Príncipe Impossível – Capítulo 25 – Nada Realmente Importa
Não conseguia acreditar que aquilo realmente tinha acontecido. Gray respirava sozinho. Ele continuava em coma, mas conseguia respirar sozinho. Era como se o corpo dele tivesse descansado todo esse tempo e quando os aparelhos foram desligados o corpo deu o impulso que precisava para seguir sozinho. Era inacreditável. Desliguei o amor da minha vida, mas ele não morreu. Ele não morreu e isso era incrível.
Estava parado do lado de fora do quarto de Gray olhando através do vidro. Faz mais ou menos duas horas desde que ele começou a respirar sozinho e eu não consegui tirar os olhos dele. Me sentia culpado por ter perdido a esperança e agora ele estava respirando sozinho. Ele estava lutado para ficar vivo e eu não fui capaz de lutar por ele.
Depois de algum tempo vi Scott parar ao meu lado.
– você sabe o quão incrível é isso? – perguntou Scott.
– ele voltar a respirar?
– sim – falou Scott maravilhado – é incrível e até agora eu não acredito que isso aconteceu. Se você soubesse o quão raro isso acontece você também estaria fascinado. Abe quantas pessoas acordam de um coma?
– não faço ideia.
– com as lesões que Gray sofreu apenas uma em cem milhões – falou Scott rindo – você tem noção do que isso significa? Cem milhões de pessoas precisam entrar em coma para que uma delas acorde. O caso de Gray devia entrar para os livros de medicina.
– só que tem um problema…
– qual? – perguntou Scott olhando para mim.
– ele continua em coma – falei olhando de volta ara Gray – Ele está respirando sozinho, mas continua em coma.
– o cérebro dele quase não tinha atividade cerebral. Era quase zero e agora ele respira sozinho e a atividade cerebral está de volta.
– você está tentando me deprimir?
– não – falou Scott – estou dizendo que não deve perder as esperanças.
– eu não posso. Não posso simplesmente ficar esperando ele acordar. Isso me mataria. Ele não está mais em coma, mas está em estado vegetativo. Não sei se isso é melhor ou pior.
– é melhor – falou Scott parando pro um momento – eu posso tentar acordá-lo.
– você acha que consegue?
– não posso prometer, mas eu posso tentar. Eu sou um dos melhores neurocirurgiões desse país. Se tem alguém que consegue fazer isso sou eu.
– e como você faria?
– eu posso fazer uma cânula no aqueduto cerebral.
– o que é isso? – perguntei curioso.
– é um tubo para drenar o acúmulo de líquido. Eu vou inserir um tubo para tentar drenar o liquido que se acumulou no aqueduto cerebral. Eu fiz alguns exames nele depois que ele voltou a respirar e o seu líquor mostra uma desaceleração, mas não é uma uma obstrução completa. Poderia funcionar.
– já foi feito antes?
– É um procedimento experimental pouco satisfatório. Os casos em que deu certo são raríssimos. Tão raros quanto alguém que não tem atividade cerebral voltar a respirar sozinho.
– você acha que vale a pena tentar?
– claro. Devo isso a meu amigo.
– então eu não devo ficar muito esperançoso?
– não – falou Scott – mesmo que as chances pequenas eu devo tentar porque pelo menos eu terei certeza de que terei feito tudo possível.
– OK – falei cruzado os braços.
– eu preciso falar com Morgan primeiro – falou Scott olhando para trás e vendo Morgan sentada em uma cadeira ao lado de Eve, Holly e Kiff.
– eu sei – falei cansado daquela situação – afinal é ela que toma as decisões por ele.
Scott e eu caminhamos até onde todos estavam e antes que Scott começasse a falar termos médicos eu decidi ser direto.
– Scott acha que tem uma chance com Gray – falei interrompendo Scott mesmo antes dele começa a falar.
– ele pode acordar? – perguntou Morgan cochichando. As duas crianças dormiam deitada em seu colo.
– as chances são pequenas, mas acho que deveríamos tentar – falou Scott tentando parecer otimista.
Morgan não respondeu de imediato e antes que pudesse dizer algo ela olhou para mim.
– o que você acha? – perguntou Morgan olhando para mim.
– acho que devíamos tentar. Me colocando no lugar dele eu gostaria que tivessem tentado de tudo.
– OK – falou Morgan forçando um sorriso – é só trazer a papelada e eu assino.
– OK – falou Scott indo buscar os papéis.
– obrigado Morgan – falei agradecendo por ela estar sendo adulta quanto ao nosso relacionamento.
– de nada – falou ela olhando para baixo.
– nossa Griffin – falou Eve se levantando – você chegou tão rápido e tanta coisa aconteceu que eu nem perguntei como está seu pai. Ele está bem?
Aquelas palavras doeram um pouco. Tinha até me esquecido da situação com meu pai. Deixei ele, Bryan e Stephen em Nebraska e corri para Los Angeles.
– na verdade eu não sei Eve. Vou ligar para o advogado dele para saber como tudo está.
– OK – falou Eve se sentado.
Peguei meu celular e me afastei de todos para fazer a ligação em particular. Aquela seria uma conversa difícil. O telefone chamou algumas vezes e logo alguém atendeu.
– Bryan? – falei quando alguém atendeu do outro lado, mas ficou em silêncio.
– Griffin? você está bem?
– estou.
– o que aconteceu com você?
– um grande problema.
– onde você está? Está em casa?
– em Los Angeles.
– em LA? O que está fazendo ai?
– já disse. Aconteceu uma coisa aqui e eu tive que vir o mais rápido o possível.
– o que é mais importante do que seu é morrendo pedindo para você ficar?
– nem perca seu tempo me dando sermão Bryan. Meu pai é grandinho e apesar dele ter esquecido eu me lembro muito bem das coisas que ele fez então não me culpe por ele não ser minha prioridade.
Bryan ficou em silêncio.
– o que aconteceu? Apenas diga de uma vez…
– ele está bem – falou Bryan rouco do outro lado da linha.
– bem? Quando eu sai dai o médico disse que não tinha salvação. Ele estava vomitando sangue.
– ele está estável Griffin. O médico decidiu arriscar um pouco mais com o seu pai e devido ao histórico de câncer ele diagnosticou seu pai errado.
– o que quer dizer?
– seu pai não estava vomitando por causa do câncer. O câncer ainda é bem agressivo, mas ele vomitou sangue porque engoliu uma lâmina de bisturi.
– uma lâmina de bisturi?
– sim. A enfermeira da prisão foi descuidada e não ficou de olho no seu pai. Ele pegou a lâmina e engoliu. Acredito que ele tentou se matar.
– porque ele faria isso? Ele se lembrou de algo?
– não. Ele só estava depressivo. Acontece bastante com pessoas que tem Alzheimer. As chances de se machucarem e tomarem decisões perigosa é muito grande.
– então ele vai sobreviver?
– sim – falou Bryan – ele precisa ficar duas semanas em observação no hospital. Se nesse tempo nada acontecer ele irá para Los Angeles.
– mas nós não precisamos falar com o juiz?
– depois do incidente o juiz disse que nem precisa de uma audiência. Ele deu a guarda do seu pai para você.
– ótimo – falei feliz. Se meu pai tivesse morrido talvez eu nunca me perdoasse por tê-lo deixado. Não digo que me arrependo, mas não significa que não doa tê-lo deixado da forma que deixei.
– você pode voltar para Nebraska quando?
– eu não posso voltar. Odeio me lembrar do passado e eu detesto a pessoa que me torno quando estou ai. Será que você pode resolver tudo pra mim?
– posso sim.
– obrigado Bryan e desculpa por ter gritado com você.
– sem problemas – falou Bryan pausando – qualquer coisa eu entro em contato.
– obrigado por tudo Bryan.
– até mais – falou Bryan desligando o telefone.
– vou me preparar para a cirurgia – falou Scott chegando atrás de mim me assustando.
– OK – falei guardando o celular no bolso – ela já assinou os papéis?
– sim – falou Scott amarrando a touca na cabeça. Ele já estava pronto para a cirurgia.
– quanto tempo vai demorar essa cirurgia?
– mais de doze horas – falou Scott.
– vou ter que esperar isso tudo pra saber?
– sinto muito, mas é uma cirurgia difícil.
– eu sei – falei respirando fundo e pensando – eu seria um namorado ruim se fosse pra casa? Não me entenda mal, mas eu não consigo ficar aqui sentado esperando por noticias. É horrível ser a pessoa na sala de espera. Sinceramente eu preferiria ser a pessoa na sala de cirurgia porque eu odeio esperar especialmente quando eu não tenho certeza dos resultados.
– Acho que não importa onde você esteja. Gray sabe que você o ama – falou Scott.
– você me promete que vai ligar caso algo aconteça?
– sim. Qualquer coisa – falou Scott colocando a mão no meu ombro – vou pedir para minha enfermeira de enviar uma atualização sobe o andamento da cirurgia a cada hora.
– obrigado Scott – falei vendo a maca de Gray sendo tirada do quarto para o ser levado ao centro cirúrgico. Quando a maca passou por nós eu olhei para Gray e depois para Scott – boa sorte.
– obrigado – falou Scott colocando a mão em meu ombro novamente antes de finalmente ir para a cirurgia.
Fui até Holly, Kiff, Eve e Morgan e parei na frente deles.
– Scott me disse que a cirurgia levará pelo menos doze horas.
– acho que eu vou para casa – falou Morgan se levantando – vou levar os meninos pra casa, chamar a babá e depois vou voltar.
– e eu vou para a casa e só volto amanhã cedo.
– porque? – perguntou Morgan.
– eu não consigo ficar aqui esperando noticias. Vou pra casa dormir que as horas passam mais rápido.
– e seu pai? – perguntou Eve.
– meu pai tem Alzheimer e tem câncer, mas fora isso está bem.
– sinto muito – falou Eve.
– eu também, mas devido a essa situação o juiz deu a guarda do meu pai para mim e em duas semanas ele estará vindo para Los Angeles.
– ele vai morar com você? – perguntou Morgan.
– não. vou coloca-lo em uma clínica para pessoa que tem Alzheimer. Ele será bem cuidado lá. Ele nem se lembra do porque está preso então acho que também não posso ficar toda a minha vida com raiva dele.
– é muito bonito da sua parte fazer isso – falou Holly se levantando.
– pois é. Algumas vezes é melhor deixar pra lá. É mais fácil esquecer do que ficar com raiva.
– posso pegar uma carona com você Morgan? – perguntou Kiff.
– claro.
– Holly e eu vamos ficar aqui – falou Eve.
– não quero que me entendam mal, mas eu não posso ficar aqui sentado. Não quero que pensem que eu não me importo mais é só que…
– nós entendemos – falou Morgan me interrompendo e sorrindo para mim – nós sabemos pelas coisas que você passou, seu irmão, seu pai… são visitas demais a hospitais por uma vida inteira.
– exato. Eu só quero ir para casa dormir e esperar que tudo dê certo.
– se acontecer qualquer coisa eu te ligo – falou Eve me abraçando.
– obrigado – falei seguindo com Morgan e Kiff até lá fora. Morgan partiu em seu carro e eu chamei um taxi.
Ao chegar no meu prédio caminhei até o meu bloco e entrei no elevador apertando o meu andar. Antes que a porta se fechasse Oliver impediu que a porta se fechasse.
– Griffin? – perguntou Oliver surpreso.
– oi vizinho – falei tentando disfarçar. Só agora tinha me lembrando das ligações dele e de Rachel e do jantar que tinha prometido com Gray.
– oi vizinho? Você disse que viria jantar com Rachel, eu e seu namorado e você desapareceu por uma semana e ainda não atendeu minhas ligações.
Não respondi nada e o elevador continuou a subir.
– você está bem? – perguntou Oliver – aconteceu alguma coisa?
– aconteceu de tudo nessa semana – falei rindo. A porta do elevador se abriu e nós saímos.
– coisas boas ou ruins? – perguntou Oliver que trazia consigo uma sacola. Pela embalagem vi que era um vinho tinto.
– coisas horríveis.
– você quer me contar que coisas são essas?
– talvez amanhã.
– você vai ficar bem? – perguntou Oliver chegando até a porta do apartamento dele.
– vou ficar ótimo.
– eu vou cobrar hein? – falou Oliver.
– pode cobrar. Amanhã eu conto tudo é só que agora eu estou cansado. Cheguei de uma longa viagem e estou muito cansado.
– tudo bem então – falou Oliver sorrindo.
Fui até meu apartamento e desfiz as malas. Depois disso fui direto para o banho. Tomei um banho quente e depois fui para a cama. Ainda era cedo, mas não tinha muito o que fazer. Estava ansioso por amanhã e se eu dormisse as horas passariam bem rápido.
O sono chegou bem rápido. Mais rápido do que eu achei que chegaria. Estava tão cansado. Era tão bom dormir em minha própria cama de novo. Estava em um sono profundo quando acordei assustado com um barulho. Olhei no relógio e era pouco mais das onze horas da noite. Tinha dormido algumas horas.
Olhei no celular e vi algumas mensagens enviadas do celular de Scott dizendo que a cirurgia ainda estava acontecendo e que por enquanto Gray estava instável. Me levantei da cama e fui até o banheiro tirar uma água do joelho. Fui até a sala e olhei em volta. Tinha certeza de que tinha ouvido algum barulho.
Fui até a porta e eu a abri e foi quando eu vi que tinha uma embalagem no chão da porta. Seria algum presente dos meus vizinhos Oliver e Rachel? Não seria a primeira vez que eles deixavam algo na minha porta.
Peguei o pacote e levei para dentro do apartamento. Era pesado. Coloquei o pacote em cima da mesa e ao abrir tive uma surpresa. Era a garrafa de The Last Drop que Hugo tinha me roubado. Grudado na garrafa tinha um bilhete.
ESTOU POUPANDO SEU TEMPO. NÃO O PERCA ME PROCURANDO OU VOCÊ VAI ENCONTRAR ALGO QUE NÃO VAI GOSTAR: A MORTE.
Aquilo me assustou. Era uma ameaça real e além do m ais ele tinha deixado na minha porta. Será que ele sabia que eu tinha ido atrás dele? Talvez Sadie tenha comentado com ele que conhecia me conhecia. Se ela tivesse dito meu Griffin Blake ele saberia que era eu. E se Sadie estivesse envolvida? Aquilo estava acontecendo de novo e novamente eu não sabia o que fazer.
O passado estava voltando novamente. Ti há encontrado Phil no aeroporto e agora Hugo tinha deixado a garrafa na minha porta. Ele não deixou por acaso. Deixou para mostrar que ele entra e sai do meu prédio quando bem entender. Tem porteiro e tem guarda e mesmo assim ele tinha entrado e saído.
Fui até o meu armário da sala e coloquei a garrafa lá. Não queria muito ficar pensando naquilo porque do contrário eu ficaria paranoico pensando aquilo. Quando voltei para o meu quarto percebi que meu celular tocava. Na hora eu pnsei que era Scott. Algo tinha acontecido de errado.
Pulei na cama e atendi o celular;
– alô?
– Griffin? – falou a voz conhecida do outro lado.
– Scott?
– não. É o Steve.
– puxa Steve… você quase me matou de susto.
– o que foi? Está tudo bem?
– eu achei que fosse outra pessoa.
– eu só liguei pra saber como você está. Sei que está tarde, mas eu fiquei esperando você ligar e você não ligou.
– desculpa.
– você está bem?
– estou sim.
– Bryan te contou sobre seu pai?
– contou sim.
– eu pensei sobe a proposta que você me fez…
– e qual é a resposta? Vai vir morar aqui em Los Angeles?
– por enquanto eu não acho que seja uma boca ideia.
– tudo bem Steve. Eu não quero te forçar a nada, mas se mudar de ideia você sabe que pode falar comigo.
– eu sei – falou Steve pausando – e como você está?
– fala sobre meu namorado em coma?
– sim. Você está bem?
– sim porque ele não está mais em coma.
– ele acordou?
– não, mas ele melhorou. Os aparelhos foram desligados, mas ele não morreu. Nesse momento ele está sendo submetido a uma cirurgia que pode ou não acordá-lo e nesse momento tudo o que posso fazer é torcer para que dê certo.
– vai dar tudo certo. Eu vou estar rezando por ele.
– obrigado – falei apagando a luz do abajur e jogando o cobertor nas minhas pernas.
– bem eu vou deixar você dormir.
– você me promete que vem me visitar um dia? Quero que conheça Los Angeles e talvez você até conheça Gray.
– prometo.
– obrigado.
– vou deixar você dormir. Boa noite.
– boa noite Stephen – falei desligando o celular.
Estava assustado com a devolução da garrafa feita por Hugo também conhecido como Roger, mas eu não queria pensar nessas coisas agora. Só queria dormir. Me virei de lado e fechei os olhos tentando pegar no sono novamente.
Quando o sol nasceu no dia seguinte eu ainda estava acordado. Não consegui dormir depois que tinha acordado na noite passada. Passei praticamente a noite toda assistindo filmes no Netflix e cochilando alguns minutos. Quando o sol bateu na minha janela e o relógio marcou exatamente seis horas da manhã eu me levantei. Estava otimista. Tinha que acreditar que tudo daria certo. Não acreditava em deus e não era supersticioso, mas tinha que acreditar em algo então acreditei no pensamento positivo de que tudo ficaria bem.
Depois de tomar um outro banho, vesti minha roupa e sai do meu apartamento para voltar ao hospital. Foi quando percebi que os meus dias de luxo tinham acabado. Não tinha mais nenhum centavo na carteira e minha conta no banco estava agora negativa. Já tinha gasto todo o meu último salário com todas essas viagens inesperadas e todas essas idas e vinda de taxi. As contas estava só juntando dentro da gaveta e eu já não sabia o que fazer.
Quando ia saindo do meu apartamento eu vi Oliver e Rachel saindo do apartamento deles.
– bom dia – falou Rachel com um sorriso.
– acordou cedo hein? – falou Oliver brincando.
– eu preciso ir para o hospital;
– o que aconteceu? você está bem? – perguntou Oliver.
– é o meu namorado Gray. Ele levou um tiro semana passada e entrou em coma. Ontem eu autorizei que os aparelhos fossem desligados, mas ao invés de morrer ele melhorou e ele passou a noite toda em uma cirurgia que pode ou não fazer ele acordar. Estou indo para o hospital para saber a resposta.
Rachel e Oliver se entreolharam e não disseram nada.
– não me culpem por contar tudo de uma vez – falei apertando o botão do elevador – foi você que me fez prometer Oliver. Ontem… lembra?
– lembro – falou Oliver entrando no elevador comigo e Rachel.
– você está bem?
– estou ótimo. Hoje eu acordei otimista… quer dizer, não sei se devo dizer acordar quando eu passei a noite em claro assistindo filmes e séries.
– vai dar tudo certo – falou Oliver.
– vai mesmo – falei sorrindo para Oliver e Rachel. Acho que eles acharam estranho meu otimismo. Isso ou eles ainda estavam chocados pela noticia – podemos marcar o nosso jantar em alguns dias assim que Gray se recuperar.
– tudo bem – falou Rachel.
Nós saímos do elevador e caminhamos pelo estacionamento.
– será que eu posso me humilhar e pedir algum dinheiro para pegar um taxi até o hospital? Estou sem nenhum centavo graças ao canalha que me roubou tudo.
– é claro -falou Oliver abrindo a carteira e me entregando várias notas.
– eu ainda te pago.
– não precisa – falou Oliver – você não quer uma carona até o hospital?
– não precisa. Não quero atrapalhar o dia de vocês.
– você não estaria atrapalhando – falou Rachel – eu voltei a trabalhar essa semana.
– seu bebê está com a babá?
– está sim – falou Rachel.
– é sério. não precisa. De verdade.
– espero que dê tudo certo – falou Rachel tentando em motivar. Pelo olhar dela ela não acreditava que fosse dar certo, mas não ligava.
– vai dar – falei agradecendo novamente pelo dinheiro. Ao chegar lá fora peguei um taxi que me levou até o hospital.
Ao chegar no hospital fui até a sala de espera. Todos estavam lá. Morgan, Eve, Holly e Kiff.
– bom dia – falei entrando na sala. Todos me olharam estranho. Talvez pelo sorriso no meu rosto.
– porque você está sorrindo? – perguntou Kiff.
– porque eu estou otimista.
– e porque você está sendo otimista.
– porque minha vida tem sido uma droga por muito tempo e Gray foi uma ótima coisa na minha vida e além disso ontem a noite Hugo foi até o meu prédio e devolveu uma das coisas que ele roubou.
– você o viu? – perguntou Eve.
– não, mas ele deixou uma das garrafas de bebida que roubou de mim com um recado dizendo que se eu ou alguém tentar procura-lo ele vai matar.
– e mesmo assim você está sorrindo? – perguntou Holly rindo – você é estranho.
– e então? Será que a cirurgia vai demorar acabar? – perguntei me sentando.
– ela já acabou faz trinta minutos falou Eve.
– acabou? E porque ninguém me ligou?
– porque Scott ainda não veio falar com a gente. Só uma enfermeira que avisou que a cirurgia já tinha ido encerrada.
– bom dia – falou Scott entrando na sala de espera.
– e então? – perguntou Morgan se levantando – como foi a cirurgia.
– foi difícil – falou Scott olhando para mim – precisamos de um cirurgião torácico quase no fim da cirurgia porque enquanto eu tentava aliviar a pressão do cérebro retirando o líquido mais coágulos se formaram… – falou Scott pausando.
– meu deus – falei sentindo minha respiração sair de controle – eu estava tão certo de que tudo aria certo – falei começando a chorar – eu fui um idiota, devia saber que ele entraria em coma de novo.
– ele acordou – falou Scott.
– meu deus – falou Eve me abraçando – ele acordou?
Holly, Kiff e Morgan começaram a comemorar enquanto eu limpava meus olhos tentando acreditar naquilo.
– ele acordou? – perguntei para Scott.
– sim. Por isso demorei para vir dar a noticia. Estava fazendo alguns exames para saber qual o nível da atividade cerebral e se ele tinha algumas sequelas, mas o milagre não acabou quando ele começou a respirar. Ele é o mesmo homem de sempre. Sem sequelas.
– isso é maravilhoso – falou Kiff feliz.
– nós podemos vê-los? – perguntou Morgan.
– claro, mas só dois de cada vez. Não vamos sobrecarregá-lo.
– OK – falou Morgan dando dois passos para sair, mas ela parou e olhou para mim – ele vai querer ver você primeiro.
– não – falei limpando meus olhos – podem ir vocês – falei me sentando na cadeira. Me sentia culpado pelas coisas que disse no dia do acidente sobre ele não me valorizar. Talvez ele até me culpasse por tudo.
– tem certeza? – perguntou Scott – você foi a primeira pessoa que ele perguntou quando acordou.
– não… podem ir vocês.
– OK – falou Morgan olhando para Eve. Elas foram primeiro.
Não sei quanto tempo elas ficaram lá porque eu me perdi em minha mente. O que eu diria pra ele quando o visse? O que ele diria pra mim? Estava envergonhado. Era como se agora que ele tinha acordado eu não o quisesse ver. Depois que Morgan e Eve voltaram foi a vez de Kiff e Holly.
– porque você não quis ir primeiro? – perguntou Eve se sentando junto com Morgan.
– não sei o que dizer. Nós estávamos brigados no dia do acidente. E se ele me odiar? E se ele me culpar? E se ele não gostar de eu ter desligado os aparelhos?
– pare! – falou Morgan brigando – pare de ficar supondo o pior. Ele acordou e esse é um milagre. O seu milagre. Apenas aprecie -falou Morgan segurando minha mão – quando você for até lá seja você mesmo. Eu conheço Gray. Ele não te culpa por nada. Ele é um homem bom.
– OK – falei apertando a mão de Morgan aguardando Holly e Kiff.
Os minutos acabaram se arrastando devagar. Talvez fosse a vontade de vê-lo que se misturava com a vontade de não vê-lo. Era difícil não pensar que talvez nada disso tivesse acontecido se eu não fosse um filho a mãe egoísta. Eu o deixei irritado naquele dia.
– sua vez – falou Kiff quando voltou com Holly.
– vocês foram rápido demais. Não ficaram nem cinco minutos.
– Gray ficou enchendo o saco dizendo que queria te ver e que já tinha visto Kiff e eu demais por uma vida inteira – falou Holly rindo.
– OK – falei me levantando e saindo da sala de espera caminhando pelo corredor. Caminhava em câmera lenta até o quarto dele. Passei de frente o vidro e vi Gray deitado de olhos abertos. Antes de entrar no quarto bati na porta.
– pode entrar – falou Gray rouco.
Ao abrir a porta eu vi os olhos dele. Eu vi os olhos dele depois de tanto tempo de tê-lo visto fechado. Ele tinha uma faixa enrolada em uma parte da cabeça que foi onde foi feita a cirurgia. Ao me ver entrar no quarto ele olhou para mim em silêncio.
– oi – falei sem graça fechando a porta.
– vem aqui – falou Gray esticando o braço com a mão estendida do mesmo jeito que ele fez no dia do acidente.
Segurei a mão dele e me aproximei quando ele me puxou.
– porque você não veio primeiro? – falou Gray segurando minha mão me encarando. Seus lindos olhos azuis brilhavam. Agora ele tinha uma barba no rosto.
– estava com medo de você estar com raiva de mim pelas coisas que eu disse naquele dia – falei deixando algumas lágrimas caírem. Estava arrependido.
– não chora meu amor – falou Gray limpando minhas lágrimas com seus dedos.
Coloquei a mão no peito dele e senti seu coração bater.
– meu coração quase se transformou em pedra nesse meio tempo em que você ficou em coma – quase perdi a fé em você. Achei que nunca acordaria.
– mas eu acordei. Só pra te ver – falou ele rindo.
– você com certeza não perdeu seu senso de humor.
– casa comigo – falou Gray segurando minha mão.
– o que?
– não hoje – falou Gray – não estou te pedindo em casamento, mas quero que me prometa que em algum momento de nossas vidas você vai se casar comigo quando eu te propor.
– você já propôs – falei brincando – naquele aeroporto. Eu já se esqueceu?
– eu me lembro – falou Gray me puxando para um beijo. Quando seus lábios encostaram no meu eu senti um arrepio. Era como sentir o fogo acendendo dentro de mim. subi minha mão por seu peito e acariciei seu rosto. A barba espetava a minha mão enquanto sua língua dançava dentro da minha boca.
Gray pressionava minha nunca impedindo que o beijo acabasse. Como era bom se sentir nos braços de um homem outra vez. Como era bom se sentir nos braços de Gray. Seus braços eram fortes e me abraçavam.
– eu te amo – falei quando Gray deu um beijo no meu nariz.
– eu te amo mais – falou Gray dando um selinho na minha boca…
– bem… se você diz – falei rindo e tirando os meu tênis..
– o que vai fazer?
– vou fazer o mesmo que fez comigo quando era eu quem estava internado nesse hospital.
Depois de tirar os tênis eu subi na cama e me deitei do lado dele. Deitei minha cabeça em seu ombro e Gray deu um beijo na minha testa.
– aquela foi a primeira e ultima vez que eu vi sua bunda – falou Gray rindo.
– vai se preparando porque quando você melhorar eu tenho muito sexo guardado pra você.
– você está pronto? – perguntou Gray acariciando meu braço.
Minha mão estava repousada na barriga de Gray.
– pra você eu sempre estive. Só tinha medo de admitir.
Gray não disse nada e apenas acariciou meu rosto.
– você ficou bonitão de barba, sabia?
– eu estava pensando em tirar, mas posso deixar se você gostou.
– você fica bonito de qualquer jeito – falei fechando meus olhos aproveitando aquele momento.
– Morgan me contou tudo.
– tudo o que?
– tudo o que aconteceu quando eu estava em coma. Sobre como ela tentou te afastar e não deixou você me ver… exatamente tudo.
– você está com raiva dela?
– Só um pouco chateado, mas não estou com raiva.
– Eu também não tenho raiva dela porque o amor que eu tenho por você consumiu meu corpo e não tem espaço para mais nada – falei sentindo ele me apertar um pouco mais forte.
– só fico feliz em saber que não vou precisar mais esconder o que sinto por você – Gray disse isso me fazendo olhar para ele – vou poder beijar essa sua boca em público – falou ele dando um selinho demorado. Depois outro e então ele mordiscou meu lábio puxando a parte debaixo. De olhos fechados novamente nós nos beijávamos. Era surreal beijar a boca dele novamente. Era como se estivéssemos no paraíso. Talvez Gray tenha morrido ou talvez eu tenha tomado aquele comprimidos e ido ao seu encontro Nesse mundo cheio de falhas nada realmente importa. Quem diria que o meu paraíso cabia no céu? Finalmente eu estava tendo o que merecia depois de tanto sofrimento. Não via a hora de levar meu namorado para casa.