Proibição de série LGBT marca nova lei de censura na China
PEQUIM – Dois rapazes chineses se beijam na boca, diante de uma audiência de milhões de outros adolescentes chineses, e chega ao fim mais um episódio da série “Addiction”, produzida para a internet, sobre a vida e os amores de quatro estudantes homossexuais do ensino médio. Após 12 capítulos, os fãs ansiavam pelo desfecho da série, até serem surpreendidos: a censura da China retirou a produção do ar, sem deixar qualquer vestígio em nenhuma plataforma na internet ou em aplicativos para smartphones.
A medida foi tomada sem que houvesse qualquer explicação oficial para retirar do ar a série, que havia começado a ser exibida no final de janeiro — a produtora de “Addiction”, com sede em Pequim, informou que o drama foi visto mais de dez milhões de vezes no dia seguinte à estreia. Tudo aponta que a manobra foi parte de uma campanha oficial contra o conteúdo “vulgar, moral e danoso” em qualquer meio de comunicação.
“Por que proibiram este drama?”, pergunta um usuário na rede Weibo (o Twitter da China). “Há milhões de motivos por trás da manobra, mas a verdade é que eles têm medo dos gays”, escreveu outro. O fato é que desde o dia 31 de dezembro estão em vigor as “Regulações gerais sobre a produção de conteúdo televisivo”, emitidas pelo Comitê de Produção de Televisão, pela Aliança de Rádio, Cinema e Televisão da China e pela Associação de Indústrias Produtoras de Televisão Dramática, todos órgãos estatais.
Proibidos romances casuais
“Nenhum drama de televisão deverá mostrar comportamentos ou relações sexuais anormais, como incesto, homossexualismo, perversão sexual, ameaça sexual, abuso sexual, violência sexual, etc.”, diz o documento. Também estão proibidos os “romances extraconjugais” e as “aventuras de uma noite”. As regras ainda restringem programas que vão “contra o sentimento nacionalista” ou promovam um “estilo de vida ostentatório”.
Os programas de TV não devem somente ter atores atraentes, mas também demonstrar valores — afirmou o diretor da divisão de TV na Administração de Mídias Estatais, Li Jingsheng. Não só é importante que entretenham, mas que também cumpram função educativa.