Contos

Príncipe Impossível – Capítulo 35 – Caixa de Pandora

Os machucados de Stephanie foram superficiais e ela precisou levar só dois pontos na testa e um remédio desconfortante no braço. Fora isso ela estava bem. Nós tínhamos certeza disso porque Gray fez todo o tipo de exame na filha mesmo sem precisar. Entendo a preocupação dele e nenhum de nós tentou impedir. Gray se sentia muito mal pelo o que tinha acontecido e com certeza se sentia culpado. Se ele precisava desses exames nenhum de nós iria atrapalhá-lo.

– ela está ótima – falou Gray olhando alguns raios x que tinha ela tinha feito – não ouve nada sério e ela não quebrou nenhum osso.

– que bom né filha? – falou Morgan consolando a filha que parecia estar bem melhor. Estava até sorrindo.

– isso é ótimo – falou Gray sorrindo e guardando os exames.

– vamos para casa? – perguntou Morgan.

– posso falar com você? – perguntou Gray para Morgan.

– pode ir – falou Jake – o tio Jake vai ficar cuidando dela.

Gray, Morgan e eu saímos do consultório deixando Holly e Jake com Stephanie.

– O que é Gray? Tem algo de errado? – perguntou Morgan preocupada.

– não. ela está bem. Só queria te perguntar se eu posso leva-la pra minha casa hoje. Sei que eu tenho os fins de semana, mas ela precisa de mim.

– é claro Gray – falou Morgan – pode levar. Ela vai gostar de passar um tempo com você.

– será que você pode trazer Vincent também? – perguntou Gray como se implorasse a Morgan – eles precisam saber que eu ainda os amo.

– não precisa pedir de novo – falou Morgan – pode levar Stephanie e assim que chegar em casa eu vou dispensar a babá e levar Vincent você.

– Leve-o para nossa antiga casa – falou Gray olhando para Morgan se referindo a casa que eles viveram por onze anos que é a casa em que Gray morava atualmente – O apartamento de Griffin só tem um quarto e além do mais eles vão preferir dormir em um lugar ao qual estão acostumados.

– tudo bem – falou Morgan cedendo.

Gray abriu a porta do consultório e foi até Stephanie.

– vamos pra casa? – perguntou ele pegando a filha nos braços.

– vamos – falou ela mais alegre.

– você quer ir com o papai?

– quero sim – falou ela abraçando Gray.

– então vamos – falou ele caminhando para fora do consultório.

Já de fora do hospital todos nós nos despedimos. Jake e Morgan foram embora buscar Vincent e Holly se foi em seu carro. Entrei no carro sentando no banco do carona e esperei por Gray que deu a volta e colocou a filha no banco de trás e em seguida colocou o sinto de segurança.

Gray entrou no carro e deu partida seguindo para sua antiga casa. Todo esse tempo que estou com Gray e eu nunca tinha ido a essa casa. Tudo o que eu sabia é que ficava próximo a praia. Gray estava curiosamente em silêncio. Ele nem olhou nos meus olhos depois do que soube o que houve com a filha. Ele estava mesmo chateado com o acontecimento.

Seguimos viagem até a casa de Gray e percebi que o lugar era familiar. Antes que minha ficha caísse Gray estacionou o carro. Percebi que estávamos em frente ao meu prédio.

– porque você parou aqui? – perguntei para Gray.

– vim te deixar – falou ele olhando para mim.

– há ta… – falei sem graça – eu pesei que eu fosse com você.

– eu preciso ficar um tempo sozinho.

– tudo bem – falei colocando a mão na porta para abri-la, mas voltei atrás e me inclinei até Gray, mas ele virou o rosto e olhou no retrovisor. Percebi que ele não queria me beijar na frente da filha. Já tínhamos feito isso antes, mas acho que agora a situação é diferente. Decidi não tocar no assunto, mas não desisti do meu beijo. Aproximei o rosto e dei um beijo na bochecha dele. A barba por fazer espetou minha boca – te amo – falei saindo do carro. Ele não respondeu.

Gray se foi com o carro e eu entrei no prédio. Ao passar na portaria o porteiro me parou.

– boa noite Sr. Blake.

– boa noite Gary – falei forçando um sorriso, não tinha a mínima vontade de sorrir – tem alguma correspondência pra mim?

– tenho sim – falou ele entregando algumas cartas para mim.

– obrigado – falei lendo as cartas.

– hoje você recebeu uma visita.

– quem?

– ele disse que se chama Stephen Rohrbough – falou Gary lendo de um papel.

– Steve? Ele esteve aqui?

– sim. Ele disse que está de visita em Los Angeles e está hospedado em um hotel aqui perto.

– ele disse qual hotel?

– não, mas disse que aguarda sua ligação.

– OK Gary, muito obrigado – falei pegando as cartas e indo até o elevador. Não acredito que Steve veio mesmo até Loa Angeles. Precisava mesmo de alguém para conversar agora que Gray passava por um momento delicado. Peguei meu celular e liguei para Stephen que atendeu em seguida.

– alô.

– Steve? É o Griffin.

– oi Griffin, vejo que recebeu meu recado.

– recebi sim, você está em Los Angeles?

– estou sim. Como eu prometi.

– podemos nos encontrar agora? Você pode vir pra cá ou eu posso ir até onde você está.

– você que sabe.

– eu vou para o seu hotel – falei apertando o botão do elevador que me levou novamente até o térreo. Peguei um Uber e pedi que me levasse até o Hotel Zummach.

Ao chegar no hotel Stephen me esperava lá embaixo.

– olá – falou Stephen me recebendo com um abraço.

– olá – falei retribuindo o abraço.

– como você está?

– estou ótimo Steve e você?

– estou bem.

– porque não me avisou que estaria vindo para cá?

– não tive tempo eu meio que me decidi de última hora. Senti vontade de vir e vim. Se eu pensasse um pouco mais eu desistiria. Me acostumei muito a ficar em casa. Sair é difícil para mim.

– eu sei – falei compreendendo que ele tinha passado por muita coisa.

– você quer subir para meu quarto?

– não. Vamos jantar? – falei olhando para o relógio no braço. Era pouco mais das sete e meia da noite.

– vamos –falou Stephen caminhando ao meu lado até que chegamos a um Outback Steakhouse. Um restaurante australiano.

Assim que entramos pedimos algo para beber. Fiquei com Suco e Stephen pediu uma cerveja preta. Para comer pedimos uma Tilápia grelhada, coberta com camarões ao molho. Para acompanhar pedimos legumes ao vapor.

– e então? Porque não trouxe seu namorado Gray? – perguntou Stephen tomando um gole da sua cerveja.

– aff… – falei respirando fundo – nós estamos passado por um momento delicado Steve… ele na verdade.

– o que foi? O que aconteceu?

– ele foi discriminado. Foi a primeira vez dele.

– a primeira vez é sempre mais difícil – falou Steve.

– é verdade. Cada vez que alguém te discrimina dói um pouco, mas depois de um tempo você acaba criando uma casca. Essa é a primeira vez do Gray e o pior de tudo é que a filha dele está no meio. Ela apanhou das colegas de classe por que o pai está namorando comigo.

– sinto muito.

– pois é. Eu não o culpo por não querer ficar perto de mim. Só espero que ele supere.

– será um pouco difícil Griffin afinal ele machucaram Gray onde mais dói. Na filha – falou Stephen agradecendo enquanto o garçom colocava a comida em cima da mesa – você ainda não tem filhos, mas quando você tiver você vai entender. Nós pais conseguimos superar qualquer coisa que façam conosco, mas quando fazem mal aos nossos filhos é como se estivessem dando um tapa na nossa cara. Dói e dói muito.

– não sei, acho que no fundo a culpa é minha – falei pegando o garfo e colocando um pedaço do frango com molho na boca.

– você não está pensando em terminar com ele né?

– eu estaria mentindo se dissesse que não pensei na possibilidade.

– não seja tão pessimista Griffin. Você disse que ama esse cara.

– eu o amo demais para vê-lo sofrer e a culpa é minha porque acho que sou amaldiçoado. Todo mundo que se aproxima muito de mim acaba se dando mal. Acho que até Gray percebeu isso porque ele não me quer perto dos filhos. Ele os levou para casa e pediu pra ficar sozinho e eu não posso culpa-lo. Sou como a caixa de pandora. Uma vez que eu me abro só tragédias acontecem. Quando um problema termina outro começa. É uma droga – falei mastigando um dos legumes sem muita vontade.

– não seja pessimista Griffin – falou Stephen pegando um legume e passando no molho antes de levar até a boca.

– não estou sendo pessimista eu estou sendo realista.

– você já leu todo o mito de Pandora?

– confesso que nunca li.

– depois que a deusa Pandora abriu a caixa e libertou todos os males e tragédias sabe qual foi a única coisa que continuou dentro da caixa?

– não. o que?

– a esperança – falou Stephen olhando para mim.

– o que isso quer dizer?

– é bom que esteja libertando os seus demônios agora porque no fim das contas a esperança é a única coisa que vai ficar com você. É a única coisa a qual você não deve deixar escapar. A vida é assim. Cheia de erros e acertos; coisas boas, ruins e medíocres acontecem, mas no fim das contas você consegue passar por tudo isso porque tem a esperança de algo melhor no mundo.

– mas as vezes cansa tentar ser otimista. Sei que poderia ser pior, mas é um saco passar por algo assim. Quando algo de ruim acontece com a gente é uma coisa, mas quando isso começa a afetar as pessoas que você ama doí muito e a pior parte de tudo foi ele dizer que precisava ficar longe de mim. Ele disse que precisava ficar sozinho, mas no fundo ele não precisava ficar só. Ele precisava ficar longe de mim porque eu o faço lembrar do que aconteceu.

– Sinto muito mesmo por estar passando por isso. De verdade, mas você precisa dar tempo ao tempo. Algumas feridas só o tempo cura.

– vou fazer isso – falei tomando um gole do meu suco de laranja.

– me fale sobre o seu pai – falou Stephen.

– como você sabe ele está internado em uma casa de repouso para pessoas com Alzheimer. Ele está sendo bem tratado lá. Eu gostaria de visita-lo mais vezes, mas na maioria do tempo eu não tenho tempo e as vezes eu só não quero vê-lo.

– você está fazendo sua parte. Ele pode ter falhado como pai, mas você está sendo um ótimo filho e é isso que importa.

– eu não sou nenhum santo. As vezes eu desejo que ele estivesse morto, mas quando eu vou a casa de repouso e olho nos olhos dele eu percebo que no fundo ele também gostaria de estar. Sempre que vou visita-lo ele é uma pessoa diferente em uma época diferente. Deve ser péssimo estar na pele dele.

– eu posso visita-lo? – perguntou Stephen com medo da resposta.

– claro, mas porque você quer vê-lo?

– nada em especial. Só fazer uma visita.

– tudo bem. Eu te passo o endereço da casa por mensagem.

– OK – falou Stephen tomando um gole da cerveja dele.

Stephen e eu ficamos até quase nove horas da noite comendo e conversando. Stephen pediu mais três cervejas e eu preferi não beber nada e fiquei só com o suco e refrigerante.

– você apareceu na hora certa, sabia? – falei enquanto caminhávamos para fora do restaurante a caminho do hotel dele.

– então foi bom eu ter vindo.

– foi ótimo.

– eu vou embora no sábado. Se você e Gray se acertarem talvez eu possa conhece-lo.

– eu não contaria com isso, mas estou tentando ser esperançoso como você mesmo disse.

– chegamos – falou Stephen parando em frente ao hotel – quer subir e me fazer companhia? Dessa forma você não precisa ficar sozinho hoje a noite.

– não. vou para meu apartamento – falei cruzando os braços. Estava gelado.

– tudo bem então  -falou Stephen me abraçado – tenha uma boa noite.

– você também – falei vendo Stephen entrar no hotel enquanto eu pegavam eu celular para chamar um Uber.

Ao voltar para meu apartamento tomei um banho quente e fui direto para a cama e me joguei debaixo das cobertas. Coloquei uma série qualquer para assistir no Netflix. Era tão ruim dormir sozinho. Já tinha me acostumado a dormir com Gray ao meu lado. Quando ele fazia plantão a noite eu adorava acordar sentindo a mãos quente dele me puxando junto a ele enquanto ele cochichava algo em meu ouvido. Nunca entendia o que ele dizia, mas adorava sentir sua respiração quente em mim. Agora tudo parecia tão diferente. Estava deitado naquela cama enorme, naquele quarto escuro nesse frio congelante.

Quando o relógio marcou quase dez da noite me lembrei da manhã que tive e tudo o que foi dito na Pegasus. Tinha me esquecido de ligar para Rupert e marcar o encontro. Fui até a calça que usei durante o dia e peguei o cartão de Rupert. Voltei a me deitar na cama e disquei o número dele. O telefone chamou algumas vezes até que ele atendeu com sua voz rouca.

– alô – falou Rupert.

– Rupert?

– quem está falando?

– eu gostaria de falar com Rupert.

– você ligou no meu celular. Você precisa se identificar primeiro.

– e se a sua esposa atender o telefone. Ainda acha uma boa ideia eu me identificar?

Rupert desligou o telefone na minha cara.

– que droga – falei ligando outra vez e Rupert atendeu.

– quem está falando?

– você já se esqueceu de mim?

– Talvez sim talvez não.

– não me enrola Rupert. Se você se esqueceu de mim é só dizer.

– deixa eu adivinhar – falou Rupert pausando – você é um rapaz bonito de cabelos pretos e olhos castanhos que está ligando para marcar um encontro?

– sou sim.

– então eu me lembro de você – falou Rupert rindo.

– e então? Quer sair comigo?

– só se você me disser porque demorou tanto pra ligar.

– eu não tinha certeza se devia ligar.

– e seu namorado?

– oi?

– quando te encontrei aquele dia na porta do hotel você disse que estava namorando.

– bom eu acabei descobrindo que ele estavam e traindo e como eu te disse eu não perdoo traição.

– sorte a minha – falou Rupert – o que você acha que sairmos nessa sexta?

– para onde você vai me levar?

– para onde você quiser amor.

– que tal o ‘LA Boheme’?

– o que fica em Hollywood?

– sim.

– pode ser.

– fica combinado então.

– não desliga – falou Rupert – é tão bom falar com você.

– sua esposa não vai se importar?

– ela não está aqui agora. Ela saiu com as amigas.

– e seus filhos?

– minhas duas filhas estão dormindo na casa de amigas e meu filho mais novo está dormindo. Agora eu estou deitando na cama.

– eu também. Está tão frio – falei respirando fundo.

– bem que você podia estar aqui ou talvez eu pudesse estar ai. Dessa forma eu poderia te esquentar.

– não precisa, eu tenho cobertores.

Rupert deu apenas uma risada.

– eu posso te levar para um outro lugar depois do nós jantarmos?

– depende…

– do que?

– se ele lugar for a minha casa você pode levar, mas se estiver pensando me levar em um motel a resposta é não.

– porque? Você não disse que está solteiro?

– sim, mas as coisas não funcionam assim comigo. Já vou te adiantando oque está entrando em uma fria ao sair comigo.

– porque?

– eu sou virgem e só pretendo fazer sexo com alguém que valha a pena.

– foi por isso que seu namorado te traiu?

– sim. Ele não quis esperar.

– eu posso esperar – falou Rupert.

– você não é o primeiro a me dizer isso e também não é o primeiro a me dizer isso e me trair uma semana depois.

– eu prometo que espero.

– com uma condição.

– qual? – perguntou Rupert.

– não é pra você fazer sexo nem com a sua esposa.

– o que? Ela é minha esposa. Se eu não tranzar ela vai desconfiar de algo.

– não me interessa, Se você quer sair comigo você precisa querer algo além de sexo e não adianta mentir porque eu vou saber que está mentindo. Se quer esperar vai ter que ficar sem sexo também.

– tudo bem. Eu topo. Você não vai me fazer desistir.

Agora que o encontro estava marcado e eu joguei as cartas na mesa sobre não querer fazer sexo eu precisava ter certeza de que Rupert não estava trabalhando nas falcatruas com o irmão vigarista. Qual a maneira mais fácil de fazer isso? Vou perguntar sobre familiares. Se ele me disser que tem um irmão e me disser o nome verdadeiro significa que ele não sabe que o irmão é um vigarista até porque eu posso pedir para ver uma foto do irmão. Se ele mentir e disser que não tem um irmão significa que ele não me encontrou por acaso na porta da Pegasus e foi Roger que o mandou até lá para que nós saíssemos em um encontro e se esse for o caso eu não posso levar esse plano a diante.

– eu posso desligar ou nós podemos conversar mais um pouco?

– vamos conversar – falou Rupert – podemos conversar até a hora quem minha esposa chegar.

– ok.

– vamos falar sobre o que?

– sobre você – falei instigando-o – me conte tudo sobre você.

– OK – falou Rupert rindo – eu tenho quarenta e três anos.

– gosto de homens mais velhos – falei provocando-o.

– que bom – falou Rupert – continuando – falou Rupert fazendo uma pausa para pensar – eu gosto muito de vinho e não sou muito fã de cerveja e eu gosto muito de filmes de drama.

– sim… o que mais? você tem vícios?

– sim, eu fumo. Espero que isso não seja um problema.

– sou indiferente quanto a isso.

– ótimo – falou Rupert parecendo aliviado.

– me conte mais… como é sua família? você tem irmãos?

– só um.

– como ele se chama?

– Roger. Ele trabalha como corretor de imóveis. Ele viaja muito – falou Rupert confirmando que ele não sabia sobre o irmão vigarista. Isso era um ponto positivo para mim.

– você disse que é psiquiatra e escritor?

– sim. Porque? Quer marcar uma consulta?

– não.

– vai me dizer que você não tem nenhum problema que te assombra?

– e quem de nós não tem? – falei rindo.

– verdade – falou Rupert rindo – eu me sinto tão diferente.

– como assim?

– estou me sentindo livre. Como se eu pudesse dizer qualquer coisa a você. É tão bom não ter que esconder o fato de gostar de homens e mesmo assim ter uma conversa saudável.

– posso te perguntar uma coisa?

– pode.

– você falou sério quando disse que deixaria sua esposa por mim?

– falei sério – falou Rupert – eu faria isso por você.

– eu duvido. Você está falando comigo porque a esposa não está em casa e tem medo de que ela descubra que está saindo comigo então você não teria coragem de contar.

– talvez agora eu tenha medo, mas pela primeira vez na vida eu sinto que estou tendo sentimentos por outro homem então está sendo diferente. Tudo antes de você foi diferente. Tudo o que eu sentia era tesão e medo, mas agora eu sinto paixão. Eu penso em você. Tenho vontade de estar com você. Não só de uma maneira sexual. Queria estar ai com você te abraçando, te beijando, te esquentando… enfim… queria estar ai com você.

– também queria que estivesse aqui – falei respirando fundo – de toda a conversa essa foi a única linha em que eu realmente disse a verdade. Queria que Gray estivesse lá comigo.

– sabia que eu nunca dormi com outro homem antes? Eu digo isso na forma literal. Nunca passei a noite com outro homem.

– se você for tão romântico como diz que é talvez eu seja o seu primeiro.

– espero que sim – falou Rupert animado.

– eu estou com tanto sono. Acho que vou desligar.

– onde você está? – perguntou Rupert.

– em casa.

– me passa seu endereço. Deixa eu dormir com você.

– não. Já disse que não vou pra cama com você.

– eu sei, eu digo dormir mesmo. Nos podemos só dormir na mesma cama.

– o que você vai dizer á sua esposa?

– não sei. Eu invento alguma coisa.

– você deve ser craque em inventar desculpas pra ela.

– então? O que diz? Eu posso ir ai e nós podemos dormir juntinhos. Podemos namorar um pouco é claro, mas não precisamos fazer sexo. Eu respeito seu desejo de esperar.

– acho que não é uma boa ideia.

– porque?

– sinceramente? Você é um homem bonito e eu não me confio ao seu lado na mesma cama – falei usando a mesma desculpa que Gray usou comigo quando não queria dormir ao meu lado.

– OK – falou Rupert. Senti na voz dele que ele gostou de ser elogiado – mas você sabe onde eu moro. Caso mude de ideia é só vir. Tem uma árvore do outro lado da rua. Quando chegar você me liga e fica me esperando debaixo dela. Vou dizer a minha esposa que um paciente ligou.

– ela vai acreditar nisso?

– claro. As vezes alguns pacientes me ligam no meio da noite. Alguns querendo se matar ou outros só querendo conversar.

– e o que vai fazer?

– eu vou te levar para casa e nós vamos dormir juntinhos.

– quer saber? Acho que vou desligar.

– tudo bem. Vou ficar ansioso pelo nosso encontro.

– eu também.

– boa noite.

– boa – falei desligando o celular.

Respirei fundo e disquei o número de Holly. Ela atendeu logo em seguida.

– Griffin?

– oi Holly. Tudo bem?

– tudo joia.

– desculpa te incomodar uma hora dessas, mas eu queria te avisar que marquei o encontro com Rupert.

– onde será?

– No restaurante LA Boheme em Hollywood. Será nessa sexta.

– OK, vou avisar Kiff.

– ok, boa noite.

– Griffin! – falou Holly me impedindo de desligar.

– o que foi?

– como está Gray? Ele está melhor.

– eu queria saber.

– você não está cm ele?

– não. Ele me deixou em casa e foi pra casa dele. Disse que queria ficar sozinho.

– sinto muito.

– eu também – falei me virando na cama – sabe o que é pior?

– o que?

– quando liguei para Rupert ele disse que queria meu endereço. Disse que nós poderíamos passar a noite juntos trocando beijos e carinhos e eu quase disse sim. Não pelos beijos e nem pelos carinhos mas se eu tivesse dito sim para Rupert, Gray teria um motivo pra me deixar.

– você me deixou orgulhosa – falou Holly séria.

– o que? Orgulhosa?

– sim. O Griffin que eu conhecia teria dito sim. O Griffin de um mês atrás tomava decisões idiotas esperando resultados imbecis, mas você não fez isso essa noite. Vai por mim. A última coisa que Gray quer é deixar você.

– talvez ele não queira, mas ele precisa colocar os filhos em primeiro lugar e nesse momento eu estou atrapalhando a vida deles. Quando nós começamos a namorar acho que nenhum de nós dois pensou em como isso afetaria os filhos dele. Nenhum de nós imaginou o impacto que isso teria na vida deles. É fácil para os adultos entenderem. Por mais que eles sejam ignorantes eles entendem e sabem o que está acontecendo, mas com as crianças é diferente. É uma mudança muito radical. Talvez Gray não tenha coragem de me deixar, mas talvez eu deva tomar essa decisão por ele.

– só pense bem antes de tomar qualquer decisão. Converse com ele antes de tentar adivinhar como ele se sente. Conversa com ele antes de adivinhar o que ele quer. É para isso que serve a comunicação.

– prometo que não vou tomar nenhuma decisão precipitada.

– é bom ouvir isso.

– vou deixar você em paz.

– se quiser conversar um pouco mais eu posso conversar. Até você se acalmar.

– não, tudo bem. Tudo o que eu preciso agora é dormir.

– tudo bem então. Boa noite.

– boa noite – falei desligando o celular.

Fiquei por alguns minutos encarando o teto e pensei no que Holly falou. Ela ficou orgulhosa por não ter tomado uma decisão idiota, mas foi uma decisão idiota que fez eu me apaixonar por Gray. Eu não queria namorar com ele, mas eu disse sim mesmo meus instintos dizendo não. O relógio na cômoda marcava quase dez e meia. Percebi que o sono não viria porque estava em um dilema. Precisava acabar com isso essa noite. Precisava tomar essa decisão por ele. Peguei meu celular e chamei por um Uber. Vesti uma roupa confortável. Uma bermuda e uma camiseta azul escuro. Calcei rapidamente meu tênis branco com detalhes azuis. Logo o interfone tocou. Gary me avisou que o Uber me esperava na entrada. Precisava ir até ele. Ainda bem que eu sabia onde ele morava.

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