O “discreto” deve agradecer ao “afeminado”
Esse texto é para você gay que se considera viril, que se percebe macho, que crê ter uma perfomance de gênero hiperbolicamente masculina e que, em face disso, acredita ser melhor do que aquele homossexual “afeminado”.
O seu discurso “apenas não curto femininos”, “bichas não têm chance” e “apenas discretos”, que você defende como sendo “apenas um gosto”, na verdade, é reflexo de todo um contexto social machista, misógino e homofóbico.
O fato desse “gosto” ser representativo de uma maioria apenas dá a ver o seu caráter coletivo, abrangente e, vale reforçar, perverso. Para você que menospreza a “bicha” (sim, porque, afinal, em sua visão de mundo você não é bicha, você está em outra categoria), eu tenho dois lembretes.
Em primeiro lugar, acho digno dizer que para a patrulha homofóbica, mesmo com sua roupa “neutra”, sua postura “reservada” e seu corte de cabelo “discreto”, você é tão puto quanto qualquer outro que use roupas “espalhafatosas”, que coloque a cara no sol ou que pinte o cabelo com as cores do arco-íris.
Em segundo lugar, e também creio ser importante ressaltar, é graças a esse sujeito gay, que você tanto despreza, que você tem uma série de direitos garantidos e que ainda terá muitos outros. É o “afeminado” que apanha, que escuta impropérios e que morre na luta para que você possa viver do seu modo “discreto”. Portanto, no mínimo, seja grato a ele.
Artigo de opinião de Felipe Viero Kolinski Machado, mestre em Ciências da Comunicação e doutorando em Ciências da Comunicação pela Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil). Até recentemente viveu em Lisboa, enquanto integrava o Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA)