Príncipe Impossível – Capítulo 02 – Um Segredo
Era inevitável escapar das mãos de Holly. No fim ela me venceu pelo cansaço. Nós saímos do prédio da Pegasus e atravessamos a rua para ir a um bar tomar algumas cervejas para nos divertir e nos distrair do dia cansativo que nós tivemos. Ao entrarmos no bar nós nos sentamos em uma mesa e pedimos algumas cervejas e um tira gosto.
– O que o Gray tem contra nós? – perguntou Kiff pegando uma batata frita com queijo e colocando na boca.
– Ele não tem nada contra nós. Ele tem algo contra o Griffin – falou Holly.
– Essa é uma boa pergunta – falei feliz por ver as cervejas finalmente chegando. Eu peguei uma das long neck e levei até a boca tomando um grande gole.
– Você sabe que quando o ódio é demais é porque tem amor encubado – falou Holly.
– Não fala Morgan isso nem brincando – falei comendo batata frita.
– Talvez ele seja um homofóbico – falou Kiff.
– Eu aposto nisso – falei para Kiff.
Quando eu disse isso me lembrei do que a Morgan tinha me dito mais cedo no elevador.
– Vocês sabiam sobre a Morgan, Eve e Gray?
– Como assim? – perguntou Holly.
– O casamento… – falei esperando que eles soubessem de algo.
– É claro – falou Holly – aconteceu alguns meses antes de vocês chegar.
– Então é verdade? – perguntei para Holly.
– Não acredito – falei tomando outro gole da cerveja – eu não sei como a Morgan consegue vir trabalhar todos os dias sabendo que a mulher que ela pegou na cama do marido é sócia dela.
Quando eu disse isso Holly e Kiff se entreolharam surpresos.
– O que? – perguntei confuso.
– Foi a Eve? – perguntou Holly.
– E não foi? A Morgan me disse que… – foi então que percebi que tinha falado mais do que devia.
– Nós sabíamos que a Morgan tinha pego ele na cama com outra mulher, mas não sabíamos que foi a Eve – falou Holly.
– Deve ser esse o motivo de toda a tensão entre eles – falou Kiff.
– Pessoal vocês não podem contar isso pra ninguém foi a própria Morgan que me contou isso. Ela me contou como se todos soubessem.
– Não se preocupe nós não vamos contar nada pra ninguém.
– Acho bom porque Não quero perder esse emprego. Não posso voltar de onde vim.
– É verdade… – falou Holly animada – e de onde você veio? Você nunca nos contou da vida que tinha antes de vir para Los Angeles. Qual a sua história?
– Vai por mim Holly, essa é uma história que não vale a pena ser contada.
– Nós somos bons em guardar segredos – falou Kiff.
– Sério Kiff? Porque não hackeia meu notebook pra tentar descobrir qual minha história?
– Primeira regra do hacker, nunca faça isso com amigos.
– Ainda bem que pensa assim – falou Holly.
– Tudo bem – falei cedendo – antes de vir pra Los Angeles eu morei em Washington. Eu trabalha em uma advocacia. Na contabilidade.
– Só isso? – perguntou Kiff – é tudo o que conseguimos?
– Quer mesmo saber porque eu vim pra Los Angeles?
– Desejo de crescer? – perguntou Holly.
– Desejo de viver -falei sério.
– Como assim? – perguntou Kiff.
– Eu trabalhava nessa advocacia e eu cuidava das contas e eu acabei descobrindo que um dos sócios estava roubando dos outros sócios. Estava desviando dinheiro. Enfim… eu descobri e ele me ameaçou. Disse que se eu contasse alguma coisa ele me mataria.
Holly e Kiff ficaram sérios quando ouviram isso.
– Isso é sério? – perguntou Holly.
– É sério. No meio da noite eu peguei minhas coisas e fui o mais longe de lá sem olhar pra trás. Eu não fui o primeiro em Harvard pra morrer na mão de um imbecil.
– Porque você não foi a policia? – perguntou Kiff.
– Eu não confio na policia – falei terminando de tomar minha cerveja – não contem pra ninguém. Por favor – falei pedindo para que eles não contassem para Morgan, Eve ou Gray.
– Não tem problema – falou Holly – não vamos contar nada a ninguém e você está seguro.
– Fica tranquilo – completou Kiff.
– Obrigado – falei abrindo outra long neck – e vocês? Tem algum segredo pra compartilhar?
– Nenhum que seja tão legal quanto o seu – falou Kiff – Holly e eu trabalhos com a Pegasus a mais de três anos e somos tão clichês quanto se pode esperar.
– Quem me dera minha vida fosse assim.
– Griffin, em certo ponto da vida todos nós caímos. Alguns mais cedo e alguns mais tarde. Não sei o que você passou antes disso tudo, mas você parece bem agora – falou Holly.
– Obrigado Holly.
– Eu só estou puto por não poder mais fazer trabalho de campo – falou Kiff – não sei porque Gray ficou todo protetor agora. Nós nunca tivemos esse problema antes.
– É uma droga saber que eles vão atrás de um médico/traficante e nós vamos ficar no escritório preenchendo papelada.
– Fazer o que? – falou Holly.
Holly tomou um gole de sua bebida e Kiff chamou-a para dançar. Holly aceitou, mas me chamou para ir junto, mas eu recusei. Não estava no clima. Não gostava de dançar então estava fora de cogitação. Não sei bem como terminou a noite. Holly e Kiff estavam parecendo se divertir na pista de dança. Certo momento até achei que eles tinham dado um beijo, mas eu não tenho certeza porque durante todo esse tempo eu bebi e bebi. Lembrar do passado não foi uma boa ideia. Detestava lembrar da época que vivi em Washington e detestava muito mais o que tinha vindo antes daquilo tudo.
Quando abri os olhos naquela terça feira eu logo senti uma forte dor de cabeça. Como eu disse, não me lembro como cheguei em casa, mas tudo indica que foi um taxi que me trouxe até aqui. Os lençóis brancos da minha cama estavam bagunçados e fedendo a cerveja. Do mesmo jeito que eu cheguei eu cai na cama.
A luz do sol batia na janela do meu apartamento que estava aberta e aquilo doeu meus olhos. Olhei em volta e tentei me lembrar de toda a noite passada, mas tudo o que me lembrava era de cenas faltando. Holly, Kiff, cervejas e muitas coisas que foram ditas, mas que não deveriam ter sido pronunciadas.
Peguei meu celular para conferir a hora e percebi que era mais de nove horas. Estava mais do que atrasado para o trabalho. Havia também ligações perdidas de Morgan. Ela me dava carona todos os dias e hoje eu dei o bolo nela.
Do meu quarto eu fui direto para o banheiro. Tomei um banho demorado e eficiente para que o cheiro de bebida que exalava de meus poros passasse despercebido. Vesti rapidamente a roupa e chamei um taxi que me deixou na porta da Pegasus. Antes de subir peguei como de costume o meu copo de café expresso e entre no prédio. Desci no sétimo andar e ainda de óculos escuros passei pelo corredor até que entrei em minha sala. Minha cabeça doía um pouco então fechei a porta antes de entrar. Não adiantava muita coisa já que todos podiam me ver pelas paredes de vidro, mas a porta fechada avisava que não queria ser incomodado.
Tirei os óculos escuros e em seguida tomei um gole do café e tentei acordar de vez. Respirei fundo e liguei o meu computador. Fechei os olhos alguns segundos e apoiei a cabeça nas mãos enquanto ele ligava e quase morri de susto quando a porta se abriu.
– Porque você não veio comigo? – perguntou Morgan.
– Que susto – falei olhando pra ela.
– Desculpa, eu perdi a hora.
Morgan fechou a porta e se aproximou da mesa sentando-se em frente a minha mesa.
– Você está bem? – perguntou ela preocupada.
– Estou sim, é que depois do trabalho Holly, Kiff e eu saímos pra beber e eu acho que passei um pouco da conta.
– Entendo, se quiser tirar o dia de folga…
– Você não vai ser tão legal assim comigo Morgan – falei interrompendo-a.
– Porque?
– Eu acho que acabei revelando um segredo seu para Holly e Kiff.
Quando disse isso Morgan respirou fundo e captou a mensagem.
– Você contou pra eles que a mulher que eu peguei na cama com Gray foi a Eve?
– Contei. Sinto muito é que quando você me contou você disse que todo mundo já sabia.
– Na verdade eu só queria desabafar com alguém – falou Morgan.
– Me perdoa eu não devia ter dito nada – fui sincero.
– Não tem problema – falou Morgan – só que a partir de agora quando eu te contar algo não conte pra nuunguém.
– E você vai querer contar algo pra mim depois disso?
– Claro – falou ela sorrindo – você é o mais próximo que tenho de um amigo.
– Obrigado – falei agradecendo pelo voto de confiança.
– Morgan… – falou Gray abrindo a porta da minha sala apressado – Stanley Fairbanks acabou de ligar. Disse que o filho deles, Dylan pegou o cartão de crédito.
– Tem certeza? – perguntei para Gray – hoje ainda é terça, achei que ele só fosse comprar na quarta.
– Parece que você está errado – falou Gray saindo da sala. Eles teriam que seguir Dylan e esperar que saísse da escola.
– Droga – falei com raiva de mim mesmo.
– Não se pode acertar sempre – falou Morgan se levantando e indo até a porta.
– Eu sei – fale com dor de cabeça.
Antes de sair da sala ela se virou e olhou para mim – quer vir comigo?
Olhei para ela que aguardava ansiosa minha resposta.
– Eu pensei que Gray tinha proibido que eu saísse para fazer trabalho de campo.
– O Gray que vá se ferrar – falou ela com um sorriso – ele se casou comigo e se deitou com minha melhor isso. Aparentemente ele também não está nem ai para as regras.
– OK – falei me levantando e pegando o copo de café.
Ao chegar no estacionamento Morgan seguiu até a sua vaga.
– Vamos no Peugeot 208 – falou ela desativando o alarme do carro cinza.
Assim que nós entramos e colocamos o cinto ela seguiu pelo estacionamento.
– Gray está vindo, se abaixa – falou ela quando passamos perto do carro de Gray. Ele estava se aproximando do carro dele para entrar.
– Pode se levantar – falou ela quando saímos do estacionamento e estávamos finalmente na rua.
– Porque você faz isso? – perguntei tomando outro gole do meu café?
– Desafio Gray? – perguntou Morgan.
– Sim. Essa é a palavra certa. Desafia.
– Eu não sei. Na maioria dos dias eu estou conformada. Sou uma mulher bem sucedida nos negócios, o que me mantem ocupada na maior parte do tempo, então eu penso: que se dane se peguei meu marido com minha melhor amiga na cama, mas quando Gray viajou de férias eu me senti irritada. Foi a primeira vez que ele saiu de férias e estamos separados. Sempre tiramos férias juntos, mas agora eu nem sei se quero tirar as minhas férias se estarei sozinha.
– Eu tem entendo – falei concordando com Morgan.
– Eu estava irritada até que ele voltou de férias ontem e então eu comecei a me sentir como se Gray tivesse roubado algo de mim. Ele me roubou onze anos de minha vida. Não me entenda mal, eu amo os filhos que tivemos. Eles são minha vida, mas eu não acho que seja justo eu tentar agir como se estivesse conformada quando não é assim que me sinto então eu decidi que não vou ligar para o que ele diz. Ele já tirou muitas coisas de mim. Meu casamento, minha melhor amiga, minha paz… não vou deixar que ele tome você de mim.
Eu entendia o que Morgan queria dizer com tudo aquilo e eu estava feliz por ela ter me tirado do escritório. A última coisa que preciso é ficar com essa ressaca preso lá dentro.
Nós seguimos até o colégio no bairro de San Pedro onde Dylan estudava. Vinte minutos depois estávamos estacionados próximo do colégio dele. Estávamos ambos em silêncios de vigia. Algumas pessoas entravam e saiam do colégio, mas nenhuma delas era Dylan.
– Ele sempre compra os remédios na parte da manhã antes do horário de almoço – falei para Morgan.
– Eu sei – falou ela confirmando – vamos só esperar por ele – falou Morgan com a foto de Dylan na mão.
– Como sabemos que ele já não comprou? – perguntei para Morgan.
– Eve me mandou uma mensagem dizendo que Dylan tem prova, ou seja, ele só vai comprar no horário de almoço e o Gray disse que a policia está esperando a ligação,. Assim que soubermos quem é o médico que tem receitado os remédios eles vão prendê-lo.
– Ótimo – falei olhando no relógio – falta mais de uma hora para o horário ode almoço..
– De onde você é? – perguntou Morgan.
Achei estranha a pergunta.
– Porque quer saber?
– Vamos conversar sobre alguma coisa para que a hora passe.
– OK, mas não vamos falar do meu passado.
– Tudo bem – falou Morgan – vamos falar do seu presente, você tem namorada?
Eu dei risada quando ela perguntou aquilo, mas Morgan continuou séria.
– Espera, é sério isso?
– O que? – perguntou Morgan.
– Eu sou gay.
– OK – falou Morgan – você tem namorado?
– Não – falei rindo – você não sabia de mim?
– Eu desconfiava, mas eu não queria fazer suposições. Não é educado supor.
– Respondendo sua pergunta, não. Não tenho namorado.
– E sua família? – perguntou Morgan.
– Posso te fazer uma pergunta? – falei tentando mudar de assunto.
– Qual? – perguntou Morgan curiosa.
– Gray te disse porque te traiu?
– Não – falou ela pensativa – eu nunca perguntei e ele nunca deu nenhuma explicação. Quando eu pedi o divorcio ele simplesmente concordou.
– É triste né? – falei para Morgan – nós sempre somos traídos pelas pessoas que mais confiamos.
– Verdade – falou Morgan – Como eu podia ter evitado? Eu o amava e ele não pensou duas vezes em me trair. O pior de tudo foi o choque. Nunca pensei que ele fosse capaz disso. Nem em um milhão de anos. Ele me surpreendeu. De um modo terrível
– Faça como eu – falei olhando para fora do carro – não confie em ninguém e você nunca se surpreendera.
– Isso é mórbido. Não confia em ninguém? – perguntou Morgan.
– Não.
– Quem te magoou tanto? – perguntou ela curiosa.
– Aquele é o Dylan? – perguntei vendo um garoto sair do colégio acompanhado de uma garota. Estávamos a uma certa distancia então tínhamos que ter certeza.
– É ele sim – falou Morgan ligando o carro – vamos segui-lo.
Morgan ligou o carro é nós seguimos Dylan e a garota a uma certa distância. Eles estavam a pé era como se esperava. Eles foram até a farmácia que eu tinha dito.
Quando chegaram a farmácia Morgan desligou o carro bem longe para que não percebesse quem estava sendo seguidos. Nós só tínhamos visto os dois de costas.
A garota que estava com Dylan usava uma blusa de frio enorme e bem felpuda.
– Porque ela está usando uma roupa daquelas? Nem está tão frio – falei achando estranho. Esperamos alguns minutos e os dois finalmente entraram.
– Aquele é o Gray? – perguntou Morgan vendo um carro estacionar atrás de nós.
– É sim – falei me abaixando, mas era tarde demais. Gray veio até a janela do meu lado e bateu. Morgan a abriu.
– Não adianta se esconder – falou Gray para mim e em seguida ele olhou para Morgan – você não tem jeito Morgan.
– O que está fazendo aqui? – perguntou Morgan para Gray.
– Eve está lá dentro da farmácia. Ela está disfarçada de cliente e a policia só está esperando uma ligação minha. Eles estão escondidos – falou Gray mostrando dois policiais disfarçados na calçada da farmácia como se fossem dois pedestres. Se eles correm os policiais vão segurá-los.
Gray e Morgan então começaram a discutir por minha causa, mas eu não ligava. Alguma coisa estava errada. Nós tínhamos considerado todas as situações, mas tinha uma pergunta que não tinha resposta. Não fazia sentido.
– Em uma coisa errada – falei Morgan.
– O que foi? – perguntou ela interrompendo a briga.
– O que o médico ganha dando as receitas para Dylan?
– O que? – perguntou Gray.
– Se Dylan compra os remédios no cartão do pai é porque não tem dinheiro, mas como ele paga pelas receitas que o médico dá? O que o médico ganha dando receitas para Dylan e a garota se drogarem?
Antes que Gray e Morgan pudessem pensar na resposta eu a descobri sozinha e quase que no mesmo instante eu vi Dylan e a garota saírem rapidamente da farmácia. Cada um deles correu ara um lado. Um dos policiais disfarçados tentou deter Dylan e para isso teve que derrubá-lo no chão. A garota correu na direção oposta, na nossa direção.
Um dos policiais correu atrás dela, mas Gray se preparou para derrubá-la, mas eu tinha que impedi-lo. Sai do carro e antes que Gray pudesse agarrar a garota eu o empurrei fazendo-o cair no chão. A garota veio na minha direção e eu a segurei, mas não a derrubei.
– O que está fazendo? – perguntou Gray se levantando irritado.
– O que é isso? – perguntou Morgan.
Eu segurava a garota por trás.
– Me solta! – falou ela assustada.
– Se acalma – falei tentando acalmá-la.
O outro policial trazia Dylan que começou a gritar o nome da garota.
– Lisa! Você está bem? – gritou Dylan enquanto se aproximava. Ele estava com a sacola de remédios e Eve também se aproximava com a receita na mão.
– Eu peguei a receita – falou Eve.
– Porque você me derrubou? Ficou louco? – perguntou Gray.
– Eles não estão usando drogas – falei abrindo a blusa de frio da garota revelando a barriga – ela está grávida. A barriga da garota não estava tão grande, mas dava pra perceber a gravidez – você ia derrubá-la Gray. Ia machucar o bebê.
– O que está acontecendo? – perguntou Dylan.
– Eles não estão usando drogas. Essa é a namorada do Dylan – falou soltando ela que fechou a blusa tentando esconder a barriga – ela está grávida e Dylan estava comprando vitaminas e remédios porque ele é o pai.
– Se ela estivesse grávida eu saberia – falou Gray – eu perguntei no colégio, nenhuma das garotas que Dylan conhecia estava grávida.
– Ele está certo – falou Eve mostrando a receita – são vitaminas para o bebê e para a mãe.
– Eu queria cuidar do meu filho – falou Dylan – nós fomos ao médico e ele receitou essas vitaminas, mas Lisa não queria contar para os pais que estava grávida e eu não podia contar para os meus então eu usei o cartão do meu pai para comprar remédios.
– Foi por isso que eu te derrubei Gray. Você ia derrubá-la. Ia machucar o bebê.
– Que bom que você descobriu tudo antes – falou Eve olhando para mim.
– Bom trabalho – falou Morgan colocando a mão no meu ombro me felicitando.