Contos

Desejos de Colégio – Capítulo 21 – Na Mira de Todos

2 ANOS DEPOIS

Eu estava sentado no colo dele, dava claramente pra ver que ele estava duro e que eu estava também. Minhas mãos seguravam seus braços fortes, estávamos sentados no chão. Nos beijávamos e eu olhava pra ele, seu rosto lindo. O sol batia em seu rosto corado, iluminando nós dois no chão.

Ele me olhava, nos olhos. Então ele tirava seu casaco e me fez deitar nele, subindo em mim, fazendo minhas pernas ficarem apoiadas nos lados do seu corpo.

-Eu te quero Bernardo – Rodrigo dizia me olhando – Eu te quero mesmo…

Então ele subia a minha camiseta com as mãos e beijava meu corpo. Suas mãos deslizavam até minha barriga, até os lados do meu corpo.

Desejos de Colégio – Capítulo 21

NA MIRA DE TODOS

Último semestre de colégio começando. Eu estava com 17 anos já. Foi no primeiro dia das aulas depois das férias de julho no meu terceiro ano. Recebi uma mensagem e quando abri levei um choque.. Olhei para os lados e estavam todos olhando no celular ou para mim. Só pensava que consegui passar esses anos todos convivendo de boa no colégio pra tudo desmoronar em cada tela de celular de todos os alunos do colégio.

Todas elas mostravam a mesma coisa. O meu terceiro beijo com Rodrigo no chão da biblioteca e a confissão dele que me queria. A memória daquela manhã, tão escondida na minha mente, voltava a superfície como se fosse ontem.

Todo o meu drama com Rodrigo. Os trabalhos na casa dele. Minha primeira vez com Matheus e depois com Rodrigo. Eu achava que tinha escapado desse drama e parecia que tinha acontecido muito tempo atrás. E agora toda aquela intimidade estava ali, pelo menos a com Rodrigo, estampada nos celulares de todo mundo.

Tentava chegar até a minha sala mas o turbilhão de pessoas me perguntando coisas e me mostrando o celular era muito grande. A maioria apontava e fazia cara de chocado. Avistei alguns dos ex-muchachos fazendo cara de nojo pro celular e outros rindo. Quando virei pra frente pra continuar a procurar a sala vi um dos ex-muchachos com uma bola de basquete e então ele arremessou ela na minha direção. Fechei os olhos e ouvi um PÁ.

– Deixa de ser idiota. – falou a voz de Rodrigo – que pegou a bola de basquete que vinha na minha direção e jogou ela muito forte de volta, acertando direto na janela pra fora dos limites do colégio.

-Ei! Essa bola era minha!

-Foda-se. -respondeu Rodrigo com raiva – ele virou pra mim e perguntou – tá tudo bem?

-Você viu o vídeo? -falei

Ele fez que sim com a cabeça e pegou na minha mão me puxando pra fora daquele corredor, iniciando um monte de gritaria das pessoas até que o sinal bateu e elas começaram a ir pra suas salas.. Fomos até a sala das monitorias e ele fechou a porta atrás da gente. Por sorte os olhares das pessoas não nos seguiram até ali.

Rodrigo: De onde surgiu esse vídeo? Você sabe de alguma coisa?

Bernardo: Jura! A última coisa que eu queria era minha intimidade assim. Eu não escondo que sou gay mas também não jogo na cara de ninguém. Quem fez isso foi muito filho da puta.

Rodrigo: O pior é que eu não faço ideia de quem seja. Eu nem sabia que a biblioteca tinha câmeras.

Bernardo: A única coisa boa dessa confusão toda é não ter vazado a gravação toda. Você lembra o que quase aconteceu depois?

Rodrigo: Nunca esqueceria desse dia.

TOC TOC TOC

Tinha alguém na porta. Rodrigo abriu e vimos a diretora do colégio. Ela falou que queria falar com nós dois e então seguimos ela até sua sala.

Diretora: Meninos, estamos em uma situação delicada não é? Vocês que divulgaram esse vídeo?

“É claro que não” falamos eu e Rodrigo ao mesmo tempo. A diretora foi muito mais compreensível que achei que seria. Ela pediu desculpas pela brecha de segurança e que as câmeras existiam unicamente para não haver roubos nos livros da biblioteca. Ainda assim ela nos repreendeu. “Existem lugares pra tudo, vocês sabem disso né? Eu não condeno o que vocês fizeram, o ato em sí, mas o lugar.. meninos.. na escola?”

Nos desculpamos com ela, enquanto ela prometeu fazer tudo em seu alcance para achar algum culpado para isso e expulsá-lo. Além disso, ela nos liberou por esse dia.

NOSTALGIA

2 anos tinham se passado e nesse meio tempo tivemos o mínimo de contato possível. O dia de hoje nos juntou dessa maneira aleatória e tudo parecia estar uma merda, mas, mesmo assim conversar com Rodrigo era algo muito natural pra mim ainda.

Rodrigo: Eu realmente não consigo pensar quem faria algo assim… Você tem alguma ideia?

Bernardo: Hmm, Quem teria acesso a parte técnica do colégio? Foi só algo contra gays ou será que foi algo mais pessoal? Guilherme talvez?

Rodrigo: Não acho que tenha sido o Gui. Nós perdemos o contato depois que ele foi pra faculdade no ano passado, mas, o considero um amigo muito querido. O Matheus talvez?

Bernardo: Não acho que seja Matheus. Ficamos muito amigos depois de tudo que aconteceu e ele está namorando! É segredo, ninguém sabe, mas.. não tem porquê ele fazer isso. O namorado dele é um querido.

Rodrigo: Nossa, não consigo pensar em alguém..

Ficamos mais uns minutos caminhando em silêncio enquanto pensávamos em quem foi. Abri o vídeo de novo nas mensagens. O número que enviou era bloqueado. “Eu te quero bernardo, eu te quero mesmo” ecoava do vídeo entre o nosso silêncio.

Rodrigo ficou vermelho. “Faz tanto tempo já né?” ele falou olhando para baixo. “Sim” respondi. Meu celular começou a tocar e na tela apareceu o nome “Henrique Neném”. “Hm…” comecei a falar e então Rodrigo falou “pode atender…” e foi sentar num banco uns 5 passos pra frente.

Bernardo: Henrique? Não está na aula?

Henrique: Eu recebi um vídeo… não sei bem como te falar isso…

Droga, como o vídeo chegou no celular, na faculdade, aos olhos do Henrique também?

Bernardo: Eu sei amor, todo mundo no colégio recebeu também. Esse vídeo é muito antigo, tipo, muito antes de nos conhecermos…

Henrique: Entendo, alguma ideia de quem fez isso?

Bernardo: Não… a diretora nos deu o dia de folga, mas no geral ficou no nosso lado…

Henrique: Você pode processar o colégio, sabia? Onde você está? Quer que eu vá te encontrar?

Bernardo: Não não, sem problemas, vou pro nosso ap, tudo bem? Nos vemos lá na hora do almoço?

Henrique: Claro, logo que liberarem vou voando. Pode deixar que compro uma comida pra gente. Não esquece que te amo!

Bernardo: Obrigado amor, logo nos vemos, beijinho.

Desliguei o telefone e virei para Rodrigo. Não tinha notado ele direito nesses 2 anos que passaram, ele foi sempre meu colega mas parecia um fantasma naquela turma. Andava mais com gente que não era do Colégio e faltava todas as aulas que podia. Eu sabia que ele estava fazendo cursinho pro vestibular e fazia sentido pois suas notas no colégio estavam muito parecidas com as minhas. Ele estava tão diferente. Podia falar mais fisicamente só pois parecia que não o conhecia mais. Seus braços fortes ainda estavam fortes, mas ele parecia mais definido que antes. Já tinha uma barba quase formada no rosto e o cabelo estava bem mais curto.

Rodrigo: Tá tudo bem?

Bernardo: Tá sim..

MEMÓRIAS

Várias lembranças voltavam na minha mente com cada olhar que Rodrigo fazia pra mim, mesmo no escuro eu conseguia observar todos os movimentos que ele fazia. “Como passamos de ter um contato tão íntimo para esse momento em que mal nos conhecemos?” eu perguntava para mim mesmo. O que deu tão errado?

FLASHBACK – 1 ano atrás

“Estávamos nas férias do segundo ano, Henrique estava fora da cidade visitando seu tio e primos. Eu estava sozinho e não estava afim de cozinhar, então saí para comprar um subway. No meio do caminho começou a chover muito. Corri as duas quadras que faltavam de todas que já tinha andado, não era tão perto, então quando virei a esquina vi que estava fechado. “Porra, não é 24h essa porcaria?” então vi que o vento realmente estava muito forte e eles fecharam pois acabou a luz em toda parte.

Peguei meu celular para chamar um táxi ou algo assim pra tentar voltar pra casa mas devia ter faltado luz nos pontos também pois diziam estar desligados. O vento e a chuva começaram a piorar então corri até a primeira fachada de apartamento que achei. Não tinha mais ninguém na rua aquela hora, comecei a ficar com medo e só me encolhi esperando a chuva passar mas ela só aumentava.

Logo alguém de guarda-chuva saiu do prédio na minha frente e veio até mim.

– Vem comigo Bernardo, você pode esperar lá dentro até parar essa chuva.

Era Rodrigo. “Ele estava morando ali? Como ele me viu?” me perguntava enquanto pensava se ia ou não. No momento que estava levantando relâmpagos ressoaram no céu me fazendo abraçar Rodrigo, corremos juntos pro seu apartamento e subimos as escadas. Ele estava sem luz também, só com 3 velas e 1 lanterna ligada.

Bernardo: Obrigado, eu entrei em pânico, não sabia mais o que fazer.

Rodrigo: *falando baixinho* bem a sua cara…

Bernardo: O que?

Rodrigo: Nada, deixa

Ficamos em silêncio por algumas horas. A luz não voltava e o vento/chuva só pioravam. As únicas palavras que Rodrigo falou comigo foram pra oferecer uma toalha, comida e que era melhor eu dormir ali. Fora isso o silêncio reinava aquele lugar. Meu celular estava sem sinal, o dele também, não tinha muito o que fazer.

Mais algumas horas passaram então eu decidi falar.

Bernardo: Faz tempo que você se mudou?

Rodrigo: Desde que me assumi pros meus pais. Eles não aprovaram muito, mas, me ajudam com dinheiro as vezes…

Bernardo: Nossa… deve ter sido difícil. Os meus estão sempre longe, então, devem saber já e pra não conviver ficam longe.

Rodrigo: É, pra pais tudo que eles puderem não lidar eles fazem..

Mais alguns longos minutos de silêncio passaram até que eu levantei para ver uma estante de livros que tinha na sala dele. Tinham muitos que já tinha lido, mas parei em choque quando achei “O Morro dos Ventos Uivantes” ali. Tirei ele da prateleira olhando com a luz do celular e vi que ele estava bem surrado. “Não pode ser” pensei, “mas é…”. Era o livro da Biblioteca, aquele que eu estava segurando antes que Rodrigo me encontrasse no corredor. Ele tinha me visto com esse livro? Fui até o final para ver como ele tinha conseguido e era mesmo, tinham as assinaturas de Matheus e logo no final uma dele.

Rodrigo chegou perto de mim, sentia sua respiração nas minhas costas chegando cada vez mais perto. – Acho que uma parte de mim não queria te deixar ir, como não podia te ter… eu peguei esse livro lá da biblioteca… Ele falou fazendo com que os pelos na minha nuca se arrepiassem.

– Sabe que está impedindo a leitura desse clássico pra muita gente do colégio, né? -falei em tom de brincadeira, mas sem coragem pra me virar pra ele

– Eu comprei uma edição, mas não era a mesma coisa.. Então aluguei esse na biblioteca e fingi perder. Dei a nova pra bibliotecária. Ela ficou bem contente. E eu também…

Me virei pra ele, que levou um susto. Estávamos muito perto um do outro. Então ele começou a chegar cada vez mais perto e eu não tinha forças pra sair dali. Então a luz voltou.

PERDIDO

Rodrigo: Você tá bem mesmo?

Voltei ao meu consciente. Eu tinha viajado longe. Essa foi uma das duas vezes que tive situações inusitadas com Rodrigo. Mas não era hora de trazer tudo à tona. Não era hora de resolver nada também. A única coisa que eu queria era por fim nesse vídeo e fazer a pessoa que compartilhou ele sumir.

Bernardo: Desculpa, estou sim, só estava pensando no rumo que as coisas tomaram.

Rodrigo: Eu não sei quem fez isso, mas, de qualquer maneira não podemos nos deixar afetar, vamos ser fortes e viver nossas vidas. Daqui 6 meses vamos fazer o vestibular final e se tivermos sorte passar nas faculdades e cursos que queremos. E eu não sei você, mas eu quero me livrar dessa cidade, dessas pessoas, desse mundinho pequeno. Então pra mim esse vídeo tem dois lados. O primeiro, do garoto incrível que despertou tudo que eu tinha pra ser e que ajudou a moldar o que eu sou hoje. E o segundo, do quanto as pessoas dessa cidade que compartilharam isso são podres e o quanto vai ser bom me livrar delas.

Bernardo: Acho que esse é o maior número de palavras que me diz desde…

Meu celular começou a tocar, era Henrique. Olhei para o relógio antes de atender e eram 11h. Ele avisou que estava indo pra casa, estava preocupado comigo. Falei que estava indo também. Quando fui dar tchau para Rodrigo ele estendeu a mão. Apertei-a, então ele falou me olhando nos olhos “não se deixa abalar, só mentes pequenas não entendem o que se passou naquele vídeo. e se não entendem, nunca amaram na vida”.

Depois de falar isso ele soltou minha mão e se virou na direção do seu apartamento.

*

Eai esperavam por isso? Muita gente surpresa com o que era o final do cap 20? Sei que tinha gente que achou que Berdrigo voltou né.. desculpa iludir vocês hahahah E eu sei que o 21 ainda não respondeu sobre Matheus, Guilherme e nem Leandro… ainda tem muito mais deles por vir, do Henrique também.

Perguntinhas.. Que acham dessas coisas?

1. Quem vazou o vídeo de Rodrigo e Bernardo (do capítulo 9) na Biblioteca?

2. O que será que aconteceu no segundo flashback berdrigo?

3. Henrique vai saber lidar com tudo que está acontecendo na vida do ber?

4. Bertheus merece flashback?

Não esqueçam de comentar, dar nota, criticar, dar sugestões etc… 🙂

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7 Comentários

  1. Achei que o berdrigo ia acontecer nesse capitulo…. Fui otario kk. Mas cadê vez mais fico ansioso e esperando os dois voltarem :’)

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