Contos

O Belo e a Fera – Capítulo 1

Contos de Garotos Especial: O Belo e a Fera

Parte I

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Paródia do conto “A Bela e a Fera” com os personagens de Contos de Garotos. Houve mudanças significativas no enredo do conto original da Walt Disney.

Obs: Imagine a cor de todos os objetos pela cor dos cabelos dos personagens.

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“Se no seu 21° aniversário, ninguém te amar por sua beleza interior, você permanecerá com a forma de uma Fera, pois é assim que é seu coração verdadeiro”. A Maldição.

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Sentimentos são
Fáceis de mudar
Mesmo entre quem
Não vê que alguém
Pode ser seu par

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França, final do século XVIII.

O sol estava forte no centro da abóbada celeste, mas não fazia calor, pois nevava. Apenas havia sua iluminação, clareando o bosque que ficava ao redor daquela pequena cidade do interior. Já se passava do meio dia e as pessoas estavam na rua, trabalhando, passeando pelas ruas de pedras.

Hanz Golden era um jovem rapaz de dezessete anos que era apaixonado por livros e música. Ele estava sentado em uma fonte, lendo um romance musical entretido na sua leitura, contudo não conseguia parar de pensar nos seus problemas. E o frio começou a lhe incomodar também, pois suas roupas não eram muito quentes.

Seu pai Heimel era muito pobre e acabou prometendo dar seu filho como empregado a um forte e famoso caçador da cidade. Contudo, Hanz não queria ficar aos serviços daquele caçador, que tinha terceiras intenções com ele.

Acabou fechando o livro, caminhando pela rua, ajeitando sua camisa branca de linho que cobria seus braços. Quando chegou perto de sua casa, encontrou o caçador sentado em cima de um monte de feno.

– Hanz, eu estava a sua espera! – disse o caçador, passando a mão por seus longos cabelos negros.

– Iago… – murmurou seu nome sem muito entusiasmo.

Iago se aproximou do menor, tocando em seu ombro magro, olhando com malícia para os orbes azuis piscina de Hanz. Sua outra mão tocou em seu rosto, resvalando até seus lábios.

– Eu queria que fosse até minha casa. – falou.

– Eu estou ocupado agora. – disse, dando um passo para trás, desviando daquele toque.

– Lembre-se que seu pai entregou você como meu subordinado.

– Isso quando eu fizer os meus dezoito anos. E eu pretendo pagar o que devemos.

– Sim, é verdade, mas isso será logo. – sorriu – Vamos, Hanz. Eu vou cuidar muito bem de você, não seja arisco.

O menor sentiu seu coração acelerar, ele não tinha como fugir daquele destino. Seu pai havia sido muito cruel em dá-lo daquele jeito para o caçador.

Iago o puxou pelo ombro e abraçou sua cintura com força, ouvindo as juntas de Hanz estalarem. O moreno gemeu baixinho e Iago aproximou seus lábios perigosamente de sua boca, para depois desviar para o seu ouvido.

– Eu vou te tratar direitinho, Hanz. Você vai agradecer por ter tanta sorte de ter um homem como eu ao teu lado.

– Me solta!

– Eu queria que fosse a minha casa hoje.

– Eu já disse que estou ocupado! – disse, tentando se soltar daquele abraço.

– Tudo bem, Hanz. Logo você morará lá mesmo.

Iago o soltou finalmente e se afastou de Hanz com uma risadinha irritante. O moreno ficou no mesmo lugar, pensando na vida cruel que teria e entrou na sua casa, vendo que seu pai estava jogado numa cadeira, bebendo um pouco de pinga.

– Iago passou aqui. – avisou Heimel.

– Eu sei.

– Você falou com ele? Filho, você sabe que precisamos dele. Senão, não teremos mais o que comer.

– Eu sei, eu sei!

Heimel nada disse, ele foi até um quarto e pegou uma espingarda que era demasiada pesada para seus braços finos. A puxou e vestiu suas botas de couro que estavam desgastadas com o tempo.

– Aonde vai, pai?

– Caçar algo. – respondeu seco.

O velho saiu da casa de madeira e pegou um cavalo. Ele precisava caçar alguma coisa no bosque, pois fazia tempo que não comiam carne.

E Hanz ficou na cozinha, arrumando alguma coisa para o jantar. E as horas foram passando e seu pai não retornava da caçada. A noite começou a cair pela cidade.

– “Pai, onde você está? Já está escuro demais.” – pensou, abrindo a porta, olhando para a noite escura.

O moreno ficou esperando que seu velho chegasse em casa, sentado no sofá da sala, olhando a todo instante para a porta, mas Heimel não retornou.

Cansado de esperar, Hanz pegou um casaco marrom e vestiu suas botas. Pegou o cavalo que estava dormindo e começou a entrar no bosque a fim de procurar seu pai.

Andava com seu lampião que pouco iluminava a região. Hanz tremia suavemente de medo, olhando para os lados, tentando identificar o som dos lobos que ouvia ao longe. Temeu e se arrependeu de entrar na floresta, mas tinha que encontrar seu pai.

O tempo foi passando e a luz do lampião se apagou, agora apenas a luz do luar podia iluminar o seu caminho. De repente, o cavalo se assustou e ergueu seu corpo, derrubando Hanz na terra fofa. O moreno se ergueu rapidamente e tentou puxar as rédeas para acalmar seu animal, mas ele acabou fugindo.

– “Droga! Agora estou realmente em perigo!” – pensou, sentindo arrepios ao ouvir o uivo de uma alcatéia ao longe.

Começou a andar, sentindo os galhos de árvores lhe prenderem nas suas roupas, sempre tropeçava em alguma coisa, olhando com temor para os lados até que se deparou com um lobo feroz que estava a sua direita, em cima de um barranco.

Hanz não pensou duas vezes e começou a correr velozmente pelo bosque, sentindo suas roupas se rasgarem, até que deixou seu casaco preso em um dos galhos na sua tentativa desesperada de fugir daqueles cinco carnívoros que desejavam sua carne.

Suas pernas moviam-se com velocidade, contudo estava escuro demais para ver seu caminho e no final acabou tropeçando em um pedregulho, caindo num pequeno morro abaixo, rolando junto com algumas pedras e galhos, batendo com a cabeça no chão.

Ele ficou com os movimentos lentos, tentou se mover, mas sentia seu corpo doer. Abriu suas pálpebras e viu uma criatura de relance atacar os lobos, dando fortes patadas e antes que Hanz pudesse ver o que o defendia, isso é, se realmente o estava defendendo, ele acabou perdendo a consciência.

Horas mais tarde e Hanz abriu suas pálpebras, olhando para o lugar escuro e úmido que se encontrava. Estava deitado em uma tábua de madeira, aos poucos foi se sentando e se ergueu, caminhando até um portão de metal. Estava em uma prisão!

– Tem alguém aí? – indagou num grito.

– Hanz!

– Pai? É você?

– Sou, eu meu filho. Eu fui preso aqui por um monstro!

– Um monstro? – indagou, fechando os olhos por um instante, lembrando-se da criatura que o defendeu dos lobos.

Hanz deu um soco no portão que misteriosamente se abriu, ele saiu lentamente pelo corredor escuro e foi até um portão de metal, onde ouvia a voz de seu pai, mas não podia vê-lo.

– Você está bem?

– Sim, eu estou. Vá buscar ajuda.

Hanz disse mais alguma coisa e continuou seu percurso, temendo que aquela criatura aparecesse para lhe devorar. Subiu uma escada de pedras e se deparou com uma grande sala, ricamente decorada, contudo as coisas pareciam abandonadas, sujas. Uma casa morta!

Foi andando lentamente, até que esbarrou em uma mesa de madeira, ouvindo som das xícaras de porcelana. Assustou-se, temendo ter feito muito barulho, todavia o que mais lhe deixou em estado de pânico foi o fato do bule se mexer sozinho.

– Quem é ele? – indagou uma xícara de repente.

Hanz arregalou os olhos e inclinou seu corpo, tentando ver o que estava falando. E realmente era uma xícara! Só podia estar ficando louco.

– Ele é o rapaz que o mestre trouxe. – respondeu o bule, que tinha alguns detalhes em vermelho.

– Vocês falam? – Hanz indagou. Pensando se ele não seria mais louco de tentar falar com os objetos.

– Meu nome é Julian e essa pequena xícara é meu primo Leon. Nós trabalhamos no castelo. – disse o bule.

– Como assim? Por que vocês são assim?

– Somos assim, porque estamos presos a uma maldição. – respondeu Leon, a pequena xícara.

Hanz abriu a boca para indagar o motivo daquela maldição, mas de repente uma luz forte invadiu a sala. Era um candelabro que se aproximava dando alguns pulos.

– O candelabro anda! – Hanz falou surpreso.

– Meu nome é Kirios. – falou um pouco ofendido – e é melhor você sair daqui antes que ele perceba que você saiu da prisão.

– Ele quem?

– A Fera! – respondeu Julian, o bule.

– A Fera? Que Fera?

– A Fera que te trouxe aqui. – disse Kirios, o candelabro.

– E onde ele está? Eu preciso libertar o meu pai.

– No seu quarto! – falou Leon, a xícara.

Hanz fechou os punhos e começou a caminhar pelo castelo, desejando ver aquele que havia prendido seu pai e começou a subir uma grande escadaria de madeira.

Andou por um corredor e viu uma porta entreaberta, seus olhos se arregalaram ao ver uma grande Fera de pêlo marrom avermelhado se debatendo contra um espelho de vidro.

Aquela grande Fera gemia baixinho, na verdade era um rosnado perturbador. Hanz deu um passo para trás e pisou numa pequena pedra que escorregou até um canto, fazendo barulho.

Do quarto a Fera ouviu aquele som, virando seu rosto e sua boca cheia de presas afiadas na direção da porta. Avançou rapidamente e a abriu, encontrando o jovem que havia salvado na noite.

– O que você faz aqui!?!? – indagou a Fera, com uma voz alta e grossa.

Hanz não conseguiu dizer nada, ele deu alguns passos para trás à medida que a Fera avançava.

– Eu… que-quero que… liberte meu pai.

– Eu não vou libertá-lo.

– Por favor, liberte-o. Nós não temos nada!

– Não vou libertá-lo! – rosnou.

– Então me deixe no seu lugar. Por favor, eu fico aqui.

– Ele será meu escravo.

– Eu fico no seu lugar, ele é velho, não poderá fazer muitas coisas.

Hanz manteve seu olhar firme na Fera, olhando no fundo de seus olhos azuis cobalto, sentindo que havia algum entendimento através daquele olhar, que existia sentimentos ali. Ergueu o braço e fez menção em tocar nos pelôs daquela criatura que tinha mais de dois metros de altura, mas ela se afastou.

– Não me toque! – disse rispidamente.

– Por que você é assim?

– Isso não é da sua conta. Saia daqui!

– Por favor, aceite meu pedido.

– Tudo bem. Mas você fica!

A Fera voltou a entrar no quarto, batendo a porta num estrondo. Hanz se encolheu e começou a caminhar de volta a sala, procurando encontrar aqueles objetos falantes.

– Você falou com ele? – indagou Leon, a pequena xícara.

– Sim, – respondeu – por que ele é assim?

O candelabro se aproximou de Hanz, que se sentou no sofá empoeirado.

– Existe uma maldição nesse castelo. Todos nós éramos felizes aqui, vivíamos muito bem até que uma bruxa nos lançou um feitiço. Todos nós éramos empregados, humanos como você.

– Que feitiço?

– Um feitiço. – respondeu o candelabro, pois não podia falar a verdade ou a maldição nunca seria quebrada.

Hanz achou melhor não continuar o interrogatório, pois os objetos falantes estavam tentando fugir do assunto. E para sua surpresa, seu pai foi realmente solto pelo rei daquele castelo, contudo não conseguiu falar com ele, não teve a oportunidade de se despedir.

O jovem rapaz da cidade foi levado a um quarto, onde tinha mais alguns objetos falantes. A grande cama estava empoeirada, mas um espanador que também tinha vida, que se chamava Alexis, começou a limpeza, sendo supervisionado pelo candelabro.

Hanz se sentou em uma cadeira de madeira e ficou olhando para o cômodo que estava sendo arrumado, observando o diálogo daqueles seres.

– Alexis, onde você estava?

– Andando por aí, Kirios.

– Por que não foi para o meu quarto?

– Eu não estava com vontade. – respondeu o espanador, parecendo mal humorado.

Hanz apenas observava, achando engraçado aquele relacionamento.

– Vocês são parentes? – indagou Hanz de repente.

– Eu sou o irmão mais velho – respondeu o candelabro – e meu irmão teima em me desobedecer.

– Meu irmão é super protetor! – defendeu-se Alexis.

O candelabro olhou para o armário de mogno que estava num canto, exibindo um olhar mortal. Parecia que a chama acessa no alto da vela, radiou-se com energia. Hanz olhou para o armário, procurando entender o motivo da irritação daquele candelabro e para sua surpresa o armário tremeu.

– “O armário tremeu?” – indagou para ele mesmo, sentindo um frio correr por sua espinha. Hanz apalpou a cadeira que estava sentado, pois talvez a mesma pudesse ter vida, mas nada aconteceu.

Após a limpeza alguns objetos saltitantes saíram do quarto, deixando Hanz a sós. O rapaz jogou-se na cama, sentindo seu coração bater num ritmo normal, enfim estava se acalmando.

– Hei… você… está bem?

O moreno ergueu a cabeça e olhou para o cômodo, procurando o dono daquela voz, até que viu o armário se movendo. Aquilo causou certo assombro, todavia manteve-se firme, olhando diretamente para o móvel.

– Você também era um humano?

– Sim, meu nome é Corei. Eu era um dos empregados da casa.

– Ah, eu quero sair daqui.

– A Fera não irá permitir. Tem que tomar cuidado.

– Por que Kirios te olhou com tanta raiva? – indagou com curiosidade.

– Kirios? Ah! Nunca nos demos muito bem. Meu irmão mais velho e ele vivem brigando.

– E quem é seu irmão?

– Ele é um fogão na cozinha.

Hanz ficou a conversar com o armário, procurando saber mais sobre aquele castelo e as criaturas mágicas, no entanto Corei ainda sim era muito vago, pouco falava, apenas expressava sua tristeza e solidão naquele quarto.

E assim o tempo passou e Hanz adormeceu naquela cama, sendo acordado na manhã do dia seguinte ao ouvir um estrondo. Ele se levantou rapidamente e saiu do quarto, andando pelos corredores escuros e sombrios, onde apenas a iluminação da manhã podia lhe retirar daquela penumbra.

Hanz parou de repente ao ver no final do corredor um grande volume de massa próximo à janela. Acabou reconhecendo a Fera daquele lugar. Hanz encostou-se num pilar de madeira e ficou observando aquela criatura suspirar com melancolia. Aquilo o atingia, aquela tristeza, aquela solidão parecia invadir o coração do jovem rapaz.

– Qual é o seu nome? – Hanz indagou de repente.

A Fera virou seu rosto com certa surpresa e depois voltou a olhar para a paisagem coberta pela neve.

– Kim. – respondeu.

– Kim… Meu nome é Hanz. – falou – O que você quer de mim nesse castelo?

– Apenas fique aqui. Foi o acordo. – respondeu na voz grave e forte – Se estiver incomodado, eu posso trancá-lo novamente!

– Não, por favor.

Hanz ficou ali em silêncio até que se sentou no chão empoeirado, ficando a observar Kim, até que acabou adormecendo. Estava com fome, frio e cansado pela noite anterior.

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Basta um olhar
Que o outro não espera
Para assustar e até perturbar
Mesmo a Bela e a Fera

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Continua…

Eu espero que estejam gostando de toda essa loucura. Muita coisa foi mudada do conto original, mas eu tive que pensar bastante no que fazer para adaptar com os personagens de contos de garotos.

Comentários são bem-vindos. O que estão achando?

Por Leona-EBM

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2 Comentários

  1. Nossa… Eu não achei que a história fosse ficar tão boa, ela tem um tom sentimental que bagunça meu coração. Por favor continue o conto, ficou incrível, obg por escrevê-lo. Bjs.

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