Contos

Irresistível Força – Capítulo 3

Eu ainda custava a acreditar. Que espécie de peça o destino estava me pregando? Eu fui chantageado por um dos donos da minha melhor cliente, briguei com ele; agora estava na cama com o outro. Era demais pra minha cabeça. Cabeça essa que estava mega confusa por pensar naquele idiota. Eu estava me sentindo mais idiota que ele, confesso. Não posso me apaixonar. Renan, meu amor, você é imune ao amor! Eu nunca vou amar ninguém.

Eu – Olha, tenho que ir… Minha vó deve estar preocupada…

Miguel – Fiz alguma coisa? Você tem hora pra voltar pra casa?

Eu – Óbvio que não! Mas minha vó fica preocupada – nem eu acreditei nessa desculpa.

Miguel – Toma um banho, toma café comigo. Eu te dou uma carona. Quer dizer, vamos até o estacionamento pegar meu carro e eu te levo.

Eu – Eu chamo um táxi. Fica com esse cartão. Me liga… Ah, e por favor, não comenta isso com ninguém. Muito menos com o Afonso, seu futuro sócio.

Miguel – Você é meu.

Eu – Sou do mundo, sou propriedade pública. Sorry, não sou nenhum anjinho. Eu costumo fazer corações de tapete.

Miguel – Já me ganhou. Adoro ser capacho. Mas você percebeu que na cama eu domino.

Eu – Menos, menos… Já tive noites melhores. Comigo é pegue e não se apegue, baby. Sou extremamente mau.

Miguel – Gostoso.

Eu – Voc… Sou mesmo.

Eu vesti minha roupa e saí depressa daquela casa. Os empregados me olharam meio estranhamente. Acho que esperavam uma gostosona sair do quarto do patrão. Eu tenho aversão a sentimentos. Banalizaram de mais o amor. E, sinceramente, fodam-se os caras que me amam.

Acenei pra um táxi que logo parou e me deixou na porta de casa. Ao chegar em casa, vejo uma mensagem do Miguel no celular. Ele me enviou pra ver se eu responderia. Eu respondi bem rapidamente. Algo estava acontecendo dentro de mim. Não queria admitir, mas estava gostando de ser cortejado por aquele homem maravilhoso.

Minha vó estava no sofá com um de seus livros. Ela amava ler. Ela falou comigo com os olhos ainda nos livros: – A Stela e o Rodrigo ligaram. Queriam ter notícias suas. Você nunca falta um dia de trabalho.

Eu – Precisava me dar esse tempo livre.

Minha vó fechou o livro e olhou pra mim: – Quem é a bola da vez? Conheço?

Eu – Não conhece. Nem se anime pois foi só um lance.

Vó – Que machucado é esse em sua boca? Nunca foi de brigar.

Eu – Não foi uma briga… Foi… Mais ou menos… Uma… Uma… Discussão! Isso! Uma discussão.

Vó – Com quem? Por quê?

Eu – Com Afonso Guarupe. Ele me ofendeu.

Minha vó fez uma cara de espanto. Ela ficou preocupada. Conhecia bem as expressões da dona Virginia.

Vó – Que tipo de ofensa?

Eu – Ele me chamou de “bichinha”. Ele teve a ousadia de me cobrar propina para que continuemos fornecendo os produtos para o B. Health.

Vó – Sujeitinho baixo, sem escrúpulos… Vou mostrar pra ele como a Kátia Cascata lida com gente do tipo sujo dele.

Minha avó é uma ex-dançarina, ex-stripper. Ela conheceu meu avô numa casa de shows na década de 60. Era uma espécie de cabaré. Ela nunca se envergonhou de ter dançado. Meu avô se apaixonou pela famosa Kátia Cascata. Ela era chamada assim porque se apresentava numa cascata de champanhe; além disso, chovia muito dinheiro em cima dela. Ela era séria, apesar da sua “profissão”. Minha avó nunca fez programa. Tinha orgulho do meu avô. Ele não se envergonhou de casar com minha avó, não se envergonhou de mim. Eu o amava. Ele era meu herói.

Meu pai morreu quando ainda era muito jovem. Tinha 4 anos. Meu pai assumiu os negócios da família ainda jovem, mas sua morte precoce fez meu avô votlar ao trabalho. Ele me preparou pra ser o seu herdeiro. Meus pais morreram em em acidente automobilístico. Numa noite chuvosa ele perdeu o controle do carro e acabaram caindo num penhasco. Um acontecimento que nunca vai sair da minha mémoria.

Minha vó estava indignada…

Vó – Eu não esqueci como fazer um bom barraco. Eu não faço um barraco só, construo uma favela! Ele me paga!

Eu – Eu e o Rodrigo estamos cuidando de tudo. Vou falar com a doutora Lúcia. Por acaso, eu acabei de dormir com mais um sócio do B. Health. Um deus grego! Tô com as pernas bambas até agora.

Vó – Quero saber dessa história. Está apaixonado, Renan?

Eu – Deus me livre! Por que as pessoas sempre rotulam as coisas, os sentimentos? Pelo amor… Tenho repulsa a esses sentimentos idiotas. Evito muitas decepções. Lembra do Arthur? Então, ele foi a minha cota. Eu só não piso nos corações de salto quinze porque fico horroroso de crossdresser. Vó, preciso tomar um banho. Ah, e nem me fale em uma “irresistível força”. Vomitar de barriga vazia é horrível.

Vó – Você ainda vai se dar mal. Quanto ao Afonso, quero sabe notícias desse crápula logo.

Beijo a testa da minha amada avó e vou subindo as escadas rapidamente.

Tomo um banho bem demorado, visto um traje elegante, mas informal e vou pra empresa. Precisava resolver algumas pendências do dia anterior.

Stela – Doutor Renan, ainda não consegui contato com a doutora Lúcia.

Eu – Tente mais uma vez, Stela. Eu só tenho mais seis dias.

Stela – Seis dias? Como assim?

Eu – Assunto meu. Mas depois eu te conto com mais calma. Não quero lhe preocupar.

Stela – Como quiser. Aviso ao doutor Rodrigo que o senhor está aqui?

Eu – Descanse um pouco. Tire uma hora de descanso. Eu aviso.

Stela – Obrigado. Com licença…

Stela sai, e eu mando uma mensagem para o Rodrigo.

Rodrigo chega na minha sala, quase que instantaneamente,com um monte de papéis.

Rodrigo – Achei que não viria hoje. Eu sabia que o cara tinha podres.

Eu – Quais por exemplo?

Rodrigo – Foi considerado suspeito de ter matado o pai na Espanha; dois processos por ameaça aqui no Brasil. Sem contar a enorme fortuna que ganhou só com propina. O cara é um canalha de marca maior. Ele tem empresas no ramo da construção civil, hotelaria, segurança e agora no ramo da saúde. Dá pra você ou quer mais?

Eu – Como você descobriu isso?

Rodrigo – Digamos que tenho o pé na polícia…

Eu – Ou que está pegando alguma policial, e pelo tanto de informações, ela trabalha na parte administrativa.

Rodrigo – Mais ou menos isso… Então, onde passou à noite? Ou melhor, com quem? Conheço?

Eu – Conhecerá em breve… É melhor sentar…

Rodrigo se senta e olha sério pra mim.

Rodrigo – E?

Eu – Conheci uma cara na balada, um verdadeiro deus grego. Nossa noite foi incrível… – Rodrigo me interrompe: – Me poupa dos detalhes. Sou teu amigo. Fico sem graça…

Eu – Idiota. Como eu estava dizendo: ele era lindo. Hoje pela manhã qual não foi minha surpresa? O cara é médico…

Rodrigo – E daí?

Eu – Me deixa terminar… Além de médico ele é um dos novos sócios do B. Health.

Rodrigo – O quê? Tá brincando!

E agora? O que Rodrigo vai achar dessa história toda? Será que a doutora Lúcia e o Miguel vão salvar a Garini Novaes Med e o B. Health das mãos do Afonso?

Continua…

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo