Príncipe Impossível – Capítulo 24 – Limonada
Limões. A vida toda parece que foi só isso que eu recebi. Isso é tudo oque recebi em troca de todo o esforço em ser uma boa pessoa apenas de tudo. Não tinha escolha não ser aceita-los. Chupei cada um dos limões a cada etapa da minha vida. Porque ele teve que ir? Essa é a pergunta que eu me fiz quando meu irmão morreu, mas eu não recebi a resposta. Só limões. Quando eu fui roubado fiz a mesma pergunta. Porque? E então me vieram mais limões.
Quando Gray me beijou naquele aeroporto eu pensei que finalmente tinha encontrado a limonada, mas ele foi tirado de mim. Parece que esse foi o único motivo de ele ter me conhecido. Não acredito em Deus. Que tipo de Deus me apresentaria a um homem tão maravilhoso apenas para tirá-lo de mim de forma tão cruel? Para me ensinar uma lição? Já tive lições e limões demais por uma vida.
Estava dentro de um voo para Los Angeles. Estava ansioso, nervoso e só faltavam alguns minutos até que o avião pousasse. Eu balançava minha perna nervoso e o cara que estava sentado ao meu lado no avião me olhava desconfiado.
– vocês está bem? – perguntou ele tentando puxar assunto – você parece nervoso.
– Se eu estou bem? não. Eu estou péssimo e sim. Estou muito nervoso, mas acho que estou mais ansioso do que nervoso. Só quero chegar logo em Los Angeles.
– porque essa pressa toda? Estão te esperando para enterrar alguém? – falou o homem rindo, mas eu não ri. Olhei para ele sem expressão alguma e logo ele também se calou e percebeu que eu não estava afim de conversar com ninguém.
Tudo o que precisava era ficar calmo e logo estaria chegando em Los Angeles. O que mais me impressiona e mim foi a facilidade em que eu escolhi um namorado ao invés de meu pai. Nunca pensei que fosse capaz disso, mas acontece que não foi tão difícil assim e eu não me arrependo.
– o piloto da aeronave avisa que em breve estaremos pousando no aeroporto de Los Angeles.
– finalmente – falei apertando o cinto de segurança.
Respirei fundo torcendo para que o avião pousasse logo e meu celular tocou. Era Eve.
– oi Eve – falei atendendo o mais rápido que eu consegui.
– onde você está Griffin?
– estou no avião, estou quase chegando em Los Angeles.
– senhor precisa desligar o celular – falou a comissária de bordo.
– só um segundo – falei voltando a falar com a Eve – eu já estou chegando Eve.
– precisa ser mais rápido a Morgan trouxe os filhos e eles estão no quarto com Gray. Eles estão se despedindo do pai.
– o que quer dizer?
– quero dizer que ela não vai desligar os aparelhos a noite e sim agora.
– você tem que impedi-la Eve.
– senhor desligue o celular – falou novamente a comissária de bordo.
– será que dá pra esperar? Eu estou em uma ligação importante.
A comissária de bordo não disse nada e apenas me deixou de lado.
– Não tem problema – falou Eve – quem vai desligar os aparelhos é Scott e ele não vai deixar ela desligar enquanto você não estiver aqui.
– obrigado Eve, nem sei como agradecer por tudo.
– não precisa agradecer só chegue aqui na hora, ok?
– tudo bem – falei desligando o celular.
– o senhor está pronto para pousar? – perguntou a comissária de bordo voltando até mim.
– agora sim – falei desligando o celular e colocando no bolso.
Tentei ficar calmo agora que finalmente tinha chegado a Los Angeles. Enquanto descia do avião coloquei meus óculos escuros devido ao sol lá fora e caminhei junto com outras pessoas de volta para o aeroporto.
Depois de pegar a minha mala peguei meu celular para visar Eve que eu estaria chegando em alguns minutos. Disquei o número de Eve e coloquei no ouvido. Caminhava calmamente através do aeroporto quando alguém veio por trás de mim e arrancou o celular da minha mão.
Eu me assustei e tentei me virar para ver quem tinha sido, mas antes que eu pudesse fazer isso senti uma mão segurar a minha e caminhar comigo como se fôssemos namorados.
– finalmente te encontrei – falou uma voz familiar.
Quando eu ouvi sua voz eu retirei os óculos escuros assustado. Eu sabia quem era.
– Phil? – falei tentando soltar a minha mão, mas ele não deixou enquanto caminhávamos calmamente como se nada tivesse acontecido.
– eu quero meu celular de volta.
– não antes de termos uma conversa – falou Phil desligar meu celular e colocar no bolso dele – eu nem acredito que te encontrei por acaso – falou Phil rindo. Ele estava de terno. Um terno cinza que chamava a atenção das pessoas. Ele era um homem bonito e todos olhavam para nós. Ele coçou a barba do rosto com a outra mão com um sorriso no rosto.
– onde nós vamos?
– vamos conversar – falou Phil soltando minha mão quando chegamos a um bar no aeroporto. O mesmo bar em que bebi quando estava trabalhando no caso de Max Winterbotham no dia em que beijei Gray pela primeira vez.
– dois uísques por favor – falou Phil se sentando próximo ao balcão. Ele olhou para mim e ficou me encarando – é melhor você se sentar.
Desviei meu olhar de Phil e olhei em volta.
– não adianta correr Griffin. É melhor você se sentar do meu lado e conversar comigo enquanto eu estou de bom humor.
– OK – falei me sentando ao lado dele. O barman colocou dois copos na nossa frente e então colocou uma dose de uísque em cada um.
– o que você quer? – perguntei sentado ao lado de Phil, mas a minha vontade era realmente de correr de lá.
– o meu dinheiro – falou Phil – tomando a dose dele de uma vez.
Aquelas palavras me assustaram. Antes de trabalhar na Pegasus eu morei em Washington e trabalhei e uma advocacia. A advocacia era formada por seis sócios e Phillip Leavenworth – que é o homem sentado ao meu lado – era um deles. Depois de alguns anos trabalhando descobri alguns problemas na contabilidade e ao tentar encontrar o erro percebi que Phillip estava desviando dinheiro. Ele recebi de clientes por fora e depositava e uma conta pessoal. Antes que eu pudesse dizer aos outros sócios o que tinha descoberto Phil disse a eles que era eu quem estava roubando e falsificando documentos. Eles acreditaram já que sou um contador forense fazer isso não seria difícil. O que aconteceu é que eu tive que fugir de lá, mas antes eu peguei todo o dinheiro de Phil e transferi para a minha conta. Quando Hugo me roubou tudo eu disse a todos que os quarenta e seis milhões eram dinheiro de indenização pela morte do meu irmão, mas a verdade é que esse dinheiro não pertence a mim. Nunca tive a chance de devolver. Washington é uma cidade infame. Os advogados para quem eu trabalhava eram poderosos e tinham clientes mais poderosos ainda. Vários políticos que deviam favores a eles. Eu seria morto antes que tivesse a chance de explicar então eu peguei todo o dinheiro e fugi.
– aquele dinheiro nunca foi seu – falei respondendo Phil.
– não vou perguntar de novo Griffin – falou Phill olhando para mim com uma expressão assustadora – eu estou de bom humor então eu estou perguntando primeiro.
– o que vai fazer? Vai pegar o celular e avisar aos outros sócios que finalmente me achou? Sei que não vai fazer isso Phil porque se fizer isso você terá que devolver o dinheiro e tudo isso será em vão. Pelo o que eu posso perceber você provavelmente veio viajar aqui em Los Angeles e por acaso me encontrou, como você mesmo disse. Você não está em uma missão então não tente me assustar com essa conversa porque você não tem planos de contar a ninguém, ou seja, é você contra eu e nós estamos em público. Você não tem nenhuma prova de que eu roubei seu dinheiro e você não pode apelar para a policia porque ladrão que rouba ladrão tem mil anos de perdão.
Phil não disse nada e não demonstrou reação ao que eu disse. Ele simplesmente pegou o meu copo de uísque e tomou um gole.
– Me deixa explicar pra você de novo – falei me aproximando de Phil – Se eu fosse você eu devolveria o meu celular antes que a policia atire – falei olhando em volta e Phil fez o mesmo. Haviam alguns guardas a paisana nos cercando – a segurança do aeroporto viu você tirar o celular da minha mão e eles estão só esperando as ordens para virem aqui te prender. Você achou mesmo que ia se aproximar de mim arrancar o celular da minha mão e praticamente me obrigar a caminhar junto de você sem levantar suspeitas? Estamos em um aeroporto internacional Phil – falei tirando sarro dele.
Phil olhou em volta e não disse nada e me olhou inexpressivo.
– porque você não devolve o que é meu? – perguntou Phil.
– porque eu também fui roubado.
Phil então começou a rir e deu outro gole da bebida.
– não acredito em você.
– eu fui vítima de um vigarista o nome que ele usou para me seduzir é Hugo McNamara, mas eu descobri o verdadeiro nome dele.
– digamos que eu acredite em você… – falou Phil – porque você estaria me contando isso?
– porque não foi só os 46 milhões que ele roubou. Ele me deixou sem nada. Roubou todo o meu dinheiro e eu não sei nem como vou sobreviver ao próximo mês.
Phil olhou em volta e percebeu que os guardas se comunicavam entre si preparando para ataca-lo afinal aquilo mais parecia um sequestro.
– Posso te ajudar a pegá-lo – falou Phil colocando as mãos na minha cintura e me puxando junto dele – pense nisso. Nós dois saímos ganhando. Eu tenho meu dinheiro e você recupera o seu e nós colocamos o babaca na cadeia.
– porque está fazendo isso? – falei sentindo Phil me aproximar o suficiente dele para sentir seu corpo.
– aqueles guardas precisam achar que nós nos conhecemos e somos íntimos. Se eles ainda não vieram até nós é porque não tem certeza se é realmente uma situação de perigo.
– eu aceito sua proposta com uma condição – falei sentindo a respiração quente dele no meu rosto.
– qual? – perguntou Phil.
– sem mentiras e sem traições. Vamos ser sinceros um com o outro e depois que nós recuperarmos o nosso dinheiro você desaparece em nunca mais entra em contato comigo.
– tudo bem – falou Phil colocando a mão na minha nuca e pressionando seus lábios contra o meu.
Segurei o rosto de Phil entre minhas mãos e correspondi ao beijo falso acariciando seu rosto para que os guardas percebessem que não tinha acontecido nada de mais. Enquanto nos beijávamos vi que os guardas se afastaram.
– devolve meu celular – falei parando de beijá-lo.
– vou entrar em contato com você – falou Phil se levantando e devolvendo meu celular e em seguida ele me entregou o celular dele – fique com esse celular. Ele não é rastrevel.
– você vai comprar um novo para você? – perguntei olhando para o celular que ele tinha me dado.
– sim. Em breve eu entro em contato com você – falou Phil segurando na minha mão e nós caminhamos em direção a saída do aeroporto.
– você está hospedado aqui?
– sim – falou Phil – estava indo embora, mas acho que vou ficar uma temporada por aqui – falou Phil sorrindo quando nós passamos ao lado de um guarda.
Nós caminhamos em silêncio até que chegamos do lado de fora do aeroporto Phil olhou para mim ainda segurando minha mão.
– como você deixou alguém roubar o meu dinheiro? – perguntou Phil – pensei que você fosse mais esperto do que isso. Olhei para o lado e vi que um segurança do aeroporto ainda olhava meio desconfiado para nós dois.
– eu podia dizer a mesma coisa. Não foi difícil roubar o dinheiro de você – falei rindo – você está solteiro?
– isso não é da sua conta – perguntou Phil vendo que o segurança olhava para nós dois – mas eu tenho que admitir que fiquei triste quando você me deixou – falou Phil.
Existe um detalhe que eu não contei. Quando toda essa confusão aconteceu no meu último emprego eu namorava Phil. Ele foi o meu segundo namorado. O namorado que me dispensou porque eu não estava preparado para ter sexo. O namorado que disse que 80% de um relacionando deve acontecer na cama. Ele deve a audácia de me dispensar.
– admita – falou Phil – você só roubou o meu dinheiro e fugiu porque eu te dei o fora.
– o que você faria se descobrisse que o seu namorado é um ladrão?
– está me dizendo que mesmo se eu não tivesse dado o fora – que a proposito foi no mesmo dia que descobriu o meu golpe – você ainda sim teria contado para os outros?
– foi você quem mentiu para eles e disse que foi eu. Você disse a eles que nós estávamos namorando e que eu te usei para ter acesso as contas e informações que eu não tinha. Você foi o pior namorado de todos os tempos.
– você está namorando alguém atualmente? – perguntou Phil
– eu te respondo, mas primeiro me diga… você sentiu mais saudades de mim ou do seu dinheiro?
– não posso ter sentido saudades dos dois?
– adeus Phil – falei me aproximando dele e dando um selinho na boca dele, mas mantive os lábios juntos ao dele por um tempo maior e durante o beijo eu o abracei. Phil me abraçou de volta sentindo minhas mãos acariciarem suas costas até chegar em sua bunda.
– nos vemos em breve – falou Phil parando o beijo quando eu o toquei demais.
Peguei a minha mala e estiquei um braço fazendo com que um taxi parasse. Phil me observou entrar no taxi e partir. Assim que o taxi se distanciou eu desliguei o celular que Phil me deu e em seguida eu peguei a carteira de Phil. O que Phil não tinha percebido é que enquanto nos beijamos pela última vez eu peguei a carteira do bolso dele. Ele deve ter achado que eu realmente o estava acariciando sua bunda. Sem a carteira Phil terá alguns problemas e isso vai deixa-lo ocupado. Ele não poderá me infernizar pelo menos por alguns dias.
Quando o taxi se distanciou um pouco mais e entrou na rodovia eu abri a janela do lado direito e em seguida abri a carteira de Phil e comecei a jogar tudo o que tinha lá pela janela. Um por um a medida que o taxi se distanciava. O erro de Phil foi achar que realmente eu queria a ajuda dele. Quebrei os cartões em dois e joguei pela janela. Em seguida rasguei a identidade e outros documentos e fiz o mesmo. Tinha até um pouco de dinheiro que eu usei para pagar a corrida quando cheguei ao hospital.
– obrigado – falei entregando todo o dinheiro ao taxista.
– aqui tem mais do que necessário – falou o taxista vendo o bolo de dinheiro. Devia ter mais ou menos uns seiscentos dólares.
– é sua gorjeta – falei tirando a mala do carro.
– obrigado – falou o taxista agradecendo.
Caminhei até para dentro do hospital e enquanto passava pela porta automática eu vi Ally. Irmã de Eve.
– Griffin? – perguntou ela surpresa.
– oi Ally – falei respirando fundo.
– como você está? – perguntou Ally se aproximando.
– estou ótimo.
– você sabe que pode conversar comigo.
– eu não quero conversar com você Ally. Quero só ver Gray.
– você sabe que vai precisar de terapia. Você não supera uma acontecimento desse da noite para o dia – falou Ally se aproximando – Evelyn me falou sobre o relacionamento de vocês dois.
– Eve devia ter ficado calada – falei olhando em volta.
– se você precisar conversar com alguém algum dia é só me ligar – falou Ally tirando o cartão de visitas dela e me entregando. Alegra Mallory; Psiquiatra.
– obrigado – falei guardando no bolso – onde está Eve?
– seguindo o corredor.
Peguei minha mala e segui pelo corredor ansioso. Lá dentro estava gelado devido ao ar condicionado e isso me fez tremer os lábios. Já estava ansioso e nervoso e agora tremia de frio.
– Griffin? – falou Eve quando me viu chegar.
Olhei para o lado e vi o quarto de Gray. Pelo vidro eu o vi deitado.
– eu posso vê-lo? – perguntei me aproximando do vidro.
– o que está fazendo aqui? – perguntou Morgan chegando. Ela trazia consigo um copo de café. Ela estava com os dois filhos. Vincent e Stephanie.
– eu vim ver Gray – falei olhando para Morgan.
– Chama a segurança por favor – falou Morgan para a enfermeira na recepção.
– não chame – falou Scott chegando.
– o que está acontecendo? – perguntou Morgan – vocês armaram isso? vocês contaram para ele que eu desligaria os aparelhos de Gray? – perguntou Morgan irritada.
– você precisa pensar bem nas decisões que toma agora Morgan – falou Scott.
– eu não preciso pensar. Ele é meu marido e sou eu quem tomo a decisão final – falou Morgan entrando na frente da porta – eu trouxe maus filhos para ficar um pouco com o pai. Essa é a nossa última chance de ser uma família.
– tudo o que eu estou pedindo é que eu esteja no quarto quando desligar os aparelhos. Não vou atrapalhar em nada Morgan.
– não – falou Morgan imediatamente – você vai ter que viver com isso.
– você não pode me punir por estar apaixonado por Gray – falei alto me aproximando de Morgan – é isso que você está fazendo. Me punindo.
– se eu vou viver sem Gray você também vai ter que lídar com isso – falou Morgan deixando uma lágrima escorrer.
– Você acha que eu não consigo viver sem o amor dele? Acha que eu não consigo seguir em frente? Acha que eu não tenho nada só porque ele não estará mais ao meu lado? De alguma forma e de algum jeito eu acho que no fim das contas consigo viver sem ele, mas você já parou para pensar que talvez ele esteja com medo? Talvez ele esteja sofrendo? Talvez ele é que não consiga morrer sem mim.
– não é justo. Nós tivemos onze anos juntos. Vocês se conhecem o que… Seis meses? Mais da metade desses meses vocês se odiaram. Nós tivemos onze anos de amor ininterrupto.
– acho que no fim das contas nunca foi ódio Morgan – falei respirando fundo.
– não é justo – falou Morgan limpando os olhos – eu sugiro que você vá embora. Quando tudo terminar alguém te avisa -falou ela abrindo a porta do quarto.
– Você acha que você é forte mas você é fraca – falei começando a chorar – É preciso mais força para chorar e admitir a derrota. Você venceu, mas eu não vou desistir porque eu tenho a verdade ao meu lado. Você só teve a falsidade. Você dizia que era minha amiga, mas na hora em que mais preciso de uma amiga você está se revelando algo que eu não consigo reconhecer.
– sabe o que eu pedi para Gray na manhã do acidente? – falou Morgan.
– não.
– eu pedi que ele me desse uma segunda chance. Eu fui patética – falou ela limpando os olhos – Eu liguei para ele e pedi por uma segunda chance e na verdade ele já estava planejando o futuro dele com você. No fim das contas ele seguiu em frente, mas eu não. tudo o que fico pensando é que talvez eu não fosse boa o suficiente para ele.
– você não pode pensar nisso. Gray e eu não temos nada a ver com você. Não é porque nós estávamos juntos que significa que o que vocês tinham não era real. É só um relacionamento como qualquer outro. Você precisa superar – falei me aproximando de Morgan e tocando o braço dela.
– não sei se consigo – falou ela me abraçando e caindo no choro.
– vai ficar tudo bem – falei abraçando Morgan – você verá. Tudo vai ficar bem – falei olhando para dentro do quarto. Gray estava lá deitado.
– você pode vê-lo – falou Morgan me soltando.
– obrigado – falei entrando no quarto.
Lá estava ele deitado tão serenamente naquela cama. Era dolorido ver aquele tudo dentro da boca dele. os pulmões dele se enchiam e esvaziavam, mas seus olhos estava fechados. Ele era tão bonito quanto eu me lembrava.
Me aproximei mais da cama e toquei a mão dele. Era engraçado. Ele estava morto, mas sua mão estava quente. Agora ele tinha uma barba no seu rosto. Seus cabelos estavam bagunçados, mas isso não era necessariamente negativo. Ele ficava mais bonito com os cabelos despenteados
– oi Gray – falei subindo a mão pelo braço dele até que toquei em seu peito. O coração dele batia. Como ele podia estar morto? Me sentei em uma cadeira perto da cama toquei o rosto dele. Aquele tudo transparente que jogava ar para dentro dele parecia machucar os lábios dele. E se ele estivesse sofrendo no limbo? E se ele estivesse com dor? Não podemos afirmar que não.
– a escolha é sua – falou Morgan entrando no quarto.
– o que? – perguntei olhando para ela.
– vocês estavam juntos – falou ela meio receosa – acho que é justo você decidir se os aparelhos deve ser desligados.
Me levantei da cadeira e olhei para Gray. Os pulmões dele se enchiam e se esvaziavam. Scott e Eve entraram no quarto e esperaram que eu dissesse algo.
– o que vai acontecer quando os aparelhos forem desligados?
– essa máquina vai parar de jogar ar para os pulmões de Gray – falou Scott se aproximando da cama – como o cérebro dele não tem atividade e ele não consegue respirar sozinho ele vai parar de respirar. Quando ele ficar muito tempo sem ar o coração vai parar de bater.
– então ele vai sufocar? Seria mais ou menos como mata-lo asfixiado?
– ele não sente nada Griffin – falou Scott.
– você não sabe – falei olhando para ele – talvez ele sinta – falei tocando a mão dele – talvez ele sofra quando os aparelhos forem desligados, mas talvez ele esteja sofrendo agora que estão ligados.
– o que você quer fazer?
– nós nunca conversamos sobre isso – falei olhando para Scott – nós não tivemos tempo de nos conhecer direito então nós nunca falamos sobre o que ele gostaria. Como eu posso decidir? Dói tanto pensar nisso – falei sentindo dor no estômago.
– se você está sofrendo é porque já sabe a resposta. Do contrário não doeria tanto – falou Scott tocando em meu ombro.
– chame Holly e Kiff. Quando eles chegarem você pode desligar.
– OK – falou Scott.
Eve estava do lado de Morgan que estava sentada em uma cadeira segurando a mão dos filhos. Olhei para Gray e toquei a mão dele.
Era estranho. Tudo a minha volta era a escuridão só que agora eu consigo ver um pouco de luz. Agora que você chegou. Porque você demorou tanto tempo para vir me vir? É como se eu pudesse sentir você me tocar. Estava deitado naquela cama em sono profundo, mas eu conseguia ver seu rosto. Porque você está tão triste? Acha que não me sinto do mesmo jeito? Tenho só quarenta anos. Tinha tanto pela frente. Tudo o que eu queria era deixar minhas pegadas, deixar uma marca e acho que eu consegui. Deixo o amor pelos meus filhos e por você Griffin. Os corações que toquei são as prova de que eu fiz a diferença enquanto estive aqui. Não tenho certeza se estou deixando algo para trás, mas não deixo arrependimentos. Isso eu tenho certeza. Nossos tempo foi curto, mas valeu a pena… Deus… Eu daria qualquer coisa para conseguir levantar dessa cama e te abraçar uma ultima vez. Não consigo sentir mais nada além do seu toque. Um dia você vai encontrar alguém que te ame tanto quanto eu amei e então você vai em esquecer. A cada dia que passar, cada semana e cada ano o meu rosto irá desparecer da sua mente. O nosso cérebro é inteligente.. Ele te fará esquecer do meu rosto porque ele sabe que desse jeito a dor que você sente irá diminuir. Esse será você seguindo em frente. Só nunca se esqueça de como se sentiu ao me beijar pela primeira naquele aeroporto.
– estão prontos? – perguntou Scott fechando a porta do quarto. Holly e Kiff estava próximos um do outro. Kiff segurava mão de Holly.
– estou – falei olhando para Scott – me sentei na cadeira e segurei a mão de Gray – fica calmo – falei para Gray.
Scott se aproximou e desconectou o tubo da boca de Gray. No mesmo instante os pulmões deles se esvaziaram como balões e ar. Scott então puxou o restante do tudo de dentro da boca de Gray.
Ele não estava mais respirado e sua mão continuava quente. Meus olhos se humedeceram quando o monitor de batimento cardíaco apitou. Os batimentos já não estavam mais ali. Agora só uma linha reta e um barulho incessante.
– você pode se deitar do lado dele se quiser – falou Scott descendo a proteção da cama – pode ficar a vontade.
– OK – falei me levantando e tirando os meus tênis. Holly e Kiff estavam abraçados chorando e Morgan abraça os filhos. Eve chorava em silêncio no canto.
Me deitei do lado de Gray e deitei a cabeça do ombro dele e coloquei a mão em seu peito. Já não sentia mais as batidas do seu coração. Aquele barulho me incomodava. Fechei os olhos e as lágrimas começaram a escorrer devagar caindo no ombro dele. fingi que estávamos na minha cama como no passado quando ele se esforçava para não avançar o sinal. Dei um sorriso me lembrando de quando ele disse que não conseguia ficar perto de mim sem pensar em sexo. Daria tudo para ter a chance de decepcioná-lo de novo.
De olhos fechados eu tentei esquecer do que estava acontecendo. Levei a minha mão até o rosto dele e acariciei sua barba. Ele ainda estava quente. Aquilo era crueldade porque ele tinha tudo para estar vivo. Porque a vida tinha me dado tantos limões?
A porta do quarto abriu e eu vi uma enfermeira entrar com alguns papéis. Scott estava pronto para anunciar.
– hora da morte… – falou Scott olhando para o relógio.
Fechei os olhos e foi quando senti minha mão subir. Abri os olhos assustado e então o monitor cardíaco tinha voltado a apitar.
– Scott, Scott! – falou Eve assustada.
– o que é isso? – perguntou Holly aterrorizada.
– Dr. Clarke a oxigenação está subindo! – Falou a enfermeira.
– o que está acontecendo? – perguntei me levantando da cama com pressa.
Scott olhava para o monitor com uma expressão de surpresa.
– ele está respirando… – falou Scott olhando para Gray e engolindo em seco – sozinho!
– o que é isso? – perguntou Morgan se levantando e ficando ao meu lado.
– Limonada – falei limpando os meus olhos sem acreditar no que estava vendo – Essa é a porra da minha limonada.