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Conto de Garoto – Capítulo 6 – Namorando

Contos de Garotos

Capítulo

VI

Namorando

Os cabelos de Hanz estavam sendo acariciados pela mão de Kim que estava com os olhos bem abertos, olhando para o garoto ao seu lado. O mais velho apoiou-se no seu cotovelo e ficou observando Hanz, que estava com os olhos fechados e com uma respiração acelerada.

– Hanz – o chamou.

– Hum?

– Vamos jantar fora hoje? – indagou.

– “Eu definitivamente não conheço esse homem” – pensou – Aonde? – indagou.

– Num restaurante italiano que fica na cidade. Eu gosto de comer lá e queria te levar – disse.

– Eu estou sem dinheiro – disse.

Hanz tinha muito dinheiro que foi herança de sua falecida mãe, mas como era menor de idade, ele não podia mexer em uma notinha sequer. Os seus tios eram seus responsáveis legais e não lhe davam muita coisa.

– Eu estou te convidando – disse – não se preocupe com isso.

– Meu companheiro de quarto é cheio da grana e dos truques – disse baixinho, rindo em seguida.

– Eu não sou mais seu companheiro de quarto – Kim comentou.

– Tem razão. E qual o nome do garoto que vai ficar com você? – indagou.

– Nenhum. Deixaram-me sozinho novamente – disse – mas eu entendo o motivo.

– Entende? – indagou.

– Sim. O campeonato de karate está chegando e querem me deixar sozinho para me concentrar e treinar – disse, com uma expressão animada no rosto.

– Eu queria vê-lo lutando – comentou.

– Mesmo? Então, é só um idiota tocar em você que eu bato nele. Então você poderá ver minha habilidade – disse, com um sorriso divertido no rosto.

– Sem graça! – exclamou, sentando-se lentamente na cama, olhando para Kim de cima – “Isso só pode ser um sonho. Kim delicado, me convidando para jantar fora, dizendo que baterá em qualquer garoto que tocar em mim. Isso é um sonho”.

Um som baixo e estridente invadiu o quarto. Hanz levantou-se num pulo e correu até seu armário, pegando seu celular, olhando para o número que chamava sem reconhecer. Ele caminhou até sua cama e atendeu.

– Alô?

– Hanz?

– Sim. Quem é?

– É o Vincent falando.

– Vin… Vincent?

– Faz tempo que não nos falamos. Eu soube que está num colégio interno. Eu queria ver você.

– Me… me ver?

– Sim, não fique tão surpreso, Hanz. Eu estou com saudade. Eu estou de volta no país. Eu quero visitá-lo.

– Es… está de vol… volta? Visitar?

– Sim. Passe-me o endereço daí!

– Er… eu… mas… como você conseguiu meu… meu número?

– Com seus tios. Olha! Eu tenho que desligar agora, eu vou pegar o endereço com seus tios então. Depois eu te ligo… um beijo meu querido Hanz.

A ligação foi encerrada, Hanz estava tão branco como a parede. Kim havia sentado na cama e observado a voz trêmula e a expressão surpresa que seu namorado estava.

– Quem era? – Kim indagou, com curiosidade.

– Ah… bom… um amigo – disse.

– Hum, esse amigo soa mais como namorado – comentou, vendo que Hanz arregalou seus olhos, confirmando o que Kim havia dito.

Hanz abaixou sua cabeça e passou suas mãos por seus olhos, massageando-o por alguns segundos. Ele não sabia como reagir àquela situação. Vincent havia se mudado para França e por este motivo perderam o contato, terminando um namoro de dois anos.

– Diga-me quem é – Kim pediu, pegando um cigarro do seu maço. Ele começou a procurar o seu isqueiro no bolso de sua calça que estava em cima da cadeira, mas não estava encontrando, começando a ficar impaciente.

Hanz levantou-se e caminhou até sua cueca, colocando-a e depois indo até sua calça jeans escura, vestindo. Ele aproximou-se de Kim e puxou-o pelo braço, pedindo para ele se afastar da mesa, Hanz passou a mão por baixo de alguns livros e em poucos segundos apareceu com o isqueiro de Kim, que mais parecia ser seu bichinho de estimação.

O isqueiro tratou de queimar a ponta daquele cigarro. Kim deu uma longa tragada e depois caminhou até sua roupa, pegando sua cueca no chão, vestindo-as, depois pegou seu jeans rasgado e o vestiu.

– Você ainda não me disse quem é – Kim comentou, encostando-se na parede, ficando próximo à janela.

– Meu ex-namorado – disse, sentando-se na sua cama.

– E você ainda gosta dele? – indagou.

Hanz ficou em silêncio, ele não sabia o que falar. Ele não sabia o que sentia a respeito do seu antigo namorado. A situação havia sido tão inesperada que nem conseguiu parar para pensar. Vincent mudou-se para a França há um ano e meio, e nessa época sua mãe acabou falecendo. Ele mudou-se para a casa de seus tios e agora estava naquele colégio com Kim.

– Hanz? – o chamou – por acaso quer voltar com ele?

– Voltar?

– Sim. Voltar – disse, com uma voz extremamente fria.

– Por que quer saber?

– Porque você aceitou namorar comigo, seu estúpido. Você esqueceu? – gritou, assustando Hanz por um minuto. Kim estava voltando ao seu humor habitual, ou melhor, ele estava mais irritado que o normal.

– Claro que eu não esqueci – respondeu – é estranho eu falar disso com você. Eu não quero voltar, não pensei nisso. Mas ele havia se mudado para outro país e de repente me ligou no celular falando que quer me ver. Você não ficaria surpreso?

– Realmente é estranho – comentou, acalmando-se com a resposta de Hanz – e Hanz, eu não quero que você vá vê-lo.

– Não? Como assim?

– Não quero, oras. Você aceitou namorar comigo, temos que fazer alguns sacrifícios – disse – eu não quero, apenas isso. Não aceito traição.

– E por quê acha que eu vou te trair? – indagou, ficando um pouco indignado com o rumo daquela conversa.

– Eu não sei. Você nunca se mostrou saidinho para mim, mas eu não sei o que sente a respeito desse seu ex-namorado. Se quiser ficar com ele, tudo bem, mas me avise antes – disse baixinho, exibindo um olhar assassino para Hanz.

– Não seja idiota. O que acabou, acabou – disse, abaixando sua cabeça, lembrando-se do dia que Vincent disse que ia se mudar para a França, seu país de origem e deixá-lo.

O celular de Hanz começar a tocar novamente, o calouro ficou sem saber o que fazer. Ele não queria sofrer novamente, ele havia esquecido Vincent nesse meio tempo e não queria reatar sua amizade. E antes que Hanz tomasse alguma atitude, Kim moveu-se e pegou o aparelho, atendendo-o.

– Alô.

– Alô. Por favor o Hanz.

– O que gostaria de falar? Quer deixar recado?

– Queria falar com ele. Quem está falando?

– Namorado dele…

– Hum, ah… bom… er… então… deixa.

– Não volte a ligar.

– Ah… não é isso que está pensando… bom, eu … er…

– Não volte a ligar.

A ligação foi encerrada. Hanz havia batido sua mão contra sua testa, quando ouviu Kim pedindo para Vincent não ligar mais. Kim jogou o celular em cima da cama e ficou olhando para Hanz.

– Está bravo comigo? – Kim indagou.

– “Eu tomei a atitude certa… obrigado Kim, eu não saberia sair desse desconforto sem sua atitude radical” – pensou.

Hanz levantou-se e abraçou o corpo do maior pela frente, beijando os seus ombros e a linha do seu pescoço. Kim não entendeu aquela atitude, mas não queria entendê-la, pois estava adorando.

– Não, não estou bravo. E se quiser, vamos jantar fora – disse baixinho.

Duas batidas na porta interrompem o casal. Kim afastou-se dos braços de Hanz e abriu a porta lentamente, vendo que era Julian, Kirios e Alexis que estavam ali.

– Vai ter uma reunião com o pessoal do primeiro ano. Vamos? – Julian chamou.

A porta foi aberta totalmente, permitindo que aqueles três rapazes adentrassem. Kim fechou a porta e olhou para seus colegas se acomodarem nas camas.

– Que reunião? – Hanz indagou.

– Quer participar, Hanz? – Julian indagou, com um sorriso enigmático.

– Depende. O que é isso?

– Não, ele não quer – Kim respondeu, olhando com certa irritabilidade para Julian.

– Ah, Kim. Vai que o rapaz quer conhecer novas experiências – Kirios comentou, rindo baixinho.

Hanz ficou curioso para saber como era aquela reunião, mas no íntimo tinha alguma desconfiança.

– Sempre nos fraternizamos com os alunos de cada ano, Hanz. Essa semana que vem agora vai ser o primeiro ano, na segunda será o segundo ano, e depois o terceiro ano. E depois entre os rapazes do quarto – Julian explicou.

– Hum… e quer que eu participe? – indagou.

– Sim, ia ser ótimo – Kirios disse, interrompendo Julian que ia dizer a mesma coisa.

– Um aviso para vocês. Estamos namorando – Kim disse.

Os três garotos arregalaram seus olhos e abriram suas bocas, encarando Kim de um jeito abobado. Eles nunca pensaram que iam ouvir tais palavras da boca de Kim. Alguns minutos se passaram e nenhum deles conseguir pensar em outra coisa a não ser naquela nova informação.

– “Eles já estavam pensando que eu estava sozinho. Eu ia me ferrar nessa querida reunião de fraternização” – Hanz pensou – “Ah, eu fiz a escolha certa. Apenas tenho um namoro de faz de conta com Kim e eu fico livre desses urubus”.

Julian levantou-se e caminhou até Kim, fechando sua mão em seu braço e o puxando para fora do quarto, batendo a porta em seguida. Kirios e Alexis ficaram no quarto, olhando para Hanz sem dizer nada, eles ainda processavam a informação.

Dava para ouvir uma leve discussão do lado de fora do quarto. Kirios levantou-se e saiu do quarto, batendo a porta.

– Julian está puto – Alexis disse baixinho.

– Ah… mas por quê?

– Ele havia feito um acordo com Kim. Quando Kim o deixasse, você ficaria com ele – revelou.

– Quando foi isso? – indagou, incomodado com aquela revelação.

– Logo no começo, quando você entrou – disse – mas já que vocês estão namorando… E o Julian sempre esteve babando em você, Hanz, como você é desligado. Muitos garotos do quarto vinham falar com você para agradar Julian.

– Pensei que era por causa de Kim – disse.

– Também, mas Julian tem um relacionamento melhor com eles. Kim é o temido e meu irmão é o psicopata do grupo – disse, rindo baixinho.

– E o que ele está querendo fazer? – Hanz indagou com raiva, não esperando uma resposta de Alexis, levantando-se, indo até a porta, abrindo-a e deparando-se com a seguinte cena.

A mão de Julian estava fechada no pescoço de Kim que estava com os braços cruzados e com seu cigarro na boca, olhando para Julian com desprezo, mostrando não sentir aparentemente nada com aquela mão tentando lhe sufocar. Do outro lado estava Kirios, puxando o braço de Julian para trás, tentando apartar a briga.

Alexis apareceu atrás de Hanz e cruzou os braços, vendo aquela cena em silêncio, olhando para o seu irmão que estava tentando puxar Julian para trás com sucesso, pois Julian começou a se afastar.

– Esse é meu irmão – disse com orgulho – não existe ninguém que o pare.

Hanz ouviu o comentário, mas ignorou, olhando para a expressão de Kim, pensando em como ele conseguia ser tão frio e inexpressivo quando queria. Kim olhou para Hanz e começou a caminhar na sua direção, puxando-o pelo braço, adentrando no quarto e fechando a porta.

Kim caminhou até a janela, onde havia seu cinzeiro, apagando seu cigarro no local. Ele respirou fundo e ficou olhando para o dia através da janela. Hanz caminhou até sua cama, sentando-se nela, olhando para o dorso do mais velho.

– Você estava me negociando, então? – Hanz indagou.

De repente Kim notou que aquela situação não estava ficando feia apenas para o lado de Julian, mas sim para o seu lado também. Ele olhou para Hanz com certo desespero no olhar, não querendo destruir o laço que estava construindo com o menor.

– Não, não. Isso foi na primeira semana – disse.

– Kim, eu estou aqui há um mês – disse – são quatro semanas. Você me negociou logo agora.

– Foi antes – disse.

– E você diz estar apaixonado desde quando, então? Desde ontem? Está brincando comigo? – indagava sem parar, sentindo seu sangue ferver.

– Não, não e não. Pare de ficar fazendo drama, eu não disse que me apaixonei a primeira vista – disse, aproximando-se de Hanz que se levantou da cama, ficando em pé, de frente para Kim.

– Ora, não brinque comigo, Kim – praguejou.

– Eu nunca brinco. Eu estou gostando de você. Eu não sei quando comecei a sentir isso, mas eu gosto. E esse acordo praticamente sempre existiu, sempre fazemos isso com nossos parceiros. Mas com você é diferente, pare de ficar envenenando sua mente com esse lixo de mentiras que você está inventando. Se você quer brigar comigo, que seja por outro motivo, eu não vou aceitar esse – desabafou, passando sua mão pela cabeça de Hanz logo em seguida, puxando-o na sua direção, fechando seus lábios nos lábios finos e estreitos de Hanz, beijando-os.

– “Eu não posso cobrar sinceridade de Kim se eu mesmo não estou sendo sincero com ele…” – pensou – “eu apenas vou aceitar esse carinho… ele deve estar confuso. Ele não pode estar apaixonado… ele vai ver isso com o tempo”.

– Não pense mal de mim, Hanz – pediu – por favor.

– “Essa voz melosa de novo… ele… ele está me assustando”.

– Fale alguma coisa – pediu, abraçando o corpo menor.

– “Eu não consigo falar nada… você está sendo tão doce e eu tão cretino. Eu queria que não sentisse nada por mim”.

– Hanz… desculpe se ficou irritado com isso. Mas no começo eu nem sabia quem era você – disse – fiz aquele acordo com Julian, pois como eu disse antes, a gente sempre dividiu os nossos parceiros.

– “E ele está se explicando… e se explicando, tão desesperadamente. Eu quase posso sentir seu coração chorar por causa do meu silêncio. Mas na verdade, eu não consigo falar nada contra essas palavras tão carregadas de paixão”.

– Pode descontar sua raiva em mim se quiser, eu não farei nada – disse, afundando sua cabeça na curva do pescoço de Hanz, beijando a região.

– “Descontar o que? Você está sendo tão amoroso… por quê eu reclamaria?”.

– Hanz… não fique bravo… eu… eu acho que te… te amo – revelou, num sussurro extremamente baixo. Os braços de Kim fecharam-se com mais força no corpo menor.

– “Ele disse… que… me ama? Ama… me ama? Amor? Me ama!?” – pensava, não conseguindo organizar seus pensamentos.

– Fala alguma coisa – pediu – fala!

– “Falar… falar… eu não sei o que falar…” – pensava – Kim… eu… não estou bravo – disse baixinho, essa foi à única coisa que poderia falar – perdão – pediu em seguida.

– Perdão pelo o quê? – indagou – você não tem que se desculpar, eu deveria ter aberto o jogo com você. Agora que estamos falando tão claramente, eu vou te contar que fiz o acordo sim, com Julian, com Kirios, mas isso foi no passado.

– Já entendi, Kim. Eu não sou idiota, isso não é uma novela e eu não vou sair correndo achando que você mentiu para mim. Eu entendi – disse baixinho, desejando que o coração de Kim parasse de bater tão rápido – eu pedi perdão por ficar em silêncio enquanto você pedia que eu falasse.

– Você… Entende-me tão bem. Obrigado – disse, afastando-se de Hanz por um momento para poder olhá-lo, exibindo um sorriso sincero e carregado de ternura.

– “Mesmo que eu não precisasse mais da proteção de Kim… eu não conseguiria dizer a ele palavras frias, pois esse sorriso é tão sincero e caloroso, que me deixa desarmado” – pensou, permitindo se envolver naquele momento tão caloroso.

Os dois deitaram-se na cama e ficaram abraçados sem dizer nada, apenas sentindo o calor e a respiração do outro, deixando o tempo passar sem nenhuma preocupação. No entanto, eles sabiam que tinham que arrumar suas coisas e mudarem para seus novos quartos.

Eles se separaram e começaram a arrumar suas coisas. Hanz era o mais organizado e terminou de arrumar suas coisas primeiro.

– Eu vou indo lá – Hanz disse.

– Nos vemos depois – Kim disse, caminhando até Hanz, passando sua mão atrás da nuca de Hanz e o puxando para beijá-lo nos lábios. Depois de beijar seus lábios, deu um beijo na sua bochecha e se afastou, voltando a mexer na mala.

Hanz pegou suas duas malas de rodinhas e saiu do quarto, dando uma última olhada para Kim que estava concentrado em procurar seu inseparável isqueiro.

Com passos lentos e com cuidado para não bater na mala dos outros garotos no corredor, Hanz conseguiu ir até o início da escadaria. Ele colocou as mãos na cintura e ficou olhando para cima, pensando que era um grande problema não ter elevadores naquele colégio.

Hanz encostou sua mala num canto e voltou para seu quarto, adentrando, encontrando Kim de quatro no chão, procurando alguma coisa embaixo da cama.

– Kim?

– Hum? – ergueu-se, olhando para Hanz.

– Me ajuda?

– Com o que?

– Carregar minhas malas para o segundo andar – disse.

Kim sorriu adorando aquele pedido, ele passou a mão por seus cabelos e caminhou até a Hanz, saindo do quarto indo até a escadaria onde estavam as malas de Hanz. Kim pegou a mais pesada e Hanz a outra e eles começaram a subir.

– Hum… que bom ter alguém forte! – Hanz comentou, rindo baixinho.

– Se aproveitando da minha nobreza! – disse, rindo também.

Quando chegaram no corredor do segundo andar, Kim começou a carregar a mala até o quarto vinte, o futuro quarto de Hanz. Ele abriu a porta do quarto que estava vazio, ele adentrou e colocou a mala de Hanz perto do armário que estava vazio.

– Parece que ele já escolheu sua cama – Hanz comentou, vendo que havia alguns objetos pessoais na cama do canto direito.

– Se quiser você troca com ele – Kim disse, olhando para Hanz, que observava o quarto com atenção.

Hanz caminhou até o banheiro, abrindo a porta e vendo que a suíte era igual a do seu antigo quarto, apenas as paredes eram pintadas de verde claro.

– Algum problema, Hanz? – Kim indagou do quarto.

– Nenhum – disse, saindo do banheiro – obrigado.

– Ah… de nada, eu vou indo. Qualquer coisa me ligue – disse, saindo do quarto, fechando a porta.

Com um longo suspiro, Hanz começou a arrumar suas coisas no armário, e quando terminou; Ele sentou-se na sua cama e ficou lendo um romance que havia pegado na biblioteca por indicação do professor Melchor. A porta do quarto abriu lentamente, revelando um garoto, que com certeza deveria ser o aluno novo.

– Olá! – ele cumprimentou Hanz, com um sorriso no rosto – meu nome é Maio.

– Maio? – indagou, rindo baixinho em seguida, achando aquele nome engraçado.

– Sim – disse, rindo junto – e qual seu nome? Você está faz tempo no colégio? Você ficará nesse quarto, não é?

O livro de Hanz foi fechado, ele olhou para o garoto que se sentou na sua cama, ficando-o a olhá-lo com curiosidade com seu par de olhos violetas e brilhantes. Ele tinha cabelos negros e curtos, arrepiados para cima.

– Meu nome é Hanz, eu estou apenas um mês nessa escola, sou tão novato quanto você. E sim, eu serei seu colega de quarto – respondeu.

– Novo? Que bom! Assim eu não me sinto tão estranho – disse – todos vieram correndo falar comigo, foi tão estranho.

– Ah… pois é, os garotos daqui são bem… como posso dizer… er… sociáveis! – disse, olhando com certa pena para o garoto à frente.

– Você poderia me falar mais sobre o colégio? – indagou.

– Sim, eu poderia.

– Mas antes eu vou ao banheiro, espera aí! – disse, indo até seu armário, pegando uma muda de roupa e adentrando no banheiro, ficando lá por alguns minutos, quando saiu, Maio estava trocado, ele usava uma bermuda jeans e uma camiseta preta, ele estava descalço e pulou na sua cama, voltando a olhar para Hanz.

– “Como é que eu vou contar como é esse colégio? Céus… eu vou assustar esse garoto” – pensou, olhando para os olhos sedentos de informação de Maio.

– Diga, diga, diga! – pediu, balançando seu corpo infantilmente para frente e para trás.

– Bom… esse colégio é terrível, se você não gostar do que eu vou falar, você deveria pedir transferência – disse.

– Ah, eu vou bem nos estudos, isso não vai ser problema – disse, não fazendo idéia ao que Hanz estava se referindo.

– Não, os garotos são agressivos e…

– Eu faço judô! Qualquer coisa… jogo no chão! – disse, interrompendo Hanz.

– Bom, isso não vai ajudar muito se…

– Eu sou forte apesar da aparência! – disse, levantando seu braço e exibindo seu pequeno bíceps com muito orgulho.

– Deixa-me falar! – Hanz pediu, com certa impaciência. Maio parecia uma criança e o estava deixando irritado.

– Sim, Hanz! Desculpe-me – pediu, voltando a balançar seu corpo para frente e para trás, como uma criança.

– Esse colégio não tem regras quanto ao tratamento de um aluno com o outro. Então se um garoto quiser te bater, ele vai te bater e nada vai acontecer a ele, bom tem algumas punições em casos mais sérios, mas nada muito relevante – disse pausadamente, olhando para Maio com atenção, procurando saber que entrou alguma informação naquela cabeça de vento.

– Hum… que coisa feia bater nos outros – comentou, balançando a cabeça negativamente.

– E não é só isso… a maioria dos garotos aqui são gays. Entende?

– E o que tem? Você não gosta? – indagou.

– Não, eu também sou – revelou.

– Ah, eu também sou – disse – como você é direto Hanz! Eu nunca conheci rapazes que falassem tão abertamente como você!

– Mas… mas aqui os garotos falam abertamente, não tem porquê esconder. E mais, eles estupram os garotos, entende? Violentam quando você resiste… eles pegam você, trancam numa sala… e fazem… o que quiserem – disse, com certa raiva na voz, lembrando-se de sua experiência naquele colégio.

Maio pareceu levar as coisas mais a sério, ele parou de balançar seu corpo e deu mais atenção à expressão revoltada de Hanz, vendo que não havia nenhuma mentira em suas palavras.

– Como assim? E a direção da escola? Já fizeram algo com você? – indagava, mostrando certo desespero no olhar.

– A direção não liga, aliás, parece incentivar, não tem policiamento também. Por isso eu digo, se puder pedir transferência, peça o quanto antes – sugeriu.

– Mas… Hanz… fizeram algo com você também? Digo… você é um aluno novo como eu!

– Sim, fizeram – disse, num sussurro, abaixando sua cabeça em seguida.

Maio levantou-se de sua cama e sentou-se ao lado de Hanz, passando sua mão por seu rosto, erguendo-o, olhando para os olhos assustados de Hanz com muita pena. Ele inclinou-se para frente e abraçou Hanz com bastante sentimento, dizendo que sentia muito em seu ouvido.

Nesse instante, a porta do quarto abriu, chamando a atenção dos dois garotos para o visitante mal educado e inesperado que nem sequer fez questão de bater na porta. Era ninguém menos que Kim, que olhava a cena a sua frente com ódio.

– Já está se relacionando com o aluno novo? – Kim indagou, olhando para Maio que se afastou de Hanz e começou a encará-lo.

– Não é isso que está pensando, seu sem educação; bata na porta antes – Hanz disse – eu estava comentando sobre as condutas dos alunos nesse colégio.

– Hum! E esse pirralho ficou com medo e te abraçou? – indagou, adentrando no quarto e fechando a porta num estrondo.

– Não foi isso! – Maio disse, elevando seu tom de voz – ele me contou algo muito ruim que aconteceu com ele. Não pense besteira! E bata da próxima vez que entrar no quarto.

Hanz bateu sua mão contra seu rosto, pensando em como Maio podia ser tão bobo a ponto de querer enfrentar Kim no seu primeiro dia naquele colégio.

– Que pirralho inconveniente – Kim resmungou.

– Que velhote sem modos – Maio retrucou.

– Chega vocês dois! – Hanz gritou, levantando-se e ficando no meio daqueles dois garotos, evitando que uma futura briga ocorresse, ou melhor, que Kim espancasse aquele garoto.

– Kim, esse é Maio, e Maio esse é Kim – disse, apresentando um para o outro – e o Kim é assim mesmo, e ele não vai bater na porta mesmo que eu a gente peça educadamente.

– Ah, mas que cara mais xereta. E se a gente quiser privacidade? – Maio resmungou, não gostando daquela situação.

– Privacidade é uma coisa que você não terá aqui – Hanz disse – lembra do que eu falei? Ninguém respeita os outros aqui.

– Ahhhh!! O primeiro garoto que se meter a besta comigo eu vou… jogar ele pela janela – gritou, franzindo o cenho e começando a gesticular seus braços como se estivesse enforcando alguém na sua frente.

Hanz achou seu colega de quarto maluco, quanto a Kim, ele olhava para Maio com raiva. Ele caminhou na direção do aluno novo a fim de lhe dar uma bela surra, mas Hanz postou-se na sua frente, segurando seus ombros, tentando empurrá-lo para trás.

– Ah, vai querer me bater? – Maio indagou, começando a caminhar na direção de Kim.

– “Eu não vou agüentar segurar esses dois…” – pensou, sentindo Maio o puxar para trás e Kim tentar tirá-lo de sua frente.

Num puxão mais agressivo, Maio conseguiu puxar Hanz para trás, deixando o moreno rodar e cair no chão, batendo a cabeça na beirada da cama. Hanz gemeu alto e levou sua mão até a cabeça, sentindo a dor daquele baque.

Maio e Kim pararam e correram até o corpo de Hanz, que começava a se ajoelhar no piso frio, gemendo e falando alguns palavrões. Hanz sentou-se na cama e sentiu a mão de Kim na sua testa, tocando com atenção.

– Você sempre bate essa cabeça dura – Kim comentou.

– Isso porque você está querendo dar uma de durão contra esse coitado. Pare com isso Kim, deixe-o em paz – pediu.

– Coitado? Eu não sou coitado, Hanz – Maio disse, sentando-se ao lado de Hanz e tocando na sua testa também – desculpe, Hanz.

– Tudo bem, Maio, eu acho melhor você ficar quietinho na sua cama. E você Kim. O que você queria aqui?

– Depois eu falo – disse – agora tenho outro assunto.

Kim deixou Hanz de canto e voltou sua atenção para Maio, puxando o garoto pelo braço e o jogando num empurrão para o outro lado do quarto, fazendo Maio bater seu corpo contra a porta de madeira. Hanz levantou correndo e abraçou Kim por trás, tentando acalmá-lo, ele começou a dar alguns beijos rápidos em suas costas.

– Hum… isso é bom, Hanz. Mas eu não quero agora, só depois que eu colocar esse pirralho no lugar – disse, olhando para trás.

O karateca virou-se e tirou os braços de Hanz em volta de sua cintura, pegando o menor e o jogando na cama com cuidado para que Hanz não batesse a cabeça em qualquer outra parte. Ele voltou sua atenção para Maio, que abriu a porta do quarto e saiu no corredor.

– Vai fugir, pirralho? – Kim indagou.

– Não. Só não quero quebrar o quarto com o seu corpo – disse.

Kim saiu no corredor e fechou a porta do quarto, trancando-o com a chave que pegou na fechadura, assim não teria interrupções de Hanz novamente. A porta do quarto começou a balançar com os socos e chutes de Hanz, Kim podia ouvir seus palavrões, mas não ia soltá-lo.

Alguns garotos pararam com o que faziam para observar a cena. O aluno novo estava xingando Kim que estava com uma cara péssima. Aquela situação era inédita, nunca nenhum aluno novato havia xingado Kim daquela forma.

– Kim, o que houve? – a voz de Romeu chamou a atenção de Kim, que nem sequer o olhou.

Maio respirou fundo, pronto para aplicar seus ensinamentos de artes marciais naquele rapaz que julgou ser tão problemático e mal educado. Kim fechou seu punho e foi na direção de Maio, a fim de golpeá-lo no rosto, mas Maio desviou-se do golpe, puxou Kim pelo braço e virou seu corpo, derrubando o veterano no chão com um único golpe.

Todos os alunos que estavam no corredor ficaram abobados com aquela cena. Kim havia sido derrubado facilmente no chão pelo novato? Aquilo só podia ser uma brincadeira. E nem mesmo Kim estava acreditando que estava estatelado no chão. O veterano levantou-se lentamente, olhando para Maio com outros olhos.

– Judô, hum? – Kim riu baixinho – então você tem seus truques.

– Se vier de novo… eu vou deslocar seu ombro – disse, posicionando para se defender do futuro ataque de Maccario

Maccario aproximou-se do garoto lentamente e quando chegou a uma distância mínima, Maio fechou suas mãos na gola da camisa de Kim, começando a puxá-lo para trás, a fim de derrubá-lo novamente, mas Kim era mais pesado e colocava muita força em suas pernas, não permitindo ser levantado.

Os dedos de Kim fecharam-se num soco que desferiu contra o estômago de Maio que gemeu alto. Maio o prendeu com os braços e começou a querer golpeá-lo também, mas quando fez isso, quebrou sua defesa. Kim lhe desceu mais uma seqüência de socos e depois o chutou, fazendo-o cair no chão, continuando a chutá-lo na região das costelas com força, arrastando o garoto pelo chão.

Romeu correu até Maccario, puxando-o pelo braço, afastando-o de Maio antes que ele matasse o garoto de tanta porrada. Com muita dificuldade, Romeu conseguiu fazer a cabeça de Kim que deixou o garoto em paz.

– Isso é para você aprender a fechar a boca – Kim disse, olhando com desprezo para o novato, que sangrava e gemia baixinho, contorcido de dor.

Romeu começou a puxar Kim para fora do corredor, passando pelos alunos que se afastaram, deixando o caminho limpo para Maccario, olhando para veterano como se ele fosse um monstro. Depois eles olharam para Maio que se levantou, batendo as mãos em suas roupas.

– Pode vim de novo se quiser – Maio gritou, passando a mão por sua boca, retirando um filete de sangue que escorria – eu não sou tão fácil de se calar, seu estúpido.

Kim parou de andar e voltou sua atenção para Maio, desta vez nem Romeu segurou, pois sabia que não teria coragem para tanto, Kim voltou seu percurso, com os braços tensos, exibindo seus músculos. Ele avançou em Maio, que estava preparado para seu ataque desta vez, desviando-se e começando a golpear Kim também.

– Eu já lutei com caras melhores que você – Maio disse – não se sinta especial.

– Ah… você vai parar no hospital – Kim vociferou.

– Só se for para te visitar!

A luta foi prolongada por alguns minutos, Kim havia caído duas vezes no chão com as habilidades do judoca. Ambos estavam de pé, mas Maio era o mais machucado, pois havia recebido golpes precisos em pontos vitais para seu funcionamento. E depois de tomar mais um soco na região dos rins, Maio ajoelhou-se no chão, gemendo alto. E esse foi seu fim, Kim fechou sua mão em seus cabelos e lhe golpeou na nuca, deixando-o cair inconsciente.

O lugar ficou silencioso, ninguém falou nada. Apenas ouviam Hanz bater na porta e implorar que alguém a abrisse. Kim respirou fundo e pegou a chave que estava em seu bolso, indo até a porta, abrindo-a em seguida.

Hanz saiu do quarto finalmente, vendo que os rapazes estavam paralisados. Alguns pegaram o celular e ligaram para ambulância, mas os outros estavam estáticos, olhando para o estado de Maio e depois olhando para Kim.

– O que você fez? – Hanz indagou.

– Apliquei um corretivo – disse.

– “Eu ouvi Maio gritar… chamando Kim para a briga… como ele é idiota! Ele… ele está inconsciente… Deuses” – pensou.

Com passos lentos, caminhou até o corpo estirado no chão, vendo os hematomas, tocando na face do novato, vendo que ele gemeu alguma coisa, felizmente estava recuperando a consciência. Maio começou a sentar-se com a ajuda de Hanz.

– Hanz? – Maio indagou, abrindo um de seus olhos.

– Você está bem? – Hanz indagou.

– Esse cara… ele bate… na intenção de matar. Nunca lutei… com alguém assim antes – sussurrou, num tom que apenas Hanz poderia ouvir.

– Não deveria ter provocado tanto – disse.

Maio começou a querer se levantar, tendo a ajuda de Hanz. Kim ficou perplexo, ele não imaginou que Maio ia conseguir levantar depois de tanta pancada que havia lhe dando.

– Eu… estou pronto para te enfrentar de novo, idiota – Maio disse, olhando para Kim.

Os rapazes que estavam no corredor começaram falar desde então, olhando para Maio com indignação. Como ele poderia falar aquilo naquele estado? Ele deveria ser um masoquista.

– Chega! – Hanz disse, dando um tapa na cabeça de Maio – não vai mais ter briga. Ou melhor, espancamento aqui – disse, olhando para Kim, que o observava.

– Isso mesmo, Hanz. Espancamento, pois se eu colocar a mão nele de novo eu vou matá-lo – Kim vociferou.

– Então vem… valentão – Maio disse, fechando seus punhos e olhando para Kim, com a vista turva.

Os azuis cobaltos de Maccario estavam mais frios que nunca, ele passou sua mão por seus cabelos jogando seus fios castanhos avermelhados para trás, tentando acalmar sua respiração ou ia realmente matar aquele fedelho que parecia um zumbi falante.

Dois alunos aproximaram-se timidamente de Hanz, e puxaram Maio para trás, arrastando-o para bem longe de Kim que fez a menção de ir atrás dele, a fim de arrancar aquela língua para fora. No entanto, Hanz o puxou pelo braço, indo até a escada, descendo com Kim.

– Vem, vamos sair daqui – Hanz disse.

Kim deixou-se ser levado, pois ele mesmo admitia que ia perder o controle se colocasse sua mão novamente naquele garoto. Quando chegaram na área externa do colégio, Hanz continuou a puxá-lo, mesmo estando descalço, passando pelo gramado, indo até uma pequena lagoa que ficava numa região mais afastada dos dormitórios.

OoO Por Leona-EBM

 

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