Contos

Príncipe Impossível – Capítulo 18 – Ficou Sabendo O Que Aconteceu Com Gray Forbes?

Estava deitado em uma praia deserta. O sol era forte e batia em meu rosto enquanto o som das ondas se quebravam bem próximos a mim. Era como se eu estivesse no paraíso. Ao redor não havia nada. Nada além de mim e a linda praia a qual eu estava. Sabia que não pertencia aquele lugar, mas não me importava. Tudo o que eu queria fazer era ficar deitado lá com meus caros óculos escuros. Costumava ter sonhos sem sentido especialmente quando passava por algumas situações estressantes durante o dia. Estava vivendo um dilema entre amor e ódio e não sabia bem como deveria me sentir com tudo isso.

As ondas continuavam a se quebrar bem próximo de mim. Era como se a cada segundos elas se quebrassem cada vez mais perto até que uma delas foi alto o suficiente para me acordar. Meu coração batia forte. O suor escorria no meu rosto. Era como se uma explosão tivesse me acordado e eu pensei que tinha sido isso até que eu percebi que era só um sonho.

O relógio próximo da minha cama marcava pouco mais das oito horas da noite. Tinha dormido a tarde toda e estava entrando noite a dentro. Me sentei na cama e liguei o ar condicionado do quarto. Não sabia como seria o dia de amanhã, mas isso não me preocupava agora. Nem depois de ter dormido o que eu sentia tinha desaparecido. Foi preciso apenas lembrar o nome de Gray para me lembrar do fatídico dia.

Levantei-me da cama e fui até a cozinha. Meu celular estava em cima da mês. Nenhuma ligação perdida e nenhuma mensagem. Confesso que esperava que Gray tivesse mandado alguma coisa como um pedido de desculpas, mas parece que ele era tão cabeça dura quanto eu. Seria difícil continuar quando nenhum de nós dois estava disposto a admitir  o erro. Em um relacionamento é difícil ceder.

Olhei para a porta do apartamento e vi que tinha um papel enfiado debaixo da porta. Puxei esse papel e vi que estava preso em alguma coisa. Abra porta do apartamento e vi que tinha uma embalagem de papel. Quando eu a abri vi que tinha comida lá dentro. Peguei o bilhete e o abri.

“Caso você esqueça de comer”

Estava escrito em uma bonita letra assinado por Rachel e Oliver. Meus vizinhos. Olhei novamente dentro e vi que era comida mexicana. Percebi então que o barulho que me fez acordar foi alguém batendo na porta.

Peguei a embalagem e fui até os meus vizinhos e bati na porta. Não demorou para que Oliver abrisse a porta.

– olá – falou Oliver sorrindo – amor ele está aqui – falou Oliver para Rachel que apareceu em seguida.

– eu só vim agradecer a comida – falei forçando um sorriso.

– espero que goste de comida mexicana – falou Rachel.

– adoro – falei respirando fundo – eu só vim mesmo agradecer. Eu estava mesmo precisando comer algo.

– nós estávamos pensando – falou Oliver olhando para a Rachel – o que você acha de nós sairmos qualquer dia desses para um jantar?

– seria ótimo. Eu vou adorar.

– acho que você não entendeu – falou Rachel – estamos falando sobre um encontro duplo. Oliver e eu moramos aqui tanto tempo e não temos nenhum amigo. Temos colegas no trabalho, mas não temos amigos. Eu tenho notado que aquele médico tem passado muito tempo com você… posso deduzir que vocês estão namorando?

– sim. Deduziu certo – falei confirmando mesmo sem ter certeza do que seriamos dali pra frente.

– ótimo. Podemos marcar alguma coisa para a próxima semana então  -falou Oliver.

– sim. Eu vou falar com Gray e eu aviso vocês.

– OK – falou Rachel.

– obrigado outra vez pela comida.

– por nada – falou Rachel.

– boa noite – falou Oliver

– boa noite – falei respondendo.

Voltei para meu apartamento e coloquei a comida em cima da mesa em seguida fui até o banheiro e lavei o meu rosto tentando acordar de vez. Não sei nem o porque de eu ter levantado. Podia ter continuado deitado e talvez tivesse até dormido. É sexta-feira a noite e eu não tenho que ir trabalhar amanhã. Graças a Deus. Eu nunca tinha ficado tão feliz na vida por se sexta-feira.

Gray tinha dito que me levaria para jantar hoje, mas parece que os planos estavam cancelados. Ainda bem que Rachel e Oliver tinham se lembrando de mim. Eles tentavam cultivar a amizade e nas últimas semanas eu os tinha ignorado. Estava envergonhado. Ainda dentro do banheiro ouvi o interfone tocando enquanto secava meu rosto em uma toalha. Sai do banheiro correndo e atendi depois do terceiro toque.

– pois não?

– desculpa incomodar Sr. Blake, mas você te uma visita.

– quem é?

– é a Morgan.

– OK – falei respirando fundo – pode deixar ela subir.

O que diabos Morgan estava fazendo no meu apartamento? Ela também não tinha gostado nada do que eu tinha dito sobre Alicia.

Dei uma olhada em volta do apartamento para ver se tinha algo de Gray, mas não encontrei nada. Fui até meu quarto e vi que havia um terno e um par de sapatos de Gray em cima da poltrona. Abri o guarda-roupas e guardei junto com as outras roupas dele.

Vendo aquelas roupas de Gray no meu apartamento eu chego a pensar que talvez tenhamos ido rápido demais, Não existe uma fórmula para o amor. Nós gostamos de achar que sim, mas isso não é verdade. Hoje em dia pessoas tem filhos antes do casamento. Pessoas vivem juntas por anos sem se casar. Acho que quando o casal se gosta ele dá certo em qualquer situação. Existem pessoas que se conhecem por anos e nunca dão certo. Tem pessoas que descobre o amor de suas vidas em alguns dias… era difícil saber a qual grupo Gray e eu pertencíamos.

Ouvi batidas na porta mais rápido do que eu gostaria. Guardei as roupas de Gray e fechei a porta do guarda roupas a porta do meu quarto e fui atender Morgan.

Quando abri a porta eu vi que Morgan escondia algo atrás das costas.

– olá – falou Morgan sem graça.

– oi.

– posso entrar? – falou ela olhando volta – não tem ninguém com você?

– não. Quem estaria aqui?

– eu só estou tentando puxar assunto Griffin porque eu trouxe isso e eu quero saber se você quer dividir – falou Morgan mostrando uma garrafa de vinho.

– pode entrar – falei saindo da frente.

Morgan entrou e eu fechei porta. Ela foi até o armário da cozinha e tirou de lá duas taças.

– como você está?

– estou ótimo – falei me sentando no sofá.

– eu não. Tive um dia horrível e eu quero beber pra esquecer.

– o que aconteceu?

– você estava certo – falou Morgan colocando vinho nas duas taças – acontece que Alicia é acompanhante de luxo e ela saiu com um cliente que foi além da conta e bateu nela.

– como vocês sabem? Vocês ligaram no número?

– não. Eu contei para o pai dela tudo o que tínhamos descoberto e o pai dela perguntou. Ela não teve coragem de mentir para o pai – falou Morgan vendo a embalagem de comida mexicana e abrindo-a colocando em cima da mesa.

– sinto muito por eles.

– eu também – falou Morgan vindo até o sofá e me entregando uma das taças. Em seguida ela trouxe uma caixa com tacos doces – pelo menos parece que a família estará unida novamente.

– nada como uma tragédia para nos dar perspectiva – falei tomando um gole da taça.

– pois é. O pai expulsou Alicia de casa e nunca a perdoou por não ser a filha  que ela queria, mas ele colocou tudo de lado quando a filha mais precisou. Ele deve se arrepender de todo esse tempo. Ela teve que fazer sexo com estranhos para poder pagar a faculdade – falou Morgan tomando um gole enorme do vinho. Ela parecia realmente abalada pela revelação que ela teve.

– pois é. As vezes eu odeio estar certo – falei tomando outro gole da minha faça.

– então… – falou Morgan colocando a taça em cima da mesa – vamos falar sobre Gray – falou ela olhando sério pra mim.

Aquilo me assustou. Será que ela sabia de alguma coisa?

– o que tem ele? – perguntei curioso e com medo da resposta.

– você não ficou com raiva dele né? Você sabe que Gray é imbecil sempre que pode. É o jeito dele.

– eu sei.

– além do mais tem uma coisa sobre Gray que você não sabe.

– o que é? – perguntei fingindo que não sabia.

– não vou te contar os detalhes, mas Gray tinha uma irmã chamada Valeria que foi estuprada quando tinha por volta dos quinze anos – falou Morgan pausando e pensando nas palavras – a irmã dele ficou depressiva e acabou se suicidando. Gray se culpa porque acha que não fez o suficiente pela irmã. Esse caso da Alicia deve ter mexido muito com ele.

– deve ser isso então – falei tomando um gole da minha taça – e como ele ficou quando Alicia contou a verdade?

– furioso – falou Morgan – ele pareceu furioso por Alicia ter mentido sobre ter sido estuprada.

– e você? O que acha sobre isso tudo?

– acho que ninguém deve mentir sobre estupro – falou Morgan pegando a taça e tomando outro gole do vinho. Ela finalizou a taça e pegou a garrafa enchendo novamente – existem algumas coisas que são inadmissíveis pra mim. Mentir sobre estupro é uma dessas coisas.

Morgan disse isso e meu celular tocou. Peguei o celular e vi que era Gray que estava ligando. O relógio marcava quase oito e meia da noite e só agora ele estava ligando? Não. Obrigado. Rejeitei a ligação e coloquei o celular em cima da mesa.

– pode atender – falou Morgan.

– não é nada importante – falei pegando a garrafa e colocando mais vinho na minha taça – o que você ia dizendo?

– nada importante – falou ela pensativa – eu só estava desabafando – falou ela sorrindo para mim.

Mais uma vez o meu célula tocou. Era Gray novamente.

– pode atender  -falou Morgan se levantando – eu vou te dar privacidade para atender.

– não precisa – falei rejeitando a chamada e desligando o celular.

– tudo bem – falou ela se sentando novamente – e você? Como está?

– depende do que você está falando. No momento eu estou dividido em umas cinco partes e cada uma se sente de um jeito. Você vai ter que ser bem mais específica.

– a parte que eu quero saber eu ainda não fui apresentada.

– e que parte é essa?

– Sei que talvez você fique com raiva da Holly por causa disso, mas eu preciso dizer que ela me contou sobre as cartas quem você vem recebendo.

– será que ninguém sabe mais guardar um segredo? – falei irritado por Holly ter contado para Morgan.

– não fica com raiva da Holly. Ela só me falou porque está preocupada com você e além do mais você não precisa me contar se não quiser.

– tudo bem  -falei me levantando e indo até o ciado mudo ao lado da porta. Tinha algumas cartas jogadas lá dentro. Peguei uma delas e levei até Morgan.

– você ainda não leu? – perguntou Morgan vendo a carta sendo jogada em cima da mesa.

– essa é só uma das várias cartas que recebi, mas eu abri uma delas a algumas semanas atrás.

– o que elas dizem? – perguntou Morgan.

– dize quem meu pai tem câncer.

Morgan arregalou os olhos quando eu disse aquilo.

– eu sei – falei rindo – eu também fiquei surpreso quando li isso só que essa não é a parte que me surpreendeu.

– e qual parte foi?

– a parte que diz que o câncer é inoperável e meu pai tem provavelmente seis meses de vida e como ele tem se comportado todos esses anos eles estão pensando em liberá-lo da prisão perpétua. Eles estão pensando em soltá-lo por piedade.

Morgan não teve reação ao me ouvir dizer aquilo ou pelo menos fingiu.

– é irônico. Ele não teve piedade quando bateu no meu irmão Christopher deixando ele todo machucado no chão da cozinha. Eu nem reconheci o rosto dele quando o encontrei. Ele mal respirava – falei me lembrando novamente do passado.

– eu sinto muito – falou Morgan.

– acredite se quiser, mas não acabou . como eu sou o único parente do meu pai vivo a prisão gostaria que eu fosse até Nebraska para ajudar na liberação dele. Eles querem que eu testemunhe na audiência que eles farão para liberar meu pai. É justo eles mandarem uma carta assim para mim afinal ele é meu pai só que acho que eles esqueceram que  nesse caso eu também fui vítima.

– o que você vai fazer?

– nada – falei me escorando no sofá – tudo o que posso fazer é esperar que quando eles mandem a carta dizendo que ele morreu eu tenha dinheiro o suficiente para fazer o funeral  -falei rindo.

Morgan não riu e tenho certeza de que ela achou a piada mórbida e fora de hora.

– ou talvez eu doe o corpo dele para a ciência.

Antes que Morgan pudesse dizer alguma coisa o celular dela tocou. Morgan levou um susto e pegou o celular para ver quem era.

– É Gray – falou Morgan atendendo o telefone.

– o que foi Gray? Espero que não esteja ligando para dizer que não vai poder ficar com as crianças nesse fim de semana porque vai trabalhar.

Quando ela disse que era Gray eu fiquei curioso para saber o que ele diria já que tentou me ligar várias vezes e eu não atendi. Morgan não tinha um sorriso no rosto, mas eu pude perceber a mudança na expressão dela.

– quem esta falando? – perguntou Morgan ansiosa.

Aquilo foi estranho. Quem estaria ligando do celular do Gray?

– sim. Aqui é Morgan Provoost você pode me dizer por favor quem é você?

Depois de alguns segundos Morgan se levantou bruscamente do sofá e derrubou as nossas taças de vinho porque esbarrou na mesa. As taças não quebraram porque caíram na mesa, mas isso fez com que o vinho tinto caísse pelo chão em cima do carpete branco.

– ok, ok. – falou Morgan apressada indo até a porta – eu estarei chegando em cinco minutos.

– o que foi Morgan? –perguntei levantando as taças.

– era uma enfermeira do hospital onde Gray trabalha.

– o que ela queria?

– ela disse que Gray acabou de dar entrada com paciente – falou ela nervosa.

Aquelas palavras foram como um soco no estômago.

– o que aconteceu com ele? – perguntei sentindo meu coração acelerar rapidamente. Era como se eu engasgasse com as palavras.

– ela não me disse – falou Morgan pegando a chave do carro dela – eu vou para o hospital.

– eu vou com você – falei seguindo Morgan para fora do meu apartamento. Nem me preocupei em trancar.

Morgan e pegamos o elevador e ao chegarmos no subsolo corremos através do estacionamento até chegar no carro dela. Morgan aprecia bem nervosa e eu me sentia da mesma forma. Já dentro do carro de Morgan eu liguei o meu celular novamente e vi que havia seis ligações perdidas do celular de Gray. Porque eu não atendi? O que aconteceu? Essas eram perguntas sem respostas e aquilo estava me matando. Morgan dirigiu rapidamente pelas ruas desviando dos carros e buzinando a esmo. Para nossa sorte ela estava no meu apartamento. Ele fica bem mais perto do hospital onde Gray trabalha.

Milhões de coisas passavam pela minha cabeça. Eu senti minha boca ficar seca e meus braços ficarem fracos porque a última vez que me ligaram pedindo a ir a um hospital sem dizer o motivo foi quando meu irmão morreu.

– liga pra Eve – falou Morgan.

– OK – falei pegando meu celular e ligando para Eve. O telefone chamou até cair na caixa de mensagens, mas eu tentei novamente e dessa vez ela atendeu.

– oi Griffin – falou Eve atendendo.

– Eve você precisa ir para o hospital onde Gray trabalha.

– o que? Porque?

– alguma coisa aconteceu com ele.

– o que?

– eu não sei. Morgan e eu estamos chegando.

– tudo bem eu vou sair daqui agora.

– você avisa Kiff e Holly por favor?

– claro.

– até daqui a pouco – falei desligando o celular.

Segundos depois de eu ter desligando o celular eu vi as luzes do hospital ao longe. Um coração em vermelho sob o nome Coração Sagrado de Maria estava iluminado naquela noite sombria e estranhamente gelada. Isso ou era só meu nervosismo deixando meus nervos a flor da pele.

Morgan virou a esquerda finalmente entrando na área do hospital e estacionou o carro na  entrada da emergência. Nós dois pulamos fora do carro ao mesmo tempo e corremos para dentro do hospital. Minha boca estava seca e tenho certeza de que eu estava pálido quando vi que havia um rastro de sangue da entrada até os boxes.

Corri mais a frente de Morgan seguindo o rastro porque de uma forma estranha eu sabia que aquele era o sangue de Gray e aquele rastro me levaria até ele.

Mais atrás de mim Morgan parou de correr e olhou para uma enfermeira.

– onde está o Gray?

Minhas pernas tremeram quando cheguei ao box onde Gray estava. Levei a mão e puxei as cortinas e vi um homem deitado na maca gritando de dor. Haviam três médicos em volta dele.

Sentia da mesma forma que me senti quando meu irmão morreu. Aquela assistente social que tentava me explicar o que tinha acontecido. Ela não precisava me dizer o que eu já sabia.

– Gray? – falei vendo os médicos usar jargões enquanto analisavam  o corpo dele deitado sob a maca.

– quem é você? – perguntou uma médica olhando para mim – enfermeira tira ele daqui. Eu ainda não conseguia ver seu rosto. Só as suas pernas. Eu reconhecia os tênis que ele usava naquela tarde.

Nesse momento Morgan chegou ao meu lado e ficou lá parada olhando para aquela cena do mesmo jeito que eu.

– vamos precisar leva-lo a cirurgia – falou um outro médico.

– vocês não podem ficar aqui –falou uma enfermeira tentando nos tirar, mas eu consegui desviar do seu braço e dois passos mais a frente eu vi Gray.

– ainda não – falou Gray.

Como era bom ouvir a voz dele e saber que estava vivo.

Os médicos saíram da frente eu pude ver Gray deitado.

– posso falar com eles antes de ir?

– pode – falou um dos médico. Só agora pude perceber que esse médico era Scott Clarke. O chefe do departamento de cirurgia e pai de Alicia – você precisa ser rápido. Você sabe mais do que ninguém que precisa retirar essa bala de você o quanto antes.

Morgan estava novamente ao meu lado e a enfermeira inclinou a maca um pouco até que Gray ficasse em um ângulo de noventa graus.

Arregalei meus olhos ao ver que Gray tinha um ferimento do lado esquerdo logo abaixo do peito. Tinha muito sangue sexo. Já não sangrava porque eles tinham controlado o sangramento. Os olhos de Gray pareciam confusos e ele gemia de dor, mas tentava não fazer.

– o que aconteceu? – perguntou Morgan para Scott.

– ele reagiu a um assalto – falou Scott olhando para Morgan e depois para Gray.

– eles tentaram levar meu carro – falou Gray com dificuldade. Ele tremia como se estivesse com frio, mas tentava controlar. Ele tinha um pouco de sangue na boca e no rosto, mas a maior ferida estava logo abaixo do peito – eu achei que conseguira detê-los.

– você é idiota? – perguntou Morgan – em algum momento dessa loucura você pensou nos seus filhos? Quer mesmo que eles cresçam sem um dos pais?

– sei que foi errado, mas eu não pensei – falou Gray olhando para Morgan e depois para mim – Eu só tomei uma decisão e acontece que eles tinham uma arma então eu levei um tiro e eles levaram meu carro.

– nós vamos precisar leva-lo a cirurgia para retirar o projetil.

Enquanto todos conversavam eu fiquei apenas parado a alguns metros de distância. Eu não conseguia me mover ou dizer nada. Meu coração parecia grande demais para meu corpo. Não consegui esconder o medo nos meus olhos. Gray olhou para mim e me encarou por alguns instantes e percebeu que eu estava congelado. Meus olhos estavam arregalados e meu rosto estava pálido. Minhas mãos tremiam porque não sabia como lídar com aquilo. Eu estava assustado.

– não precisa ficar com medo, eu estou bem – falou Gray esticando a mão na minha direção tentando sorrir – eu vou ficar bem – falou Gray me chamando com a mão esticada.

Dei três passos na direção de Gray e segurei a mão dele com a minha mão esquerda. Sua mão estava gelada. Ele me puxou me fazendo chegar perto dele.

– sei que agora você está provavelmente assustado, mas eu preciso que acredite no que eu digo: eu vou ficar bem – falou ele olhando para mim segurando minha mão em seu peito como ele fazia quando estávamos só nós dois na minha cama – meu coração ainda está batendo – falou Gray me fazendo sentir seu coração.

– estou sentindo – falei nervoso sentindo algumas lágrimas caírem dos meus olhos. Engasguei um pouco com o choro que queria sair, mas consegui segurar e me controlar. Era bom ver que ele estava vivo, mas era ao mesmo tempo aterrorizante vê-lo naquela situação.

– A bala não atingiu nada importante – falou Gray tentando me acalmar – se tivesse eu não estaria aqui conversando com você.

– OK – falei tentando ficar calmo.

– Eu… – falou Gray pausando – eu só quero que saiba que eu sinto muito por hoje…

– Shhhh! Esquece isso Gray – falei levando minha outra mão até os cabelos de Gray. Acaricie sua cabeça lentamente e parei quando cheguei a sua testa que eu acariciei com o dedão. Sentir seus cabelos em meus dedos foi maravilhoso.

– eles precisam me levar para cirurgia agora, mas eu vou ficar bem. Levará só algumas horas – falou Gray tentando suportar a dor que sentia naquele momento.

– nós precisamos levá-lo – falou a médica e um dos médicos se preparando para lavar a maca.

– vai ficar tudo bem – falou Gray tentando ser forte.

– sou eu quem devia estar te tranquilizando – falei limpando meus olhos.

– eu sei – falou Gray também deixando uma lágrima cair do olho direito. Tenho certeza de que a dor que ele sentia naquele momento era grande – nós dois não funcionamos como a maioria das pessoas.

– eu te amo – falei limpando a lágrimas da bochecha dele e me inclinando para um beijo. Mesmo com a respiração ofegante Gray beijou minha boca e nós mantivemos os lábios unidos o máximo de tempo que conseguimos. Era bom sentir ele beijar minha boca novamente. Era ótimo sentir sua língua humedecendo novamente minha boca – eu sei que devia ter dito antes – falei entre dois selinhos. Gray manteve sua boca junto da minha. Enquanto minha mão alisava seu rosto.

– eu também te amo – falou Gray soltando minha mão – eu ainda vou te dar aquele abraço – falou Gray respirando fundo.

– vou esperar ansioso – falei me afastando vendo os médicos movimentando a sua maca.

Os médicos o levaram pelo corredor. Senti uma sensação estranha em meu corpo quando percebi que Morgan estava lá. Olhei para trás e vi que Morgan olhava param mim fixamente. A expressão dela era indecifrável, mas com certeza ela estava surpresa.

Morgan continuou olhando para mim sem dizer uma palavra. Eu ainda podia sentir o beijo de Gray nos meus lábios. Eu estava um pouco sujo de sangue e mesmo Morgan tendo presenciado aquilo eu não em arrependia. O que eu podia fazer? Agora eu sei o que é sentir amor incondicional a uma pessoa. Não importa o que ela faça ou o que ela diga você sempre estará lá quando essa pessoa precisar e eu fiz isso por Gray. Meu namorado levou um tiro e o que eu devia fazer? Recusar segurar sua mão quando ele pediu? De uma certa forma era libertador saber que Morgan sabia.

Antes que Morgan ou eu dissesse alguma coisa para quebrar o gelo eu vi Eve, Holly e Kiff correrem para dentro da emergência e ambos vieram ate nós.

– o que aconteceu? – perguntou Eve chegando até nós.

– Gray está bem? – perguntou Kiff.

– esse sangue é dele? – perguntou Holly

Antes que qualquer um de nós respondesse Morgan se aproximou de mim o suficiente para dar um tapa na minha cara. Um pata doido que me fez virar  o rosto. Todos ficaram surpreso com aquela reação sem saber o porque. Claro que Eve percebeu na hora.

Mesmo com o rosto ardendo eu não fiz nada e apenas caminhei pelo corredor deixando os três para trás. Caminhei até que cheguei em um lugar onde pudesse sentar. Me sentei no chão e coloquei as mãos na cabeça respirando fundo. Ficaria ali sentado até que a cirurgia acabasse e eles me dissessem que Gray estava bem.

Olhei para Eve, Morgan, Holly e Kiff e os quatro conversavam. Vi Morgan explicando os motivos que estarem lá. Depois de algum tempo não liguei para nenhum deles eu só queria que o tempo passasse logo.

Não me importo com o que Morgan pensa de mim agora. Talvez amanhã, mas hoje eu não podia me importar. Por tanto tempo eu não pude me sentir bem. Por tanto tempo eu não pode apenas me sentar e relaxar. Quando Gray me beijou pela primeira vez naquele aeroporto foi como se toda a tristeza e raiva que eu sentia tivesse simplesmente derretido. Aquele simples beijo me libertou então tudo o que vou fazer é ficar aqui sentado até que eu tenha boas noticias.

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