“Teus Olhos Meus”, um longa que merece ser descoberto!
Eu nunca fui o maior fã de filmes nacionais, confesso. Eu comentei anteriormente o quanto é difícil encontrar um drama de qualidade, com um roteiro bem estruturado e interessante. Por outro lado, sinto que isso ficou para trás quando conheço fantásticos dramas brasileiros, como ‘Flores Raras’, ‘Entre Nós’ e ‘Como Esquecer’
Assistir ‘Teus Olhos Meus’, dirigido por Caio Sóh, me pegou de surpresa e marcou ainda mais isso. Lançado em 2011, o longa conta a história de Gil (Emílio Dantas), um jovem músico de 20 anos em guerra com os tios, com quem vive desde que a mãe faleceu. Em meio a um turbilhão de problemas emocionais e financeiros, vê a sua vida mudar ao conhecer o produtor musical Otávio (Remo Rocha).
“É muito ruim ter a sensação de que não existe nenhuma direção para seguir. Andar reto, pra lá, pra cá, tanto faz. Tudo parece uma eterna contra-mão, tipo rua sem saída, sabe?”
A partir do encontro de Gil e Otávio surge uma das histórias de amor mais bonitas que já vi no cinema nacional. Otávio traz ao mundo de Gil algo completamente novo: amor, estabilidade emocional e segurança. Ambos possuem um passado heterossexual e lidam com isso cada um à sua maneira e é incrível ver como a relação dos dois cresce junto ao amadurecimento de Gil.
‘Teus Olhos Meus’ é lindo, emocionante, devastador e sincero. Possui um daqueles finais arrebatadores que o fará pensar a respeito por dias. Um daqueles longas que merecem ser descobertos!
Texto escrito por: Felippe Brana
Eu consigo me ver nos ‘Teus Olhos Meus’
O texto abaixo está cru, sem revisão, sem preparo… Mas quente, borbulhando,
pronto para ser devorado como em um ato antropofágico.
A melhor receita é aquela que simplesmente não tem o caminho pré
determinado. E o melhor chef é aquele que faz por instinto, por cada um dos
sentidos, sem o caderninho do lado. Fazemos, comemos e queremos mais.
Assistir o filme de Caio Sóh foi assim, um ritual. Um banquete dos deuses. Um
manjar de poesia e amor, que todo mortal deveria comer, uma vez que fosse.
“Consigo me ver nos teus olhos. Uma das frases mais marcantes do filme de Caio Sóh. Assisti há alguns meses e ele ainda não saiu de mim… Não sei exatamente o que senti. Deu taquicardia, angústia, um choro encarcerado no peito e uma vontade devastadora de algo que não sei bem o que é, e sequer sei se de fato existe. A narrativa se desenrola com a destreza de um cirurgião. Milimetricamente preciso, essencialmente poético. A história de pai e filho se inicia no passado e só é sentida anos depois em um dos muitos acasos que a vida tece na sua teia mãe. Falar dessa relação quando toda a simbologia de amor está centrada na figura materna já é um dos muitos méritos do roteiro, e esse mérito ganha mais peso quando esse amor de pai para filho, passa a ser de homem para homem. Otávio (Remo Rocha em uma atuação precisamente detalhista) descobre o filho depois de já amá-lo e Gil (Emílio Dantas totalmente entregue às nuances da personagem) descobre o amor depois de se permitir amar. Um encontro casual na praia, cada um com seus conflitos existenciais, uma noite que virou dia, e fez pai e filho se enxergarem pelo mesmo prisma. Otávio se liberta de uma relação anterior e Gil se liberta de nós que sufocavam sua alma. Da liberdade o laço se finda. Depois do inicio “catártico” na areia da praia, eles constroem uma relação sólida de companheirismo, cumplicidade e amor. O fim se encaminhava, Otávio e Gil reafirmam o amor que um sentia pelo outro e vários desfechos passavam na minha mente. Nenhum deles tão surpreendente, tão profundo como o que seria revelado em seguida. O namorado na verdade era o filho, o porto seguro na verdade era o pai, a tia era a cunhada e o que era bonito ficou ainda mais belo e sublime depois de um fim épico. E assim terminei minha noite de sábado. Atônito, perplexo, enjoado, como a catarse de tia Leila (Paloma Duarte tão devastadora quanta a personagem) ao ver em seus olhos pai e filho. Por destino ou mera coincidência para os mais céticos, neste dia eu iria para um bar, mas fiquei em casa e acabei embriagado em um rio. Mais fundo, mais indecifrável e que até hoje me encontro submerso.”
Texto escrito por:
Felipe Ferreira
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