A Grande Maça – Capítulo 7 – Amor Fraterno
Havia se passado dois meses. Era uma segunda-feira tranquila. Phil era apenas uma lembrança em minha mente. Eu estudava bastante porque o dia do vestibular estava chegando, faltava apenas 20 dias e eu estava morto de cansado.
– bom dia – falou meu irmão entrando naquela manhã enquanto eu lanchava algo.
– bom dia – respondi.
– estudando muito? – perguntou ele.
– bastante, eu preciso conseguir a bolsa.
– eu vou pedir muito a Deus para você passar.
– toda a ajuda é bem vinda – falei terminando de tomar o copo de leite.
– Fry eu queria te pedir uma coisa. – falou meu irmão se levantando.
– o que foi?
– eu queria saber se você me dá permissão para trazer uma pessoa aquí.
– pessoa? Que pessoa?
– me promete que não vai se estressar?
– depende, quem você quer trazer aquí.
– Fry, você sabe que eu te amo, eu sou seu irmão, eu só não quero que você siga com essa vida sem ter visto todas as opções.
– vida? Que vida?
– a vida homossexual – falou ele.
– quem você quer trazer aquí?
– o pastor da minha igreja disse que pode fazer uma sessão de exorcismo.
– seu desgraçado – falei jogando o copo de vidro que eu estava na mão no chão.
– o que está acontecendo aquí? – falou minha mãe chegando á cozinha.
– Charles disse que quer fazer um exorcismo em mim mãe!
– Charles! – gritou minha mãe – por favor, respeite seu irmão.
– o que você tem contra mim Charles? Porque você fica tão incomodado com uma orientação sexual?
– estou preocupado com sua alma – falou ele – eu estou tentando abrir os seus olhos enquanto é tempo.
– abra você os olhos – falei alto – se você não começar a me respeitar e aceitar quem sou eu você vai perder seu único irmão. – eu falei isso subindo as escadas e indo até meu quarto.
Meu irmão me deixava irado. Eu morria de ódio do meu irmão ficar dizendo aquelas coisas, isso era o que eu mais odiava em religião. A religião impedia meu próprio irmão de me amar. Sabe quantas vezes eu encostei no meu sobrinho? Sabe quantas vezes eu peguei meu próprio sobrinho nos braços? Nenhuma! Ele nunca me deixou eu encostar nele e eu nunca fui na casa dele porque se ele não me ama eu não iria entrar na casa dele.
Mas ao mesmo tempo que eu tinha raiva eu me sentia triste afinal ele era meu irmão e por mais que eu me esforçasse para não me importar eu acabava ficando um pouco ofendido e triste com as coisas que ele falava pra mim.
Eu peguei meu notebook e entrei no bate-papo eu precisava conversar com alguém e Homer era meu melhor amigo.
– oi Homer! – falei.
– olá, tudo bem com você?
– estou péssimo.
– o que aconteceu? – perguntou ele.
– meu irmão acabou de dizer que eu preciso de um exorcismo pra tiver os demônios gays de dentro de mim.
– sinto muito – falou ele com uma carinha triste – tenha forças, não se importe com o que ele diga.
– seu irmão sempre te aceitou?
– não – digitou ele – no começo ele não falava comigo, mas aos poucos ele foi amadurecendo e hoje somos muito amigos.
– você mora com seus pais?
– sim, meus pais e meu irmão.
– você tem sorte que todos em sua família te aceitam.
– a única pessoa que precisa te aceitar é você mesmo. – digitou ele.
– obrigado por sempre falar comigo sempre que te chamo.
– se algum dia eu não responder é porque estou realmente ocupado.
– seu namorado não vai se importa de você ficar falando com um desconhecido?
– não – respondeu – ele sabe que somos apenas amigos.
– ainda bem, você é meu único amigo de verdade que sabe tudo sobre mim.
– quando é o vestibular? – perguntou ele.
– daqui 20 dias.
– o resultado saí quando?
– cerca de três semanas depois da prova eles entram em contato com os selecionados.
– eu vou torcer por você. – digitou ele.
– obrigado.
Assim que eu desconectei eu ouvi alguém batendo na minha porta.
– mãe? – falei me levantando e indo até a porta. Eu abri a porta, mas era meu irmão?
– Charles? o que você está fazendo aquí? Não trabalha mais?
– posso entrar?
– é melhor não. Vamos esquecer o que aconteceu hoje. – falei tentando fechar a porta e ele colocou o pé.
– vamos fazer melhor, vamos fingir que eu não tenho irmão seria melhor pra você, finge que eu nem existo.
– Fry – falou ele empurrando a porta e entrando. – eu só quero o seu bem.
Eu me afastei e ele entrou.
– por favor, vai embora.
– eu só quero o seu bem Fry, mas eu sei que o que eu fiz foi errado. Eu andei pensando e conversei com alguns amigos de igreja e eles me disseram algumas coisas que fizeram sentidos pra mim.
– você não tem opinião própria? Tudo você precisa da opinião e permissão dos outros?
– posso falar com você? – perguntou ele.
– pode. – eu disse isso me sentando na cama.
Ele se sentou ao meu lado.
– o que foi? – perguntei coçando os olhos.
– você já me disse que nasceu assim.
– já, milhões de vezes.
– Fry, quando você diz que nasceu assim é como se você dissesse que tem uma vida sem escolhas.
– como assim?
– você nasceu homossexual, mas não é obrigado a seguir esse estilo de vida.
– você está dizendo que mesmo eu sendo gay eu devo fingir que sou hétero.
– eu sei como deve ser difícil, mas deus quer que você siga o caminho que ele criou, e eu sei que muitas pessoas mesmo sendo homossexuais escolhem seguir pelo caminho da família.
– não estou entendendo Charles.
– você pode escolher se casar com uma mulher e constituir uma família.
– mas eu não seria feliz. – falei tentando em contar afinal ele estava apenas conversando.
– no começo seria, mas você conquistaria a felicidade com o tempo.
Eu respirei fundo e tentei entrar no raciocínio dele.
– digamos então que eu case com uma mulher e consiga ser “feliz”, eu continuaria sentindo tesão por homens.
– essa é sua segunda opção. Pra você ver como Deus é bom ele te deu a opção de dois caminhos.
– e qual seria a outra opção?
– você poderia entrar para o seminário e ser padre ou pastar, não interessa qual religião desde que você se comprometa a preencher esses sentimentos malignos com o poder de Deus.
Eu fechei os olhos e cocei o nariz pensando no que ele tinha dito.
– então eu tenho duas opções? Deixa eu ver se eu entendi.
– a minha primeira opção: eu caos com uma mulher, mesmo sem sentir carinho afetuoso ou sexual, trago uma criança para o mundo em uma família sem amor com risco de trair minha esposa com homens todas as semanas e minha vida se transforma em uma mentira.
– não é isso…
– não me interrompa – falei. – eu te ouvi agora você me ouve.
Ele calou e ficou olhando pra mim.
– na minha segunda opção eu entro para o seminário e viro padre ou sigo minha vida sendo um pastar e reprimo meus sentimentos até que eu não consiga mais aguentar e transe com os fiéis até dentro da igreja e eu apareço no noticiário e sou excomungado e mancho o nome da igreja. Tudo isso para negar o que eu sinto, negar quem eu sou.
– Jesus morreu por nós – falou meu irmão segurando minha mão. – o mínimo que você poderia fazer era tentar esse sacrifício.
Eu puxei minha mão e se levantei.
– deixa eu resumir. Você, Charles meu irmão de sangue, prefere que eu viva uma vida infeliz me tornando uma pessoa arrogante e triste a cada dia que passa apenas para seguir a palavra de um livro de mais de 2000 anos a qual eu não acredito?
Charles se levantou.
– você está interpretando errado.
– saí daqui! – falei me virando de costas.
– eu estou tentando conversar.
– você já disse o que queria e agora eu quero que você saia do meu quarto e nunca mais fale comigo Charles.
– mas Fry…
– sai daqui! – gritei me virando de olhos vermelhos. – sai do meu quarto Charles! Sai da minha vida! – eu falei isso empurrando ele pra fora do meu quarto e batendo a porta. Eu sentei no chão me apoiando na porta e coloquei minha cabeça entra ás pernas e tentei me acalmar chorando.
Depois de alguns minutos eu ouvi alguém batendo na minha porta.
– Fry – falou minha mãe. – você está se sentindo bem.
– estou – respondi me levantando e abrindo a porta. – estou me sentindo bem.
– não fique triste – falou ela me abraçando.
– porque ele é assim mãe? Como uma pessoa chega ao ponto que ele chegou mãe?
– esquece o que ele te falou.
– vou tentar. – falei abraçando ela mais forte. – porque meu pai e meu irmão de odeiam!
– não fala isso Fry – falou minha mãe se afastando – seu irmão te ama Fry.
– sinto muito, mas eu não quero o amor que ele tem pra me oferecer.