fazer o exercício – pediu.
O professor se afastou de Kim que praguejou baixinho algum palavrão, começando a copiar a lição do quadro negro sem interesse, afinal já havia estudo essa matéria anteriormente.
O ciclo de aulas finalmente acabou. Essa sexta-feira era definitivamente a mais cheia de todos os dias da semana, os garotos tinham diversas aulas até as seis horas da tarde. Quando o sinal de encerramento tocou, todos os garotos ficaram aliviados.
Todos andavam engomados com seus pomposos uniformes, mas como era sexta-feira, antes mesmo de sair do prédio, os garotos começaram a retirar a gravata que lhe apertavam o pescoço, retirando o casaco, retirando a camisa para fora da calça. Um zoneamento. Como um colegial deveria ser.
Hanz aproximou-se de Kirios que estava ao lado de seu irmão menor, ambos pareciam estar discutindo. Quando o moreno se aproximou, Kirios deu sua atenção a ele.
– Eu vou lá, Kirios – Hanz avisou.
– Eu vou para meu quarto – Kirios disse – boa sorte – sussurrou.
– E quanto a Kim?
– Julian foi muito sagaz – sorriu.
– O que ele fez? – indagou com curiosidade.
– No seu aniversário, Kim estava viajando. Ele não lhe deu nenhum presente. Julian disse que ia comprar alguma coisa para o primo dele, e jogou essa idéia para o seu namorado – comentou – eles vão sair daqui a pouco.
Hanz sorriu, animando-se com essa notícia. Ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas silenciou-se imediatamente ao ver seu namorado se aproximando com o ruivo.
– Hanz, eu vou dar um pulo na cidade – Kim disse – depois eu apareço no seu quarto.
– Ah, tudo bem – sorriu – o que vai fazer na cidade? – indagou em seguida.
– Eu… vou… er… comprar… bebida – respondeu.
– Até mais Hanz – Julian disse, dando uma piscada para o menor, puxando o karateca.
– O Julian sabe – Kirios disse.
– VOCÊ CONTOU? – Hanz indagou num grito, começando a chacoalhar o corpo do louco.
Alguns garotos que estavam próximos a eles ficaram perplexos por verem um calouro chacoalhar Kirios daquele jeito.
– Hanz… pára… pára! – pedia, tentando segurar o menor – eu tinha que contar.
– Você não podia, Kirios – irritou-se.
– Hanz! – o louro gritou, apertando suas mãos no braço do menor que parou de chacoalhá-lo – o Julian também sabe do Kim!
– Sabe? O que Kim não me disse isso! – falou com surpresa.
– O Kim não sabe que o Julian sabe – revelou.
Hanz pareceu se acalmar, ele cruzou seus braços e ficou olhando para o veterano, esperando alguma explicação.
– Uma vez, o Kim comentou isso comigo e Julian ouviu e me indagou depois. Eu tive que falar ou ele ia pensar que Kim fosse um assassino realmente – confessou – mas Julian nunca disse nada para Kim, nunca. Ele sempre se manteve afastado.
– Mesmo? Nossa!
– Sim. Julian é cuidadoso quando ele quer – falou – agora vamos nos preparar. Está pronto?
– Não – sorriu amarelo – mas eu vou fazer.
– Você vai agora? – indagou.
– Sim.
Hanz respirou fundo, ele bateu sua mão no ombro do louro e se afastou sem olhar uma única vez para trás, ele estava determinado e não poderia recuar depois de ter movido tantas peças daquele tabuleiro. Agora tinha Kirios, Julian, Joana e Caio observando seus passos, ele não podia vacilar.
– “Mãe… dê-me força” – pediu em pensamento.
O amontoado de pedras foi avistado a frente, o prédio da secretaria parecia sombrio aos olhos de Hanz. O moreno começou a controlar sua respiração, pensando no sorriso de seu namorado, mentalizando a libertação e felicidade de Kim, e com esses desejos e pensamentos, deu seu primeiro passo, cruzando a porta da secretaria.
– Pois não? – indagou o secretário.
– Eu quero falar com Maximiliano.
– Ele está ocupado agora – disse – volte mais tarde.
– Diga que é importante. Fale que é Hanz Golden – falou.
O rapaz bufou, ele pegou o telefone e avisou ao diretor e para sua surpresa o seu superior pediu para que o aluno subisse e que ninguém o incomodasse.
– Pode entrar – disse o rapaz.
– Obrigado.
Hanz subiu o pequeno lance de escadas, quando chegou ao seu final ficou parado na frente da porta de madeira. A sua mão moveu-se mecanicamente, abrindo a porta.
– Boa noite senhor Golden – Maximiliano sorriu.
– Eu gostaria de avisar que voltei – Hanz falou, fechando a porta atrás dele.
– Eu fico feliz que tenha sido obediente – sorriu, desviando sua atenção dos documentos espalhados por sua mesa. O diretor ergueu-se da cadeira e caminhou até um armário, pegando uma garrafa de vinho – gostaria de beber comigo?
– Eu quero saber qual o seu preço, Maximiliano – Hanz disse, caminhando até o meio da sala, olhando discretamente para as paredes, onde as câmeras estavam posicionadas.
– Meu preço? – indagou com surpresa, colocando um pouco de vinho na sua taça.
– Sim. Quanto você quer para deixar Kim em paz? – indagou.
– Eu não quero seu dinheiro – sorriu, sorvendo alguns goles daquele líquido.
Hanz estreitou seu olhar, ele não sabia como reagir, como incitar Maximiliano a agredi-lo.
– O que você quer? – Hanz indagou, sentindo sua garganta ficar seca.
O diretor sorriu maravilhado com aquela dedicação que o calouro tinha com o karateca. Maximiliano caminhou até Hanz, tocando delicadamente na sua face, deixando seu dedo deslizar por toda sua extensão.
– Eu posso deixá-lo em paz se você me obedecer – disse.
– Eu vou denunciar esse colégio, Maximiliano – disse, dando um tapa na mão que lhe tocava, recuando um passo.
– Não vai não – sorriu – se denunciar, seu amado Maccario ficará numa situação lamentável.
– E você também! – riu baixinho – você acha que vai se safar dessa? Não vai Maximiliano, você será preso e sabe… eles adoram homens que molestam crianças. Você será bem tratado na prisão.
A expressão de Maximiliano se fechou, ele caminhou até sua mesa, colocando a taça de vinho no lugar, voltando seu corpo na direção do menor.
– Não se importa com seu namoradinho?
– Como você fará Kim de escravo para sempre, eu acho que não tem melhor opção. Afinal o vídeo deve mostrar ele se defendendo, vão ser complacentes com ele. No máximo alguns anos de prisão para Kim – disse baixinho – e muitos anos para você. Seu estúpido. Você acha que eu ia ficar quieto?
O diretor agarrou o braço do moreno, que nem sequer se moveu, exibindo um olhar desafiante para Maximiliano.
– Não pode fazer isso – disse tranqüilamente.
– Não? Claro que posso. Se você deixar Kim em paz, eu não farei isso – falou.
– Eu te dou um preço então – sorriu.
– Qual? – indagou com os olhos surpresos.
– Você – respondeu – aceita essa troca?
– Eu? – indagou com surpresa.
– Sim. Você, Hanz. Se você me for submisso, eu permito que Maccario saia daqui – falou baixinho.
– Vai me forçar a ficar com você? – indagou num tom mais alto.
– Aceita?
– Não! – gritou.
– Então, não vou deixar Maccario em paz – falou.
– E então você vai preso! – falou.
O moreno afastou-se do diretor e começou a caminhar lentamente na direção da porta, ele girou a maçaneta lentamente.
– “Droga, ele não vai me impedir? Não vai me agarrar?” – pensou com angústia.
A porta foi aberta lentamente e para a felicidade e angústia de Hanz, Maximiliano aproximou-se dele, chutando a porta que se fechou num estrondo, virando o corpo do menor num único puxão e o jogando contra a madeira.
– Você é rebelde demais! – vociferou, desferindo um tapa no rosto de Hanz.
– “Consegui” – pensou com alegria, e outro tapa lhe veio à face.
– Vou te fazer mudar de idéia agora mesmo – Maximiliano disse, fechando sua mão no braço do menor.
Hanz foi arrastado pelo escritório, sendo jogado no chão de qualquer jeito. Maximiliano trancou a porta do escritório e fechou as persianas rapidamente, quando se aproximou de Hanz, ele já estava de pé.
– O que vai fazer? – Hanz indagou, tocando na sua face que ardia.
– Mostrar que ninguém pode mandar em mim – falou – você irá se arrepender, Golden.
– Vai me matar? – indagou num tom baixo.
– Vou fazer pior que isso. Eu vou te marcar – disse com um sorriso sádico – como marquei muitos pirralhos como você, que até hoje ficam aos prantos ao ouvir meu nome.
Hanz engoliu em seco ao ouvir aquela ameaça. Se ele estava querendo irritar o diretor, definitivamente havia conseguido. O moreno fechou os olhos, tentando acalmar seu coração, pedindo forças para agüentar o que viria a seguir. E como num pesadelo, Hanz acordou de sobressalto, afastando-se de seus pensamentos, pelo soco que lhe foi desferido na sua face.
– Eu sou passível, calmo, mas você… sinta-se honrado. Pois conseguiu realmente me irritar – Maximiliano vociferou.
– Eu nunca vou ficar com você! – Hanz falou num gemido, tocando na sua boca que sangrava por um corte superficial feito no seu lábio inferior.
– Eu não pedi sua permissão, Hanz – disse – agora, vamos começar. Você vai aprender a me reverenciar, e vai ser mais submisso que Maccario ou qualquer outro estudante que eu já lecionei.
O diretor puxou o cinto que prendia sua calça, mostrando o acessório de couro para o moreno que arregalou os olhos. Maximiliano bateu o cinto contra o chão, fazendo um som alto e amedrontador.
– Se você pedir clemência, eu paro agora mesmo – disse.
– Nunca vou fazer isso – respondeu.
– Que bom! Vai ser mais divertido… para mim é claro!
OoO
“Experiência não é o que aconteceu com você; mas o que você fez com o que lhe aconteceu”. (Aldous Huxley)
OoO Por Leona-EBM
Continua…
Hum! Finalzinho tenso. E será que as imagens estão sendo realmente gravadas? Kirios interromperia os dois caso a situação fosse levada ao extremo? E o que Kim vai fazer quando descobrir?
Acho que apenas o próximo capítulo poderá responder essas questões. Eu espero que estejam gostando da história. Muito obrigada por todos os comentários. E continuem mandando, eles são importantes para mim.
Está muito bom o seu conto
Acho bom as câmeras tarem funcionando ou será sacanagem